Cientista aponta que crise hídrica poderia ser ainda pior sem pandemia
Até então, o governo federal descarta a chance de apagões e racionamento

Foto: Reprodução/Agência Brasil
O Brasil enfrenta uma situação delicada em relação ao consumo de energia e corre o risco de reeditar programas nacionais de racionamento pouco mais de 20 anos depois da crise hídrica de 2001.
Até então, o governo federal descarta a chance de apagões e de racionamento. As últimas medidas tomadas, porém, já sinalizado preparo para possíveis resoluções drásticas, como criação de comitê de crise com poderes excepcionais e de programas para diminuir o consumo das indústrias nos horários de pico.
Segundo o pesquisador sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Brandão, a situação estaria ainda pior se não tivesse pandemia.
"De 2015 a 2020, a capacidade instalada, ou seja a quantidade MWs (Megawatts) instalados no parque industrial brasileiro cresceu 20% e o consumo cresceu pouco mais de 3%", diz. "Não houvesse essa crise econômica que culminou com a crise do covid ano passado, uma hidrologia como a que aconteceu geraria um racionamento do porte de 2001 ou maior, mesmo o sistema se expandindo adequadamente", contou ao portal R7.
Por enquanto, ao contrário do governo, os especialistas divergem sobre a possibilidade de racionamento, mas enxergam riscos de apagões pontuais durante o horário de pico no segundo semestre de 2021. O Brasil ainda depende da energia hidrelétrica, então o volume de chuvas deve ditar os rumos da economia neste período.
"As previsões atuais não são positivas no sentido de que o regime de chuvas vai ser mais intenso no ano que vem. Estamos frente a uma crise que deve ser muito longa", prevê o professor do IEA Instituto de Energia e Ambiente da USP (Universidade de São Paulo), Célio Bermann.
"Jogar a responsabilidade para a população, penalizando com o aumento das tarifas, foi também utilizada no passado recente. No consumo domiciliar o desperdício só existe nas moradias de renda alta, pois a população pobre não desperdiça energia elétrica já que o Brasil tem uma tarifa das mais caras no mundo", critica.