Covid-19: aceleração da vacinação traz indícios de retomada na economia

Setor do turismo é um dos que já mostra sinais positivos de recuperação no país

Por Ane Catarine Lima
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Covid-19: aceleração da vacinação traz indícios de retomada na economia

Foto: Getty Images

Com a aceleração da vacinação contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, os mercados imobiliário, do turismo e empresarial começam a enxergar sinais de recuperação da economia. Economistas brasileiros consideram que a imunização da população é o ponto chave para a retomada das atividades após a maior crise global em décadas. Segundo o economista José Pio Martins, a expectativa é de que essa retomada aconteça em um ritmo mais acelerado a partir do mês de agosto. 

“Já é possível perceber, diante da aceleração da vacinação, alguns indícios positivos. As taxas de juros estão estabilizadas, dólar em queda e bolsa de valores batendo recordes históricos”, afirma o economista e reitor da Universidade Positivo. 

Diante desse cenário, ele afirma que o mercado do turismo, que possui uma das economias mais complexas, avança progressivamente para a recuperação. Já é possível observar no setor do turismo, que engloba hotelaria, agências, operadoras, eventos, alimentação e outros, um aumento da  procura por destinos nacionais para viagens.

Atualmente, metade da população brasileira com mais de 60 anos já está vacinada e, segundo especialistas do setor, essa é a faixa etária que mais tem procurado por pacotes de viagens.

“Essa movimentação traz ânimo para o setor, e nos leva a crer que o turismo nacional vai se fortalecer ainda mais até o final deste ano”, aponta o diretor da Serra Verde Express, Adonai Aires de Arruda Filho. Segundo ele, a previsão é de que a procura de pessoas da terceira idade por passeios turísticos aumente em 35% a partir de julho. O número demonstra, de maneira gradativa, indícios de melhoras.

Com o objetivo de entender melhor o momento atual da economia brasileira, o Farol da Bahia conversou com o economista José Pio Martins. Confira a entrevista: 

FB: Por que a vacinação contra a Covid-19 é um fator importante para a recuperação da economia? 

José Pio Martins: O mundo conhece dois tipos de catástrofes: as naturais (terremotos, tsunamis, secas, enchentes, epidemias, pandemias), e aquelas decorrentes da ação humana (revoluções, guerras, violência urbana). A pandemia do coronavírus é única na história por duas razões: 1) pegou todos os países simultaneamente; 2) é a única que atingiu todas as regiões de cada país, interrompeu a normalidade econômica e jogou as pessoas dentro de casa em isolamento social nunca visto antes. A interrupção dessa anomalia, o retorno das atividades econômicas, a abertura normal das empresas e dos estabelecimentos de serviços, o retorno das pessoas ao trabalho e a recuperação de sua renda, tudo isso somente se torna possível quando as contaminações, infecções, doenças e mortes forem controladas. E o único controle é a imunização oferecida pela vacina.  

FB: Quais setores foram mais prejudicados pela pandemia? 

José Pio Martins: O grau de prejuízo depende do critério. Sob o aspecto humanitário, quem mais perdeu foi a multidão de trabalhadores autônomos e prestadores de serviços pessoais que só podem ser executados presencialmente. É o caso de massagista, fisioterapeuta, cabeleireiro etc, os quais não têm como trabalhar em home office. Sob o aspecto econômico, os setores mais prejudicados foram os estabelecimentos de serviços pessoais, o comércio e o turismo. Houve uma desorganização também no setor educacional, porém, com menos prejuízo.  

FB: Atualmente, qual setor é responsável por movimentar a economia brasileira? 

José Pio Martins: Quem menos sofreu foram os setores de serviços coletivos inadiáveis (água, esgoto, energia, telecomunicações) e o grande segmento do agronegócio, porquanto este produz comida, sem o que não há vida. Esses se tornaram grandes locomotivas a puxar a economia brasileira, inclusive porque o país colheu safras recordes e se beneficiou da demanda internacional crescente. 

FB: Com a vacinação, o turismo começa a apresentar positivos sinais de recuperação?

José Pio Martins: A chamada "indústria do turismo" é um grande setor e somente pode ser entendido se for subdividido em turismo de negócios, turismo de lazer, turismo religioso, turismo cultural e científico. Em crise, todos esses subsetores sofrem e, nesta pandemia, literalmente paralisaram as atividades. A vacinação promoverá a retomada, embora lenta e gradual, de todos eles. Talvez o subsetor que mais sofrerá venha a ser o de turismo de lazer, pois o estrago na renda das famílias foi gigantesco e não sobra dinheiro para viagens e lazer. 

FB: Qual é a expectativa atual para a recuperação da economia?

José Pio Martins: Tanto o trabalhador, quanto o profissional liberal como também a empresa somente conseguem sair da crise financeira se voltarem a produzir mais e melhor que antes da crise. Nesse sentido, há certo otimismo com a retomada econômica. Aliás, já há quem estime crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em até 5% neste ano. Lembrando, é claro que estamos falando de um crescimento sobre uma base terrível em 2020, ano de recessão em que o PIB caiu 4,1%. 

FB: A alta do dólar ainda é um grande problema? 

José Pio Martins: Todo evento econômico tem aspectos negativos e aspectos positivos. Para os exportadores, como se viu para o agronegócio, a alta do dólar permite que suas receitas de exportações sejam trocadas por reais com grande vantagem. Para quem exporta, quanto mais alto o dólar, melhor. Já para os importadores, o dólar alto encarece a importação de matérias-primas e demais insumos, o que não é bom. De qualquer forma, a elevação do dólar reflete a fragilidade da economia brasileira diante dos gigantes do comércio internacional. Em linguagem técnica, o dólar alto reflete a baixa produtividade da economia brasileira.

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