Dívida de 7 anos da Venezuela com Brasil ultrapassa R$ 10 bilhões
São mais de R$ 2,7 bilhões só de juros; calote do país de Maduro envolve operações de crédito para exportações brasileiras

Foto: Ricardo Stuckert/PR
Com uma duração de 7 anos, a dívida da Venezuela com o Brasil ultrapassa R$ 10,3 bilhões e segue sem previsão de quitação. Desde quando o país se tornou inadimplente, em 2018, são mais de R$ 2,7 bilhões só de juros.
O calote do país do presidente venezuelano Nicolás Maduro envolve operações de crédito para exportações brasileiras, com a maioria delas ligadas a obras de infraestrutura no país vizinho, como metrôs, estaleiros e siderúrgicas.
Este valor ainda pode ser superior, visto que é estimado o passivo total entre US$ 1,7 bilhão e US$ 2,5 bilhões, o que equivale a quase R$ 12 bilhões na cotação atual (R$ 5,42 em 4 de julho).
Os números são de dados oficiais do Ministério da Fazenda até 28 de fevereiro de 2025, no qual correspondem aos valores pagos pela União em indenizações a bancos financiadores e os juros de mora acumulados.
Os financiamentos de Maduro foram cobertos pelo Seguro de Crédito à Exportação (SCE), lastreado no Fundo de Garantia à Exportação (FGE), mecanismo administrado pela União para a garantia do pagamento a exportadores brasileiros em casos de inadimplência dos países importadores.
Conforme o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), "todos os recursos foram desembolsados no Brasil, em reais, diretamente aos exportadores".
O banco também reforça que as prestações não quitadas pela Venezuela "já foram integralmente indenizadas pelo SCE" e que o saldo devedor foi transferido à União. A última indenização paga foi em junho de 2025.
Sem previsão de quitar as dívidas
A inadimplência da Venezuela com o Brasil teve o início formal em 2018, com a dívida remontada a financiamentos contratados desde o início dos anos 2000.
Cerca de US$ 1,5 bilhão está diretamente ligado a grandes obras, como o metrô de Caracas, capital venezuelana. Com a inadimplência, o FGE arcou com os pagamentos aos bancos, porém a fatura recaiu sobre o Tesouro Nacional.
O professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard Vitelio Brustolin explica que a Venezuela não responde às cobranças formais e não dá algum tipo de resposta ao Brasil.
"O FGE cobriu grande parte desses pagamentos ao BNDES, transferindo a dívida para o Tesouro. Então, não é que o fundo supriu o problema, resolveu o problema com a Venezuela. Todos nós, cidadãos brasileiros, estamos pagando por essa dívida. A Venezuela insiste em não responder às cobranças formais, nem resposta o Brasil tem. A negociação está totalmente suspensa", detalha.