Cientistas desenvolvem cápsulas que imitam os benefícios da atividade física
Pílulas induzem a produção de substâncias geradas durante a prática e pode apresentar os mesmos benefícios

Foto: Pietro Jeng/ Pexels
Pesquisadores de diversos laboratórios do mundo descobriram, nos últimos cinco anos, várias substâncias benéficas liberadas durante ou após a prática do exercício físico, que vão desde um hormônio que queima a flacidez até uma proteína que aumenta a memória. Agora, eles estudam para encapsular esses compostos. Essa pílulas, a depender da substância, causaria impacto positivo no ganho muscular, na queima de gordura ou no aumento da capacidade pulmonar.
"Essa área está caminhando depressa. O exercício produz estímulos para a produção de determinados compostos que até muito pouco tempo não eram conhecidos", diz o educador físico Gustavo Cardozo, diretor técnico-científico do Centro de Medicina do Exercício DECORDIS (Brasil).
Os mais recentes avanços nesta área foram feitos por pesquisadores americanos e australianos. No primeiro deles, uma equipe da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriu a clusterina: composto anti-inflamatório é liberado em maiores quantidades quando nos exercitamos e ajuda a deixar a mente - em especial, a memória - mais afiada. Durante a realização dos testes, os nnimais que se exercitaram apresentaram níveis 20% mais altos de clusterina no sangue do que os sedentários. O estudo foi publicado na prestigiosa revista científica Nature. Já em outros experimentos, a clusterina foi capaz de reduzir a inflamação cerebral.
Em outro estudo, publicado desta vez na revista Clinical and Experimental Ophthalmology, pesquisadores da Universidade Nacional Australiana conseguiram identificar mensageiros químicos produzidos durante o exercício. Eles contribuem para a redução do risco de degeneração macular relacionada à idade, a causa mais comum de perda severa de visão em adultos mais velhos. Os compostos químicos incluem as proteínas IL-6, envolvida na inflamação, e BDNF, associado ao desenvolvimento e sobrevivência das células cerebrais. Com essa descoberta, pesquisadores esperam produzir um medicamento que proporcione esses benefícios naturais do exercício para pessoas muito idosas ou frágeis.
Entretanto, outras equipes de pesquisadores trabalham no desenvolvimento de cápsulas suplementares que fornecem outros benefícios do exercício, como perda de peso e ganho de massa muscular. Um exemplo é a descoberta do hormônio chamado irisina, que é liberado pelos músculos durante o exercício e pode ajudar na perda de peso, feita pelos cientistas do Dana-Farber Cancer Institute, em Boston.
Em um estudo feito com camundongos obesos, as injeções da irisina converteram a gordura branca - forma de armazenamento de energia responsável pela maior parte da gordura em nossos corpos - em gordura marrom, que queima calorias em vez de armazená-las. Outras pesquisas da mesma equipe associaram a irisina ao fortalecimento dos ossos, outro benefício do exercício.
No ano de 2020, pesquisadores da Universidade de Michigan também descobriram uma proteína chamada sestrina, que é gerada naturalmente pelos músculos quando eles são exigido e está por trás de efeitos como ganho muscular, queima de gordura e aumento da capacidade pulmonar. Inspirados nesses benefícios, uma equipe da Universidade de Southampton desenvolveu um composto químico capaz de desencadear a perda de peso e reduzir os níveis de açúcar no sangue.
Os pesquisadores da Universidade do Estado da Luisiana têm a expectativa que as proteínas mensageiras da contração muscular possam ser entregues, futuramente, na forma de uma pílula.
"Em essência, seremos capazes de ‘exercitar’ as pessoas sem que elas tenham que fazer o trabalho. Isso não seria revolucionário?”, disse Christopher Axelrod, diretor do Laboratório de Fisiologia Integrativa e Medicina Molecular da Universidade do Estado da Luisiana, em comunicado.
A maioria desses estudos ainda se encontram em fase laboratorial, em células ou animais. Não há certeza se os mesmos resultados serão replicados em humanos, nem quando uma dessas pílulas estará disponível no mercado. O fato é que não se pode negar que esse campo abre uma fascinante avenida de possibilidades.
Os pesquisadores seguem esperançosos, principalmente quanto ao potencial dessas substâncias para idosos frágeis, pessoas que incapacitadas fisicamente e para ajudar as pessoas a começarem uma rotina de atividade física.