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Com recursos públicos, União Brasil contratou contador do escritório de advocacia de Rueda por R$ 730 mil

Passagens aéreas para que Edjackson se deslocasse entre Brasília e Recife também foram pagas com recursos públicos

Por Da Redação, FolhaPress
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Com recursos públicos, União Brasil contratou contador do escritório de advocacia de Rueda por R$ 730 mil

Foto: Divulgação

O União Brasil pagou aproximadamente R$ 730 mil em recursos públicos ao contador do escritório de advocacia de Antônio Rueda, presidente do partido, para que cuidasse também das contas da sigla.

José Edjackson da Silva presta serviços para o Rueda & Rueda Advogados, escritório do dirigente e de sua irmã Maria Emilia "Mila" Rueda, tesoureira do partido, desde janeiro de 2018, segundo informações que ele mesmo publicou na plataforma LinkedIn.

Por indicação de Rueda, ele começou a trabalhar para o União Brasil quatro anos depois, em 2022.

Os relatórios periódicos de prestação de contas apresentados pelo contador diziam que ele estava cuidando da implantação e adequação de sistema de ERP (Enterprise Resource Planning, planejamento de recursos empresariais) e também da gestão contábil, financeira e organizacional do União Brasil, entre outras tarefas.

Em 2022, ele recebeu R$ 175 mil do partido pelo trabalho. No ano seguinte, R$ 242 mil, e em 2024, R$ 312 mil.

Em nota, o partido diz que "realiza todas as suas contratações dentro das normas legais e partidárias" e que Edjackson atua "de forma independente, com contratos distintos para cada função, sem sobreposição ou conflito de interesses". No entanto, a legenda não enviou documentos que comprovem os pagamentos separados.

Quando o União Brasil surgiu, em outubro de 2021, Rueda foi escolhido para ser vice-presidente do partido, abaixo somente de Luciano Bivar.

Padrinho de Rueda no direito e na política, Bivar rompeu relações com ele após disputas pelo comando da sigla, que surgiu da fusão de PSL e DEM. A briga envolveu acusações de traição, de ameaças de morte, de incêndio criminoso e de corrupção.

As passagens aéreas para que Edjackson se deslocasse entre Brasília e Recife, onde ele morava até o ano passado e onde fica a sede do escritório de Rueda, também foram pagas com recursos públicos.

A prestação de contas de 2024 da Fundação Indigo, vinculada ao União Brasil e na qual Edjackson foi colocado como diretor financeiro, mostra R$ 37,5 mil em passagens para que o contador fizesse o percurso entre as capitais pernambucana e federal de janeiro a novembro do ano passado.

O partido afirma que as passagens "referem-se exclusivamente a deslocamentos no âmbito da própria fundação, que tem uma estrutura fixa em Recife, e estão devidamente registradas". A sigla diz ainda que o cargo de diretor financeiro da fundação não é remunerado.

Edjackson é um dos aliados mais próximos do presidente do União Brasil. Em outubro do ano passado, quando o União Brasil realizou intervenção no diretório pernambucano da legenda, Rueda decidiu que o contador seria presidente da comissão provisória.

A reportagem telefonou para a sede do Rueda & Rueda Advogados em Recife, do qual recebeu a informação de que Edjackson hoje atua no escritório de Brasília, que, por sua vez, informou que o contador costuma trabalhar presencialmente no local às sextas-feiras.

Na sede nacional do União Brasil, a única informação passada foi a de que qualquer contato direto com Edjackson deve ser precedido pelo envio de um email.

Rueda hoje está sob pressão. Reportagem publicada pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta) e pelo UOL mostrou que o piloto de avião Mauro Caputti Mattosinho disse à Polícia Federal que o presidente do União Brasil é o verdadeiro dono de ao menos quatro aeronaves operadas por uma empresa aérea supostamente ligada a Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, e Mohamad Hussein Mourad, o Primo, investigados por suspeita de lavar dinheiro para o PCC.

Em reação, o partido antecipou a saída de seus aliados do governo Lula (PT), prevista originalmente para o final de setembro. O União Brasil vê influência do Palácio do Planalto na reportagem, uma vez que um de seus autores tem também um programa na TV Brasil.

Rueda e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, são as duas principais lideranças da recém-formada federação União Progressista, que conta com 109 deputados e 15 senadores.
Em sua nota, o União Brasil também diz que atua com transparência e presta contas à Justiça Eleitoral e que a escolha de prestadores segue o princípio da economicidade.

"O partido reduziu suas despesas em 61% de 2022 para 2024. A reestruturação financeira de 2022 e a internalização da contabilidade em 2025 geraram economias superiores a R$ 1,2 milhão anuais. Essas medidas demonstram gestão responsável dos recursos, com foco em legalidade, eficiência e transparência", afirma a legenda, por meio de sua assessoria de comunicação.

Carlos Ari Sundfeld, professor da FGV e especialista em direito administrativo, diz à reportagem que um caso com essas características faria com que ele prestasse mais atenção às contas do partido se fosse a Justiça Eleitoral. Ele analisou a situação sem saber a identidade da legenda e dos envolvidos.

"Quando você tem uma mesma pessoa trabalhando em vários lugares, sendo que um deles é do interesse pessoal de um dirigente partidário, o risco é que o partido esteja pagando para alguém trabalhar também no escritório particular", afirma.

"É um problema que tem ocorrido com deputados. Eles contratam alguém que eventualmente faz alguma coisa no gabinete, mas trabalha pelo menos parte do tempo na casa ou no sítio do parlamentar. Não sei se esse problema existe nesse caso. Para saber, é necessário ver se as remunerações oferecidas para cada trabalho, no escritório, no partido e na fundação, são adequadas para o mercado", completa.

Sundfeld diz que relações do tipo podem servir para esconder ações de grupos para manipulação de recursos partidários.

"Se eu fosse membro do partido em questão, sugeriria uma mudança, já que é um tipo de coisa perigosa, que levanta preocupação. A situação [contratação da mesma pessoa para todas as funções] não tem ilegalidade por si só, mas é inconveniente para garantir o melhor tratamento dos registros contábeis. Um princípio básico de governança é procurar pessoas com o máximo de independência, para garantir que trabalhem com liberdade", conclui.

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