Ana Hickmann e o congelamento de óvulos: o poder da escolha na maternidade moderna!
Aos detalhes...

Foto: Div.
"Hoje, vejo que não congelar óvulos foi um erro. Uma pena", declarou recentemente a apresentadora Ana Hickmann, de 44 anos, em entrevista à revista Veja. A confissão da comunicadora, que hoje é casada com o chef Edu Guedes e mãe de Alexandre, de 11 anos, toca em um ponto sensível e cada vez mais relevante na vida reprodutiva das mulheres modernas: o direito de escolher quando e como construir uma família.
O arrependimento de Ana Hickmann não é isolado. Representa o dilema de inúmeras mulheres que, seja por falta de informação, recursos financeiros ou simplesmente por não terem considerado a possibilidade na época certa, se veem diante de limitações biológicas quando decidem ampliar a família.
Aos 44 anos, a apresentadora ainda mantém esperanças de engravidar naturalmente ou com ajuda de tratamento hormonal, mas reconhece que ter congelado óvulos anos atrás teria lhe dado muito mais segurança e opções.
A revolução silenciosa da preservação da fertilidade
O congelamento de óvulos representa uma das maiores revoluções na medicina reprodutiva das últimas décadas. Entre 2020 e 2023, o Brasil testemunhou um aumento impressionante de 96,5% no congelamento de óvulos, chegando a 111.413 procedimentos apenas em 2023, segundo dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio). No total, nesse período, foram congelados 780.024 óvulos e embriões no país.
"Estamos vivendo uma verdadeira revolução na medicina reprodutiva", afirma o Dr. Paulo Gallo, especialista em reprodução assistida da Vida Medicina Reprodutiva, unidade do FertGroup. "Antes, nossas técnicas serviam quase exclusivamente para tratar a infertilidade. Hoje, são ferramentas de planejamento familiar que proporcionam liberdade às mulheres."
A Dra. Carolina Rossoni, especialista em ginecologia e obstetrícia da Fertility, unidade do Fertgroup, reforça essa percepção: "As mulheres estão percebendo que podem tomar as rédeas de suas vidas reprodutivas. O congelamento de óvulos não é apenas uma alternativa médica, mas uma declaração de autonomia."
Como funciona o procedimento
O congelamento de óvulos é um processo relativamente simples, embora precise ser feito com precisão. Inicialmente, a mulher recebe medicamentos para estimular seus ovários a produzirem múltiplos óvulos ao mesmo tempo, não impactando na fertilidade da mulher – diferente do ciclo natural, que geralmente libera apenas um óvulo por mês.
"Quando os óvulos atingem a maturação ideal, realizamos uma punção ovariana com a paciente sedada. É um procedimento rápido e minimamente invasivo", explica a Dra. Carolina. "Os óvulos são então selecionados, congelados em nitrogênio líquido a 196 graus negativos, e ficam à disposição da mulher para quando – e se – ela decidir usá-los."
O momento ideal para o congelamento é antes dos 35 anos, quando a qualidade dos óvulos é melhor. "Nosso conselho é claro: quanto mais cedo, maior a chance de sucesso futuro", destaca o Dr. Paulo Gallo. "Uma mulher que congela seus óvulos aos 30 anos tem óvulos com qualidade biológica de 30 anos, mesmo que só os utilize dez anos depois."
Mudança de comportamento
Os dados do IBGE confirmam o que os especialistas já observavam nos consultórios: as brasileiras estão engravidando mais tarde. Em apenas uma década, houve um aumento de 63% nas gestações na faixa dos 35 aos 39 anos, enquanto os nascimentos entre mães adolescentes caíram 23%.
Os números traduzem uma nova postura. "Muitas mulheres chegam aos 30 anos sem saber se querem se tornar mães nessa fase da vida ou, as que têm certezas sobre o desejo da maternidade não estão ainda prontas naquele momento. A segurança de ter congelado os óvulos as deixa mais tranquilas sobre o futuro, uma ‘poupança’ que dá a segurança para uma tomada de decisão sem a pressão do relógio biológico”, diz o Dr. Paulo Gallo.
"A preservação da fertilidade se tornou uma consulta fundamental no check-up da mulher moderna. Recomendamos que esse acompanhamento comece antes dos 30 anos, mesmo que a maternidade seja um plano para o futuro distante", complementa.
Aliada ao maior conhecimento e empoderamento feminino, a crescente acessibilidade às alternativas de reprodução assistida favorecem a oportunidade ampliada de escolha pelo momento de concretizar o desejo da maternidade. O mercado de reprodução humana movimenta aproximadamente R$ 2,7 bilhões no Brasil, com taxa de crescimento anual de 5%. Com a expansão da demanda, novas clínicas surgem e algumas buscam democratizar o acesso.
"Percebemos que muitas mulheres deixavam de fazer o procedimento por questões financeiras. Hoje já existem opções mais acessíveis e planos de pagamento que facilitam o acesso à preservação da fertilidade", comenta a Dra. Carolina Rossoni.
Sem garantias, mas com possibilidades
Os especialistas fazem questão de alertar: o congelamento de óvulos não é garantia de gravidez futura. Mesmo para mulheres na faixa ideal de 30 anos, a chance de gestação após o descongelamento é de cerca de 60% por embrião transferido. Isso significa que, ao congelar óvulos em idade jovem, a paciente aumenta suas possibilidades de formar vários embriões e, consequentemente, acumula mais chances de sucesso. Se, por exemplo, forem obtidos quatro embriões, a chance de alcançar a gravidez cumulativa — ou seja, após a transferência de todos os embriões disponíveis — ultrapassa 90%. Já a taxa mundial de sucesso dos processos de fertilização in vitro não chega a 35% por embrião transferido.
"O que oferecemos não é uma certeza, mas uma possibilidade que não existiria de outra forma", pondera o Dr. Paulo Gallo. "E mais importante que a taxa de sucesso técnico é o poder de escolha que proporcionamos às mulheres", finaliza.