Com tarifaço de Trump, produtos exportados pelo Brasil podem ficar mais caros nos EUA, aponta pesquisa
Café, carne e produção de carros devem apresentar impacto ao consumidor final devido ao tarifaço de 50%

Foto: Reprodução/Marcello Casal jr/Agência Brasil | Reprodução/AbraFrutas
Com a vigência da tarifa de 50% do presidente estadunidense, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, desde a quarta-feira (6), os 3,8 mil itens de mercadorias brasileiras taxadas podem ter o envio reduzido para os Estados Unidos (EUA), ou até mesmo deixarem de ser exportados para solo estadunidense.
Caso os produtos deixem de ser enviados aos EUA, ou tenham o envio reduzido, a nação necessitará aumentar a produção interna, buscar mercados substitutos, ou até mesmo reduzir a oferta interna dos produtos.
No cenário onde a redução da demanda torna-se a opção mais viável, a menor oferta pode afetar o consumidor final com o aumento de preços. Ainda nos casos onde os produtos passem a ser importados mesmo sobre as tarifações de 50%, o consumidor final ainda poderá sentir uma diferença significativa nos preços, ocasionados pela taxa imposta por Trump nas negociações.
O The Budget Lab, centro de pesquisa da Universidade de Yale, publicou uma análise, no dia 28 de julho, onde previa um aumento na inflação americana de 1,8% no curto prazo, devido às tarifas anunciadas até aquela data. O valor equivale à perda de US$ 2.400, cerca de R$ 13,4 mil, por domicílio em 2025.
A BBC News Brasil divulgou uma lista com sete produtos que devem ficar mais caros para os cidadãos estadunidenses diante das medidas de Trump contra o Brasil. Confira:
Café
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo, e o Brasil, o maior fornecedor, que representa um terço de tudo o que é importado pelo governo estadunidense.
A Colômbia, segundo maior vendedor de café para os EUA, está sujeita a uma tarifa bem mais baixa que a do Brasil, cerca de 10%, mas não deve ser suficiente para suprir as demandas dos EUA, pois é responsável por apenas 8% da produção global do produto, enquanto o Brasil concentra 37% de todo o café cultivado no mundo.
O café brasileiro foi destacado em uma análise recente do centro de pesquisa sobre políticas fiscais Tax Foundation que argumentava que as tarifas impostas por Trump levariam ao aumento de preços de alimentos para os americanos.
Manga e goiaba
Dados do Observatório de Complexidade Econômica, destacam o Brasil como o quarto maior fornecedor de mangas e goiabas para os EUA, tendo enviado cerca de US$ 56 milhões desses produtos ao país em 2024.
Embora os EUA cultivem mangas e goiabas voltados ao consumo interno, a quantidade produzida não é suficiente para suprir as demandas, o que torna a importação necessária.
Produtores brasileiros de manga afirmam que a tarifa de 50% inviabiliza as exportações e já relatam cancelamentos de pedidos. Caso os EUA não consiga suprir a demanda através de demais exportadores ou aumento da produção interna, os produtos podem ficar mais caros.
Carne
O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e responde por 23% das importações americanas do produto, segundo cálculo da Genial Investimentos. A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) informou que as tarifas de Trump sobre as exportações poderia inviabilizar as vendas ao mercado estadunidense.
Embora os EUA também sejam grandes produtores de carne, a equipe do The Budget Lab estima um aumento de cerca de 1,1% nos preços da carne bovina nos meses imediatamente seguintes à vigência do tarifaço.
O aumento no consumo dos estadunidenses, inclusive, já foi responsável pelo aumento no preço do produto neste ano, antes mesmo do anúncio dos tarifaçõs.
Açúcar orgânico
Em relação ao açúcar orgânico, a produção dos EUA é extremamente precária, o que obriga o estado a suprir praticamente toda a demanda com importações. O Brasil é responsável por 49% do produto que entrou no país entre 2023 e 2024, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
Devido à necessidade do açúcar orgânico brasileiro, produtos como iogurtes, sorvetes e achocolatados a kombucha e barras de cereal poderiam sofrer aumentos de preços.
Chocolate
Embora os EUA possuam produção limitada ao Havaí e Porto Rico, o cultivo de cacau não é suficiente para suprir as demandas internas, inclusive para fabricação do chocolate.
O Brasil, é um importante fornecedor de manteiga de cacau para os EUA, uma das principais matérias-primas do chocolate. Dados do Observatório da Complexidade Econômica, mostram que o Brasil enviou o equivalente a US$ 61,4 milhões do produto aos EUA.
O preço do produto, inclusive, registra aumento no mundo inteiro, devido especialmente ao impacto de condições climáticas adversas nas principais regiões produtoras de cacau, como o oeste da África, e a pragas como o cacao swollen shoot virus (CSSV).
Carros
Devido ao aumento de 39,4% nos preços de metais nos meses seguintes ao tarifaço e 17,9% no longo prazo, a produção no setor automotivo pode ser potencialmente afetada.
O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço aos EUA, e é o maior exportador de nióbio, muito usado nas ligas de aço que vão no chassi e na barra de proteção aos passageiros nas portas.
Uma discussão sobre o interesse dos EUA sobre os metais críticos brasileiros, inclusive, tornou-se um elemento estratégico do governo para negociações com o território estadunidense.
Encarecendo o preço das importações, Trump espera revitalizar a indústria siderúrgica americana, uma de suas promessas de campanha alimentadas pelo slogan Make America Great Again ("faça a América grande novamente", em tradução literal).