Dia de Finados: pandemia abalou o processo de luto
Psicólogo explica a importância de lidar com os processos envolvem a perda

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Hoje, 2 de novembro de 2021, não é um Finados como os demais. A dor e todos os processos que envolvem o luto ganham dimensão inédita para esta geração por causa da pandemia da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, que já matou mais de 605 mil pessoas no Brasil. Dito isso, é certo que a tradicional data de celebração da memória daqueles que já partiram ganha novas perspectivas. A emergência sanitária gerou diferentes consequências que ampliam as perdas, como a morte inesperada e, em muitos casos, sem despedidas.
Uma data no mínimo sensível a cada ano trará novos desafios após um 2021 marcado pela perda abrupta de grandes talentos da música e do cinema, familiares e amigos. Diante do cenário atual, é difícil estar imune a algum nível de melancolia e adoecimento. Para o psicólogo Thiago Vinicius Oliveira, vivenciar o luto é a melhor forma de conseguir ultrapassá-lo e promover novas possibilidades de existência.
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, entende o luto como uma reação à perda, natural e constante durante o desenvolvimento humano. A partir disso, o especialista explica que o sentimento é um fenômeno mental, podendo ser superado após algum tempo e, por mais que tenha um caráter patológico, não é considerado doença.
“O luto é um processo lento e doloroso, que tem como características uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, a perda de interesse no mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor”, explicou o psicólogo Thiago Vinicius, especialista da Quíron, clínica especializada em saúde mental em Feira de Santana.
De acordo com o especialista, o luto pode ser caracterizado de duas formas. A primeira é o luto patológico, quando vira algo sem fim e impede a pessoa de viver como antes. A outra forma diz respeito ao luto coletivo, caracterizado pelo o mesmo processo individual, porém acomete toda uma população em virtude de um sofrimento comum a muitas pessoas. As mortes causadas pelo novo coronavírus, por exemplo, são um exemplo de luto coletivo.
Thiago Vinicius Oliveira afirma, ainda, que essa segunda forma do luto é caracterizada pelo sentimento de impotência, agregando o sentimento de menos valia e tristeza. “Sendo assim, tem as mesmas características de um luto individual, modificando apenas a condição geral de um determinado grupo de pessoas que sofrem uma perda de forma comunitária. É importante o entendimento que estamos vivendo um luto coletivo”, disse.
É notório que o cenário atual significa um grande desafio emocional e psíquico, mas para seguir em frente, ainda segundo o psicólogo, é necessário reconhecer, aceitar as perdas e buscar ajuda, “partindo da necessidade individual, ou seja, o sofrimento próprio, balizado pela subjetividade”.
É importante saber quando buscar ajuda. A procura por profissionais de psicologia e psiquiatria deve acontecer quando o processo de luto demora a passar, fazendo a permanência da angústia e tristeza. “O tratamento começa na busca dos profissionais para que aconteça a condução em quatro mãos, podendo possibilitar ao paciente o acolhimento e a promoção de mudanças no seu comportamento, vivências e relações sociais”, concluiu.