Doenças que atingem o fígado crescem durante a pandemia

Especialistas chamam atenção para o aumento de casos de hepatites virais e alcoólicas

Por Da Redação
Ás

Doenças que atingem o fígado crescem durante a pandemia

Foto: Pixabay

Especialistas apontam que o aumento de casos de obesidade, consumo de álcool e automedicação durante a pandemia fizeram disparar o número de doenças silenciosas, como as que afetam o fígado. O presidente do Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG), Paulo Bittencourt, disse à Agência Efe que as hepatites virais, alcoólicas e medicamentosas evoluem sem apresentar sintomas. Segundo ele, o agravamento dessas doenças pode ocasionar no desenvolvimento de cirrose e câncer.

Por isso, é preciso estar atento às condições associadas ao maior risco de desenvolver esses quadros, muitas delas agravadas durante a pandemia, como o sedentarismo e a obesidade, segundo o especialista, que relatou um "crescimento muito grande dos casos de hepatite medicamentosa" relacionados à automedicação de fármacos ou suplementos com o objetivo de tratar precocemente ou prevenir a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Além disso, o especialista também alertou para o aumento da frequência, em unidades de terapia intensiva (UTIs), de casos de hepatite alcoólica aguda, que pode levar à insuficiência hepática em poucas semanas devido ao consumo abusivo de álcool, e que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 50%.

Obesidade e sedentarismo

A coordenadora do departamento de doenças do fígado da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Claudia Oliveira, disse à agência que a esteatose acomete entre 20% e 30% da população mundial e brasileira, e tem como principais fatores de risco para gordura no fígado aumento de peso, diabetes, colesterol e triglicerídeos altos e sedentarismo. 

"A esteatose já era a principal doença ambulatorial de fígado, mas, na pandemia, com o aumento da obesidade, da ansiedade e da compulsão alimentar e piora de estilos de vida que já não eram muito bons devido ao isolamento social, vimos um aumento de casos de gordura no fígado durante esse período", disse. "O aumento de consumo do álcool também preocupa, porque ele aumenta a gordura no fígado por si só, então quando você junta sedentarismo, má alimentação, obesidade e ainda uma ingestão maior de álcool, esse é um trio bastante ruim para esses pacientes, e na pandemia isso se exacerbou", acrescentou.

Ela disse ainda que, nas primeiras fases da doença, quando há mais gordura e pouca fibrose, o tratamento é perda de peso, redução de calorias, do consumo de açúcar, de frutose, e aumento da prática de exercícios, tanto atividades aeróbicas quanto de resistência. "Em todas as fases essa mudança de estilo de vida é preconizada. Quando o indivíduo perde 10% do peso, ele já tem uma melhora na esteatose, na inflamação e até na fibrose", ressaltou. 

Álcool 

Dados da pesquisa ConVid, da Fundação Oswaldo Cruz, 17,6% dos mais de 40.000 entrevistados (18,1% entre homens e 17,1% entre mulheres) afirmaram ter ingerido mais bebidas alcoólicas no ano passado.

O maior avanço, 24,6%, foi registrado na faixa etária de 30 a 39 anos de idade, e o menor entre idosos (11,2%). O estudo indicou, ainda, que quanto maior a frequência dos sentimentos de tristeza e depressão, maior o aumento do uso de bebidas alcoólicas, atingindo 24% das pessoas que têm se sentido dessa forma durante a pandemia. No total, 40% da população se sentiu triste/deprimida e 53% se sentiu ansiosa/nervosa frequentemente (muitas vezes ou sempre). Entre os adultos jovens (18-29 anos), os percentuais subiram para 54% e 70%, respectivamente.

"O consumo abusivo de álcool e o Beber Pesado Episódico, ou seja, o consumo de mais de cinco doses por ocasião para homens e quatro para mulheres, geralmente em um intervalo de duas horas, estão muito associados com as alterações de saúde mental que ocorreram durante a pandemia, que a gente sabe que teve um impacto muito grande na saúde mental", destacou o presidente do IBRAFIG.
 


 

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