Em mês de campanha contra doença, Brasil registra casos de hepatite em crianças

Maio Vermelho alerta para prevenção e tratamento

[Em mês de campanha contra doença, Brasil registra casos de hepatite em crianças]

FOTO: Agência Brasil

O Ministério da Saúde informou, na última quinta-feira (11), que monitora 28 casos de hepatite aguda infantil e que, até o momento, as causas são desconhecidas. Em meio a este cenário, especialistas alertam para a prevenção da doença na campanha do Maio Vermelho. Em entrevista ao Farol da Bahia, a hepatologista Lourianne N Cavalcante afirmou que estudos para descobrir a causa da hepatite aguda em crianças estão em andamento. Ela adiantou, no entanto, que há evidências de que os casos não estejam relacionados à vacina contra o novo coronavírus. 

“Infelizmente, no mês de abril começaram a surgir casos de hepatite aguda de evolução grave em crianças e adolescentes, principalmente em menores de 12 anos de idade, no Reino Unido e União Europeia. Cerca de 10% dos pacientes infectados precisaram de transplante hepático com relato de, pelo menos, uma morte confirmada no período. Nas últimas semanas, divulgou-se que há 28 casos suspeitos no Sudeste e Sul do Brasil, todos ainda em investigação”, disse a especialista.

“O que sabemos é que a hepatite aguda não é causada por vírus das hepatites A,B, C, D, E, Citomegalovírus, Epstein Barr e Herpes Vírus. Afastou-se a possibilidade de associação com Sars-COv-2 e vacinas contra Covid-19, já que a maioria das crianças acometidas não foram vacinadas. Existe uma associação possível com o adenovírus, o que tem sido estudado com afinco, com objetivo de saber se é uma associação epidemiológica sazonal ou alguma mutação viral. Os adenovírus foram vetores de algumas vacinas para Sars-Cov-2, sendo analisada sua possível associação com a patologia, porém ratificou-se que os vírus utilizados como vetores em vacinas não tem potencial de replicação, não podendo ser o agente etiológico”, completou.

Ainda na entrevista, Lourianne N Cavalcante explicou que a hepatite é uma reação inflamatória que ocorre no fígado na tentativa de defesa dos agentes que causam lesão. Segundo ela, existem vários tipos da doença e, em alguns casos, pacientes acometidos podem evoluir o quadro para uma infecção crônica. As causas das hepatites já conhecidas podem ser vírus, infecções, medicamentos, uso de drogas, abuso de álcool e até mesmo doenças genéticas e metabólicas.

“As causas mais comuns de hepatites são as de etiologia viral, causadas por vírus chamados de hepatotrópicos, como os vírus A, B, C, D, E. Outros vírus que têm menor tropismo pelo fígado podem ter repercussão hepática no momento da infecção como, por exemplo, Dengue, Citomegalovírus, Epstein-Barr e o próprio coronavírus. Outras hepatites têm etiologia autoimune, ou seja, existe um gatilho que leva o corpo a promover inflamação por alteração da resposta imunológica”, explicou Cavalcante.  

“Gordura no fígado, caso denominado esteatose, também pode evoluir para uma forma de hepatite bem como o consumo excessivo de álcool. Contudo, temos observado outras causas muito frequentes como medicações, fitoterápicos, anabolizantes, fórmulas contendo múltiplas substâncias, ervas, chás e outras substâncias de uso habitual pelas pessoas buscando mais saúde e bem-estar”, completou. 

No Brasil, ainda de acordo com a hepatologista, as hepatites B e C estão entre as mais frequentes. Essa última, por sua vez, é responsável por 70% das mortes associadas às hepatites virais. “O HCV [vírus da hepatite C] pode levar a infecção crônica em cerca de 80% dos casos em adultos, tendo como consequências mais graves a cirrose hepática e o carcinoma hepatocelular, levando ao transplante hepático. A doença tem como principal via de contágio o contato com sangue contaminado, seja por compartilhamento de agulhas ou outros perfuro-cortantes como alicates, lâminas de barbear, tatuagens e piercings com materiais não descartáveis”, explicou Lourianne.

“Já a hepatite B é o segundo tipo mais frequente e a sua principal forma de contaminação é por relações sexuais desprotegidas, além de sangue contaminado, a despeito da presença de vacina. O vírus B pode cronificar em adultos em 10% dos casos, e com várias consequências. Chama atenção que o HBV [hepatite B] tem a chance de evoluir para câncer de fígado devido à evolução para cirrose hepática, o que leva a necessidade de vigilância. Nem todos os pacientes infectados por vírus B precisam de tratamento. Nas hepatites B e C também existe a possibilidade de contaminação vertical, passando da mãe para o bebê durante a gestação e parto”, continuou.

Prevenção e tratamento

A dona de casa Francisca Santana, de 67 anos,  descobriu há 8 anos que tinha hepatite do tipo C. Ao Farol da Bahia, ela explicou que desenvolveu outros problemas de saúde por conta da doença. “Eu descobri cirrose e um nódulo, não era apenas a hepatite C. É importante que as pessoas, independente da idade, façam exames diários, o teste de detecção e não deixem de cuidar da saúde", afirmou.

Na maioria das vezes, a hepatite é uma doença silenciosa e a pessoa acometida não percebe que tem o vírus. Por isso, Lourianne N Cavalcante alertou para a importância da campanha Maio Vermelho. “Acredito que a conscientização sobre o tema é o ganho da campanha. As pessoas precisam ficar atentas para as formas de agressão hepática, muitas vezes evitáveis e ocasionadas por hábitos que acreditam ser inofensivos”, disse a especialista, que completou listando as possíveis formas de prevenção. 

“A hepatite B tem vacina, liberada de forma universal há mais de 5 anos. A hepatite C não tem vacina, mas tem tratamento disponível e com elevadas chances de cura. Podemos prevenir as hepatites por vírus evitando contato com sangue contaminado, relações sexuais desprotegidas. Já a hepatite A, mesmo não tendo potencial de cronificar, pode ser evitada com saneamento básico,  higiene das mãos e utilizando fontes de águas limpas”.

“Os quadros de hepatotoxicidade por medicamentos, chás e fitoterápicos precisam de ampla conscientização e divulgação, pois muitas pessoas acabam utilizando substâncias buscando mais saúde, por questões culturais e sem noção do perigo a que se expõem. Então, o ideal é evitar automedicação, evitar fórmulas milagrosas para emagrecer, resolver situações como hipertensão, diabetes, dislipidemia, ou mesmo ganhar massa muscular”, concluiu.
 


Comentários

Relacionadas

Veja Também

Fique Informado!!

Deixe seu email para receber as últimas notícia do dia!