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Bahia

Dia Nacional da Onça-pintada: menos de 30 animais foram identificados em território baiano, segundo levantamento

Em entrevista ao Farol da Bahia, pesquisadora revelou dados referentes a preservação da espécie na Área de Proteção Ambiental do Boqueirão da Onça

Por Paulo Neto
Ás

Atualizado
Dia Nacional da Onça-pintada: menos de 30 animais foram identificados em território baiano, segundo levantamento

Foto: Divulgação/Amigos da Onça

Nesta sexta-feira (29) é celebrado o Dia Nacional da Onça-pintada. A Portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) oficializou a data no dia 16 de outubro de 2018, com o objetivo de divulgar informações sobre a importância ecológica, econômica e cultural da espécie. 

O maior felino das Américas é protegido por unidades de conservação geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e conta com o apoio do Plano Nacional (PAN) de Conservação da Espécie. Na Bahia, as espécies são protegidas na Área de Proteção Ambiental do Boqueirão da Onça, localizado no norte baiano. 

O programa “Amigos da Onça” atua nas mediações do PARNA, através do trabalho de preservação desses felinos, com atuação no monitoramento das espécies, análise de comportamento e ações de conscientização para diminuir os conflitos entre as onças e comunidades da região.

Em entrevista ao Farol da Bahia, Daiana Polli, bióloga, professora, mestre em ecologia, evolução e biodiversidade na Universidade Estadual Paulista e pesquisadora do Amigos da Onça, contou que o programa surgiu em 2012. Ela relatou que pouco antes do surgimento, uma das idealizadoras do programa, Cláudia Campos, foi até o Boqueirão da Onça para realizar um monitoramento na região e identificar a existência de onças-pintadas. Em 2007, foi identificado o primeiro registro da espécie na região, a idealizadora percebeu a importância do parque para a preservação das espécies, e fundou o programa anos depois, junto com as demais idealizadoras Carolina Esteves e Cláudia Martins.

Daiana revelou que a última estimativa levantada em parceria com vários pesquisadores, em 2013, identificou menos de 30 onças-pintadas no Boqueirão da Onça e menos de 250 indivíduos distribuídos em todo o bioma da Caatinga. A bióloga revelou que as expectativas são de que ocorra um maior declínio populacional nessas espécies, por questões climáticas que atingem o bioma e demais ameaças.

Ameaças para a espécie

Ao ser questionada sobre as principais causas da diminuição populacional das onças-pintadas, Daiana listou as ameaças e destacou que geralmente estão relacionadas a perda de habitat. 

Confira as ameaças citadas:

Exploração ambiental: a remoção da vegetação nativa, os incêndios e a crescente exploração de recursos naturais da Caatinga que têm se intensificado principalmente nas atividades de mineração e geração de energia;

Caça das presas naturais: a diminuição dos predadores também está relacionada a interferência das pessoas nas caças das presas naturais, atualmente não são identificados hábitos de caça para subsistência, mas sim para comercialização dessas presas, que geralmente são tatus, veados ou caititus;

Abate dos indivíduos e retaliação: em certas ocasiões, os felinos podem se aproximar de pessoas das comunidades por dividirem o mesmo ambiente, e acabam sendo mortos por conta do medo dessas pessoas. Em outros casos também ocorrem as retaliações, quando as onças são abatidas após predar um animal do rebanho de criadores da região, que geralmente são caprinos e ovinos.

Atropelamento: geralmente os atropelamentos ocorrem em estradas abertas do bioma, devido aos empreendimentos eólicos e solares e também da mineração. Frequentemente caminhões, tratores e carros transitam pela região e em alguns casos podem atingir os animais.

Ações de preservação dos felinos

A pesquisadora detalhou as ações realizadas pelo programa para monitorar as espécies e minimizar os conflitos com as pessoas da comunidade. Ela divulgou que o planejamento segue dois eixos de atuação.

Biologia e ecologia das espécies: esse primeiro eixo atua com as buscas por vestígios, desde pegadas das espécies, as fezes, que são adquiridas através de análise da dieta dos animais, e também arranhões. As armadilhas fotográficas são posicionadas para identificar se existe a presença de onças no local, quais são as onças, a estimativa de quantidade e também possíveis presas. Através desses dados, a equipe realiza uma campanha para capturar essas espécies e instalar um rádio-colar que permite o monitoramento da movimentação desses indivíduos através de um software de geoprocessamento. Esse monitoramento é essencial para identificar a relação entre machos e fêmeas, além das  áreas e preferências dessas espécies.

Dimensões humanas: o segundo eixo trata-se do trabalho com as comunidades locais de seis municípios, são eles: Umburanas, Campo Formoso, Juazeiro, Sobradinho, Sento Sé e Morro do Chapéu. Geralmente esse trabalho é feito com criadores de rebanhos, que vivem na zona rural, através da capacitação, com cursos, para que eles consigam identificar quais são os problemas sanitários do rebanho e aumentar o rendimento deles com esses animais. Em parceria com a Tetra PAK, empresa multinacional que fabrica embalagens para alimentos, o programa criou o manejo em currais anti-predação que são denominados chiqueiros. Os currais possuem conforto térmico e abrigam os rebanhos durante o período da noite, período em que as onças estão mais ativas, para impedir os casos de retaliação. 

“Nós criamos a cartilha “Na trilha da Onça” para as crianças conheceram as onças e a biodiversidade da Caatinga, bem como teatro e oficinas para elas. Também realizamos palestras sobre as onças e a biodiversidade da Caatinga, além de cursos de capacitação para os adultos das comunidades, como criação de hortas e controle sanitário dos rebanhos. Então, focamos na educação para conservação., destacou Daiana.

Resultados do programa e perspectivas para o futuro

Foi registrado cerca de 9% de redução da predação dos rebanhos em duas comunidades do Boqueirão da Onça devido a construção dos chiqueiros. 11 currais foram construídos na comunidade de Lagoa do Mari, município de Sento Sé, e outros sete na comunidade de Queixo Dantas, em Campo Formoso. 

A pesquisadora ainda declarou que por agir na região por mais de 10 anos, a confiança das comunidades também causa impactos positivos para o programa. Além de atribuir a conservação das onças às comunidades locais, enfatizou que o programa está “auxiliando nesse processo”.

“A gente vê que as pessoas quando ficam sabendo de algum abate de onça, eles entram em contato com a gente, mandam informações. Teve até o caso da Luísa, que foi uma onça pintada, monitorada por nós. Na verdade, ela foi resgatada primeiro, então ela foi presa numa caverna, uma história super emblemática, e foi a comunidade que notificou a gente, devido à confiabilidade e à seriedade das ações do programa.”

Daiana ainda demonstrou estar esperançosa com o futuro do projeto. Ela citou que a principal discussão entre os pesquisadores é a necessidade de promover a conectividade entre as populações dos felinos. A ideia principal é de que futuramente exista um corredor que conecte todas as regiões que possuem populações de onças-pintadas, com o intuito de solucionar a situação de isolamento das espécies, que podem deixar de existir, por não conseguirem migrar para outras regiões e se reproduzirem.

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