Israel aprova plano de ocupação total da Faixa de Gaza; exército e comunidade internacional condenam ofensiva
Medida deve ampliar crise humanitária em Gaza, que sofre com escassez de alimentos, água e remédios; operação terá início pela Cidade de Gaza

Foto: Alan Santos/PR
O gabinete de segurança e assuntos políticos de Israel aprovou, nesta sexta-feira (8), o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de ocupar totalmente a Faixa de Gaza.
Segundo comunicado divulgado pelo gabinete, a medida foi aceita porque "a maioria absoluta dos ministros do gabinete acreditava que o plano alternativo apresentado não alcançaria a derrota do Hamas nem o retorno dos reféns".
A operação começará pela Cidade de Gaza, que fica na região central do território palestino e abriga cerca de 1 milhão de pessoas. O Hamas chamou a decisão de "crime de guerra".
Segundo a mídia israelense, a nova investida terá duração prevista de quatro a cinco meses e terá como foco conquistar "novas e vastas" áreas da Cidade de Gaza, com ordens de evacuação à população local e operações militares com tanques de guerra.
A decisão ocorre após a divulgação de vídeos de reféns israelenses em estado esquelético, o que enfureceu o governo israelense. Um dos reféns afirmou em vídeo "estar à beira da morte", e outro apareceu cavando sua própria cova.
O gabinete também aprovou cinco princípios para o fim da guerra:
• Desarmamento do Hamas.
• Retorno de todos os reféns sequestrados — tanto vivos quanto mortos.
• Desmilitarização da Faixa de Gaza.
• Controle de segurança israelense sobre a Faixa de Gaza.
• Estabelecimento de um governo civil alternativo que não seja nem o Hamas, nem a Autoridade Palestina.
Os planos de Netanyahu foram confirmados por ele na quinta-feira (7), em entrevista à TV americana "Fox News". Ele disse não ter a intenção de anexar o território, e sim estabelecer um "perímetro de segurança".
Comunidade internacional condena nova ofensiva
A expansão do conflito gerou críticas da comunidade internacional, além de protestos dentro de Israel e oposição do Exército ao plano. Famílias de reféns e outros israelenses protestaram perto da sede do governo contra a nova medida e pediram o retorno imediato dos reféns que ainda estão sob poder do Hamas. Na capital Tel Aviv, protestos foram dispersados pela polícia com balas de borracha e bombas de efeito moral.
O comandante das Forças Armadas, Eyal Zamir, disse se opor ao plano por representar um risco às vidas dos reféns israelenses em poder do Hamas. Segundo Zamir, as tropas estão exaustas e há o perigo delas ficarem "presas" em Gaza com a nova operação. A discordância de opiniões gerou uma briga entre Netanyahu e Zamir, segundo a mídia israelense.
O chefe de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, afirmou que o novo plano de Israel causará mais mortes e sofrimento e precisa ser "imediatamente interrompido".
O governo do Reino Unido chamou a expansão da ofensiva israelense de "errada" e pediu para Israel reconsiderar imediatamente a decisão. A Dinamarca também pediu a "imediata reversão" da diretriz, e a Alemanha desautorizou quaisquer exportações de equipamento militares a Israel até novo aviso. Outros países que repudiaram a medida incluem a China, Turquia, Jordânia e Países Baixos.
Crise humanitária
A nova investida tem o potencial de agravar ainda mais a crise humanitária em Gaza, onde palestinos enfrentam fome generalizada, com escassez de comida, água e remédios, com entrega de alimentos "a conta-gotas", segundo a comunidade internacional.
Mais de 61 mil pessoas morreram no território desde o início da guerra entre Israel e Hamas, iniciada após ataque terrorista no sul de Israel, que matou mais de 1.200 israelenses e mais de 250 foram levados como reféns.
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