Discriminação racial atinge 34,8% dos consumidores negros, diz pesquisa
Estudo consultou mil pessoas que se autodeclararam negras, em todas as regiões do país

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Pesquisa inédita do Instituto DataRaça e Akatu mostra que, embora a população negra movimente cerca de R$ 2 trilhões por ano na economia brasileira, mais de um em cada três negros (34,8%) relatou ter sofrido discriminação ao comprar produtos ou usar serviços no último ano.
O estudo consultou mil pessoas que se autodeclararam negras, em todas as regiões do país, com nível de confiabilidade de 95% e margem de erro de 3,1 pontos percentuais.
Os resultados mostram que 72% dos casos acontecem em situações mais difíceis de provar e denunciar. São atitudes como seguranças que seguem o negro dentro da loja e até de vendedores que discriminam o consumidor pelo fato de a pessoa ser negra, pressupondo que ele não tem dinheiro para comprar um produto caro, por exemplo.
"Quando a pessoa negra passa a consumir em lojas para a alta renda, ela se depara frequentemente com a situação de pedir um produto e o atendente já oferecer uma opção mais barata, sem ele nem sequer ter perguntado o preço", diz Maurício Pestana, presidente do Instituto DataRaça.
Lojas de roupas, shoppings e supermercados são apontados como os locais onde a discriminação mais ocorre e as pessoas negras ainda são vistas como suspeitas. "Muitas empresas e marcas não conseguem ainda conversar com a maioria da população, que se sente oprimida e discriminada na hora de gastar seu dinheiro", diz Pestana.
O consumidor negro é ativo e valoriza marcas que respeitam suas necessidades. O estudo revela que a representatividade é um fator decisivo na escolha do estabelecimento ou serviço e que ações concretas e a presença de pessoas negras em propagandas são os principais motivos para avaliações positivas das marcas.
Por outro lado, a superficialidade e o silêncio das empresas sobre questões raciais são os maiores fatores de rejeição: cerca de 37,4% dos entrevistados disseram ter preferido marcas que demonstram respeito pela população negra, enquanto 24,6% deixaram de comprar de lojas vistas como racistas.
O setor de higiene e beleza lidera em aprovação e é referência no desenvolvimento de produtos inclusivos com 83,9%. Marcas como Natura, O Boticário e L'Oréal são exemplos apontados como positivos que investem em representatividade nas comunicações com os consumidores negros e em produtos específicos para a pele preta.
A L'Oréal, no ano passado, fez uma pesquisa demonstrando que 91% dos consumidores negros da classe AB já sofreram racismo em estabelecimentos de beleza de luxo, levando 52% a desistirem da compra, 54% a não retornarem à loja e 29% a preferirem compras online.
A pesquisa do Instituto DataRaça e Akatu também mostra que a população negra confia mais nas empresas (85,3%) do que no governo (68,7%) para promover a inclusão corporativa.
"O consumidor negro sabe diferenciar os papéis de empresas e governo na promoção da equidade racial. Reconhece que as marcas têm responsabilidade em temas de consumo e inclusão, mas não delega a elas a missão de corrigir desigualdades estruturais, uma atribuição que permanece na esfera pública", diz Pestana.


