Comunidade de São Lázaro é surpreendida com chegada da Polícia Federal em notificação para reitegração de posse em ação na Justiça da UFBA
Universidade suspende temporariamente reintegração de posse após reação de moradores.

Foto: Arquivo Pessoal
Quatorze familias da comunidade de São Lázaro em Salvador, foram surpreendias na última segunda-feira (13), por uma notificação de reitegração de posse das suas residências por agentes da Polícia Federal (PF). Familias inteiras, que moram há anos na localidade ficaram surpresas com o prazo de trinta dias para deixarem suas residências em ação movida pela Universidade Federal da Bahia.
De acordo com os moradores, a comunidade não esperava a presença das viaturas e não foram informados previamente sobre o processo: “Fomos surpreendidos com a Polícia Federal batendo de porta em porta. Ninguém da universidade procurou a gente antes”, afirmou Caroline dos Santos Brito, uma das moradoras afetadas. Ela conta que a família vive há 52 anos no local e que há famílias com mais de 70 anos de residência na comunidade.
Caroline também afirma que existem registros que comprovariam a presença das famílias antes mesmo da construção do campus da UFBA em Ondina. “Nos anos 60 e 70, a própria UFBA fez uma documentação com as famílias que já viviam aqui. Quem preencheu o formulário da minha família foi minha avó. Então a universidade sempre soube que nós moramos aqui há décadas”, contou.
A moradora também criticou o que chamou de “tratamento desumano” por parte das autoridades durante a notificação. “Estão tratando a gente como se fôssemos invasores ou criminosos. Isso é uma calúnia absurda. Trabalhamos, criamos nossos filhos aqui e servimos diariamente funcionários e estudantes da própria universidade. A gente só quer respeito e ser ouvido”, disse Caroline.
UFBA cria comissão e pede suspensão da ordem judicial
Em nota divulgada nesta quarta-feira (15), a Universidade Federal da Bahia informou que instituiu uma Comissão Especial para planejar e acompanhar a reintegração de posse da área em São Lázaro. A instituição solicitou à Procuradoria Federal junto à UFBA a suspensão da execução judicial até a conclusão dos trabalhos da comissão.
A universidade declarou que o processo de reintegração “deve observar o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito social à moradia”, previstos na Constituição Federal. A nota afirma ainda que os trabalhos começaram com uma reunião no gabinete da Reitoria, que contou com a presença de oficiais de Justiça e representantes da administração central.
Segundo a UFBA, a intenção é conciliar o direito de propriedade e posse do terreno com a proteção de populações vulneráveis, buscando uma solução proporcional e socialmente responsável.
Enquanto o diálogo não avança, os moradores afirmam esperar que a universidade suspenda definitivamente a ação e reconheça o direito das famílias de permanecer no local. “Nós temos direito à moradia e à dignidade. Só queremos ser tratados como seres humanos e ter uma conversa justa com a UFBA”, concluiu Caroline.
A comunidade se reuniu nesta quinta-feira (16) com representantes da universidade e o movimento estudantil. Ficou assegurando um novo encontro, na próxima segunda-feira (20).