Estudo aponta que taxa de cura do coronavírus é 50% maior na rede particular
Especialistas comentam sobre dificuldades da rede pública

Foto: Reprodução/Agência Brasil
Os pacientes com Covid-19 internados em hospitais privados possuem uma taxa de cura 50% maior do que aqueles que estão em instituições públicas. Em média, 51% dos doentes hospitalizados em unidades privadas sobrevivem, o índice cai para 34% nos hospitais públicos.
Os dados são de um levantamento feito pela Folha de São Paulo com base no Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde e consideram os pacientes considerados como graves que foram internados até o dia 20 de junho.
Disparidades
Para a análise, foram observados os casos de 66.450 pacientes de hospitais públicos e 57.883 de hospitais privados. A pesquisa também revela que os índices de cura nas unidades públicas são menores em estados do Norte e Nordeste. As médias giram em torno de 45% em Pernambuco e 53% no Pará, contra 60% em São Paulo e 79% no Rio Grande do Sul.
No último mês, com maior disponibilidade de leitos de UTI e profissionais de saúde mais experientes, a rede pública aumentou a taxa de cura e a desigualdade foi reduzida em boa parte dos estados. No Ceará, o SUS ultrapassou a rede particular. Entretanto, ainda existe uma grande disparidade entre unidades públicas e privadas e entre as regiões do país. O Rio de Janeiro, por exemplo, se mantém como um dos locais em que o abismo entre as redes são mais evidentes.
Opiniões
Antonio Bitu, médico intensivista de uma UTI pública e de uma semi-UTI privada de Recife, afirma que os doentes da rede administrada pelo governo costumam ter quadro mais grave por causa de comorbidades não tratadas. "O paciente (da rede pública) vem com problemas de base. Tem insuficiência cardíaca mal tratada, diabetes sem controle. A Covid acaba sendo a gota d'água", afirma. "Infelizmente, há muita gente que já chega em estado muito grave".
Doutor em epidemiologia e professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Bruno Pereira Nunes cita vários dos fatores que tornam o controle das doenças crônicas mais difícil para quem depende da rede pública, parcela mais pobre e menos escolarizada da população.
"Programas como o Saúde da Família melhoraram a realidade do doente crônico no SUS", diz Nunes. Contudo, mesmo quando a atenção primária é adequada, o acesso a consultas com especialistas e exames é complicado. Isso acontece especialmente em cidades do interior e no Norte e Nordeste, onde a concentração de profissionais de saúde, especialmente de médicos, é menor.