BRB aumenta empréstimos para própria diretoria em seis vezes, e PT pedirá investigação
O banco disse à reportagem que não pode oferecer condições mais vantajosas a seus diretores do que a clientes

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Uma expansão repentina no volume de recursos emprestados pelo BRB para sua própria diretoria tem levantado questionamentos de opositores à gestão do governador Ibaneis Rocha (MDB).
O banco, controlado pelo governo do Distrito Federal, multiplicou por seis o volume de recursos emprestados para seus diretores no primeiro semestre, subindo de R$ 36,3 milhões em dezembro de 2024 para R$ 226 milhões em junho deste ano.
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) afirmou à Folha que deve entrar nesta semana com uma representação nos órgãos de controle pedindo para que o tema seja investigado. O objetivo é descobrir se houve má gestão na concessão dos financiamentos.
O banco disse à reportagem que não pode oferecer condições mais vantajosas a seus diretores do que a clientes.
"É necessário fazer uma auditoria e uma investigação para ver as responsabilidades desses processos. O BRB tem bons ativos e tem todas as condições de superar [os problemas atuais em decorrência dos negócios com o Banco Master], mas houve problemas na gestão", afirmou.
A deputada Kokay se reuniu na última terça-feira (2) com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, para tratar do assunto. Ela estava acompanhada dos deputados distritais Chico Vigilante e Gabriel Magno, ambos do PT.
O grupo de altos executivos incluídos na diretoria é formado pelo conselho de administração, diretoria executiva, conselho fiscal, comitê de auditoria do banco e subsidiárias, o que abarca cerca de 30 pessoas. Empréstimos para parentes até o segundo grau e empresas também são incluídos no número.
O crescimento pode se dar tanto por novos empréstimos quanto pela entrada de novos executivos na alta administração.
O aumento de mais de 500% destoa do comportamento observado em outros bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal
No BB, por exemplo, as operações de crédito para o pessoal-chave passaram de R$ 9 milhões para R$ 5,2 milhões no mesmo período. Já na Caixa a evolução foi de R$ 37 milhões para R$ 33,6 milhões. Os dois bancos estão entre os maiores do país, enquanto o BRB, é uma instituição de médio porte.
"O Banco do Brasil é 30 vezes maior que o BRB e tem muito menos empréstimos para o pessoal chave", apontou Kokay.
O crescimento dos empréstimos se deu enquanto o banco estava sob o comando de Paulo Henrique Costa. Ele tomou posse como presidente da instituição financeira em 2019. Em fevereiro deste ano, foi reconduzido, mas o BC vetou seu nome, mantendo a razão em sigilo. Costa só foi aprovado depois de um recurso.
Em novembro, Costa foi afastado do BRB quando a Operação Compliance Zero foi deflagrada no último dia 18, culminando na liquidação do Banco Master e na prisão de Daniel Vorcaro, dono da instituição. O BRB tentou comprar o Master neste ano, mas a transação foi barrada pelo Banco Central em setembro. Costa foi demitido posteriormente pelo governador do Distrito Federal.
Procurado, Costa não quis comentar o assunto.
Diretores e funcionários do BRB e do Master são alvo das investigações da PF, que apura supostas irregularidades na negociação de carteiras de crédito com indícios de fraude.
Procurado, o BRB afirmou que não comenta casos específicos por causa do sigilo bancário. A instituição não quis responder sobre a comparação com Caixa e BB.
"Todas as operações seguem a política de transações com partes relacionadas do BRB, disponível em nossa página de relações com investidores. O monitoramento é reportado periodicamente ao comitê de partes relacionadas, ao comitê de auditoria estatutária e à auditoria interna", disse. "É vedada a celebração de transações em condições distintas das praticadas no mercado ou que possam prejudicar os interesses da instituição", acrescentou.


