Brasileiro que atuava como voluntário na guerra da Ucrânia morre horas depois de enviar áudio à esposa: "Daqui a uns dias estarei de volta"
Bruno lutava na Ucrânia desde maio, já havia se ferido outra vez e morreu no dia em que retornou ao front

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Um brasileiro, de 29 anos, morreu em uma batalha na linha de frente da guerra da Ucrânia, na segunda-feira (1º). Bruno de Paula Carvalho Fernandes, era morador de Governador Valadares, em Minas Gerais, e atuava como voluntário no conflito desde o mês de maio.
Horas antes do ataque, ele enviou um áudio à esposa, Cecília Fernandes, dizendo estar em paz e confiante de que voltaria para casa. [Escute no final da matéria]
“Não é uma despedida, jamais. É só uma mensagem de que daqui a uns dias estarei de volta. Deus é conosco”, disse Bruno em uma das últimas gravações.
Reprodução/Arquivo Pessoal
Segundo Cecília, a notícia da morte de Bruno foi transmitida por uma integrante da equipe ucraniana com quem ele lutava. Ele estava acompanhado de outros três combatentes: dois ucranianos e outro brasileiro. Apenas o brasileiro sobreviveu, mas está hospitalizado em estado grave e sem condições de fala.
Recrutamento em redes sociais
A família afirma que Bruno foi atraído para a guerra por meio de grupos de recrutamento de brasileiros em redes sociais. Nos anúncios, havia promessa de salários que chegavam a R$ 30 mil por mês, além de hospedagem, transporte e alimentação custeados pelo governo ucraniano.
Para viabilizar a viagem, ele chegou a vender o carro e, já em território ucraniano, foi registrado oficialmente como soldado, com direito a uma carteira militar.
Reprodução/Arquivo Pessoal
A decisão de viajar para a Ucrânia foi mantida em sigilo e nem familiares próximos sabiam da intenção dele. Ele embarcou em fevereiro deste ano e chegou a comemorar o aniversário de 29 anos já em solo ucraniano, no dia 30 de junho.
Antes de ir para a guerra, trabalhava como técnico de enfermagem em hospitais de Mantena e Governador Valadares, tendo atuado na linha de frente contra a Covid-19.
Antes de morrer, Bruno já havia sido ferido. Pouco depois de chegar ao país, foi atingido por vários disparos, inclusive na cabeça, e passou um período internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Apesar de não estar totalmente recuperado, retornou ao front. Ele foi morto no mesmo dia em que voltou a combater. “Não podia recusar, estava sendo obrigado a ir”, contou a esposa.
Bruno deixou dois filhos: uma menina de 6 anos, criada por ele desde a gestação, e um menino de 5 anos, seu filho biológico.
Corpo em área de difícil acesso
Um colega que também atuava na linha de frente contou, em áudios enviados à esposa de Bruno, que o corpo ficou em uma região de difícil acesso, o que atrapalha o resgate.
“Ele foi atingido na cabeça e nas pernas, sangrou muito e morreu sangrando”, disse.
A família de Bruno aguarda orientações do Itamaraty para o traslado do corpo. O órgão já havia emitido alerta consular desaconselhando a participação de brasileiros em atividades militares no exterior.
Escute o áudio: