Câmeras em uniformes de PMs podem ajudar a diminuir violência na Bahia, mas não eliminá-la
Estatísticas comprovam que há uma violência sistemática por parte da polícia no Estado

Foto: Reprodução/TV Integração
A violência policial é um dos maiores problemas da segurança pública na Bahia, especialmente quando se trata da população negra e pobre. Para além dos noticiários que mostram cotidianamente a morte de negros durante operações policiais, as estatísticas comprovam que há uma violência sistemática por parte da polícia no Estado.
O mais recente levantamento da Rede de Observatórios da Segurança, divulgado no ano passado, mostra, por exemplo, que uma pessoa negra é morta pela polícia a cada 24 horas na Bahia. Diante dessa realidade genocida, o governo estadual iniciou o processo de licitação para compra de câmeras corporais para uso de policiais em serviço.
De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia (SSP-BA), a aquisição da tecnologia visa dar mais transparência às ações policiais. Os aparelhos, chamados de bodycams, ficarão acoplados nas fardas para filmar as operações nas ruas. Apesar de toda polêmica gerada em torno do assunto, o historiador Dudu Ribeiro, co-fundador da Iniciativa Negra, afirma que a instalação dos equipamentos é uma ação benéfica para toda a sociedade.
“Essa é uma medida importante para obtermos um maior controle da atividade policial, sobretudo evitar processos de violência. Outra coisa importante é preservar a cadeia de provas, que serão produzidas a partir das câmeras. Isso, sem dúvidas, ajuda no processo criminal. Além disso, a instalação de câmeras nos uniformes pode servir também para a proteção dos próprios agentes da segurança pública no estado”, disse Dudu, em entrevista ao Farol da Bahia.
“Muito tem se falado que a câmera é contra os policiais, quando na verdade esses equipamentos são a favor da sociedade. Se o estado destina o monopólio do uso da força para esses agentes, é dever do estado e importante para a sociedade que esse uso da força seja controlado”, completou.
Dudu alertou, no entanto, que somente a instalação das câmeras não será suficiente para combater a violência policial e o genocídio da população negra no estado. Em um país racista, onde a maioria das vítimas de violência policial são jovens negros moradores de periferias, é preciso pensar em novos modelos de segurança pública.
“É importante que a gente também compreenda que só as câmeras não são suficientes para eliminar a violência. Esses equipamentos de tecnologia vão nos permitir combater episódios de violência, mas a gente precisa mudar uma cultura institucional baseada na violência racial”, afirmou o historiador.
"Precisamos pensar em um novo modelo de segurança pública, principalmente no que diz respeito à atuação das polícias. O modelo atual de segurança pública privilegia o confronto e a ocupação, sobretudo de territórios negros”, continuou.
Para Dudu, uma das maiores problemáticas acerca da segurança pública na Bahia e no Brasil é a guerra contra o tráfico e a lógica "infundada" de proibição. “Na verdade, não é uma guerra contra as substâncias, e sim contra as pessoas. E não são todas as pessoas, são determinadas pessoas e territórios que são alvos dessa guerra. Isso tem consumido o recurso do estado e superlotando as prisões”, explicou o co-fundador da Iniciativa Negra.
“O massacre que acontece dentro do cárcere resulta na violência extremada fora da prisão. Essa lógica de proibição não reduziu o consumo, não protegeu a saúde das pessoas, não impediu o uso de drogas, mas produziu um quadro de violência estrutural racial gravíssimo”, concluiu.
..jpg)
Foto: Reprodução/Redes Sociais/Dudu Ribeiro


