Crimes de exposição íntima crescem mais de 1.200% no RJ em seis anos
Mulheres relatam perseguição, humilhação e colapso emocional

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Levantamento feito a partir de dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro revelou um crescimento de mais de 1.200% nos casos de divulgação de cenas de sexo, estupro ou pornografia entre 2018 e 2024. Apenas no ano passado, foram registradas 771 vítimas, em sua grande maioria mulheres.
Entre os relatos colhidos pelo g1, está o de uma carioca que teve sua imagem vinculada a um site de prostituição. "Sete mil homens viram a minha foto", contou, afirmando que o ex-companheiro divulgou suas imagens íntimas e chegou a receber transferências via Pix usando essas fotos. O homem foi preso no último mês por descumprir uma medida protetiva.
A vítima relatou que sofreu ameaças, perseguições, perdeu o emprego e viu sua vida social e profissional desmoronar. “Na internet, eu era uma prostituta. Na vida real, eu estava na igreja”, desabafou.
Outro caso citado é o de uma mulher que teve fotos íntimas expostas por um ex-namorado uma semana após o término. As imagens foram divulgadas por um perfil falso com o nome dela, acessado por familiares, amigos, colegas de trabalho e até os filhos. Ela teve contas hackeadas, buscou apoio na Justiça e obteve uma medida protetiva após sofrer ataques cibernéticos recorrentes.
Ambas as vítimas narram episódios de ansiedade, pânico e isolamento após as violações. Em comum, a dificuldade em romper com relações abusivas e o esforço contínuo para reconstruir suas rotinas.
A juíza Camila Guerin, com longa atuação na Vara de Violência Doméstica, afirmou que os crimes digitais geram impactos profundos na saúde mental das vítimas. “O digital se torna pior. Você não sabe quantas pessoas vão ver, por quanto tempo aquilo vai durar.”
A defesa de Sandro da Silveira Silva, ex-companheiro de uma das vítimas, alega que não há condenação criminal contra ele e que os mandados de prisão preventiva são baseados apenas em prints, sem perícia técnica. A defesa afirma ainda ter entrado com pedido de habeas corpus.
Enquanto aguardam justiça, as vítimas alertam outras mulheres sobre os sinais de violência e reforçam a importância de denunciar: “A vítima não tem que se esconder”, disse uma delas. “Coragem para manter a cabeça erguida e seguir.”