Como as famílias vão lidar com o luto das perdas pela Covid-19 neste Natal

Psicóloga dá dicas de como enfrentar a dor neste contexto de celebração familiar

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Como as famílias vão lidar com o luto das perdas pela Covid-19 neste Natal

Foto: Reprodução / UOL

Às vésperas do Natal de um ano atípico marcado pela pandemia da Covid-19 em todo o mundo, famílias terão que enfrentar o luto pela perda de entes queridos, além da distância dos demais parentes.

Uma festa tradicionalmente familiar, o Natal de 2020 terá um clima diferente para milhares de pessoas. A covid-19 já matou cerca de 190 mil brasileiros. Diante da dor, como realizar as ceias natalinas?

A psicóloga sistêmica familiar, Renata Mattos, afirma que todas essas datas comemorativas, principalmente as que reúnem famílias, são datas que fazem recordar de pessoas que são importantes, que não estão mais presentes no mundo físico. 

“Diante deste ano, que é extremamente atípico, indescritível, essas datas passam a ter um peso maior. Passam a nos mobilizar mais. Foi um ano difícil de viver, de uma forma geral, por conta de todas as adversidades, principalmente por conta da ausência. Vivemos o isolamento de ver pessoas que a gente gosta, que amamos. Nunca imaginamos que iríamos chegar no natal, uma data extremamente comemorativa, de poder estar junto e, não vamos poder nos reunir. Isso causa estranhamento, tristeza, angústia, estamos descobrindo alguns sentimentos e sensações que não eram comuns de serem sentidos. Estamos tendo que lidar com isso”, avaliou.

Além disso, Renata Mattos fala que um outro fator impacta ainda mais com relação a essas perdas. “Muitas famílias não tiveram a oportunidade de se despedir, não da forma convencional, não tiveram a oportunidade de falar o quanto amam, nem de aparar algumas arestas, nem resolver conflitos. Tudo isso causa mais dor e sofrimento. As pessoas estão sendo afetadas de uma forma que não conhecem”, disse.

Estratégias

A psicóloga afirma que algumas estratégias podem ajudar neste enfrentamento. Para ela, o primeiro ponto é não negar. “Precisamos aceitar o que estamos sentindo. É o primeiro ponto. Aceitar a tristeza, a saudade, aceitar que está difícil, depois deste ponto, podemos pensar em alguns rituais para expressar o que estamos sentindo, como por exemplo, uma oração, independente da religião de cada um. Isso pode ajudar a organizar as emoções”, orientou.

Renata Mattos diz que é importante falar sobre a pessoa que morreu. “Como a morte ainda é um tabu, muitas famílias tem a cultura de não falar, fica um assunto meio velado, isso traz mais dor e sofrimento. Neste contexto da festa natalina, o ideal é pensar em cerimônias que sejam mais simbólicas e afetuosas, do que com grandes presentes e jantares bem elaborados. Acima de tudo é expressar”, frisou.

Para os amigos, a psicóloga orienta que acolha a dor do outro. “Muitas vezes quando a pessoa que perdeu o ente começa a falar da dor e da saudade, a outra que escuta diz pra não ficar assim. Na verdade, não é não ficar assim, a pessoa já está com o sentimento. E precisa falar sobre ele. O acolhimento das pessoas queridas é fundamental.

Quando estamos diante de um luto, a nossa tendência é voltar para outros lutos que foram vividos, mas que ainda não foram elaborados”, explicou.

Distanciamento 

Com a chegada da nova onda da covid-19, a orientação é de que as pessoas evitem contato com os familiares, que estejam apenas com aqueles que já moram na mesma casa. Esta situação deixa o momento ainda mais triste para quem está vivenciando um luto.

Segundo Renata Mattos, este ano, as famílias não poderão se reunir, não serão feitas as tradicionais confraternizações, o que sinaliza que não está tudo bem. 

“Vamos precisar lidar com as nossas saudades, as nossas dores, e nossas perdas, e nesse momento não podemos compartilhar este sofrimento, o que normalmente, para a maioria das pessoas, é o que o natal representa. Momento de união, renovação, de estar com pessoas queridas, presenteá-las e abraça-las, e não estamos podendo fazer isso.

Vale ressaltar que como já estamos vivenciando tudo isso desde março, o isolamento já está crônico, algo muito prolongado. Muitas pessoas estão muito desorganizadas por conta de tudo isso. O que é esperado diante deste contexto. E as festas de fim de ano, para algumas pessoas, acabam intensificando mais esses sentimentos difíceis de lidar”, concluiu.

Renata Mattos é psicóloga sistêmica familiar, idealizadora do Espaço Arvore´Ser

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