Estudo da FGV aponta perdas de renda com possível redução no valor do Auxílio Emergencial
O pagamento do benefício deu uma turbinada grande na renda, e mais que compensou as perdas por conta da pandemia, diz coordenador da pesquisa

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Um estudo do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que para os trabalhadores que receberam o auxílio emergencial, as parcelas conseguiram compensar a perda de renda provocada pela pandemia do novo coronavírus. No entanto, que esse cenário pode ficar bem diferente se houver redução do valor das parcelas.
O estudo calculou a perda de renda do trabalhador caso haja a redução no valor do benefício para um valor fixo de R$ 300 para todos os beneficiários - sem diferenciação no caso das mulheres chefes de família, que hoje recebem R$ 1,2 mil por parcela.
De acordo com o levantamento, profissionais como cabeleireiro e manicure podem ter queda de 17% na renda, na comparação com a renda usual - isto é, os valores normalmente recebidos antes da pandemia. Para taxistas e motoristas de aplicativo, a perda estimada é de 12%.
A redução ainda deixaria os beneficiários com rendimento maior que a renda usual - caso dos agricultores, operadores de telemarketing, porteiros, zeladores e faxineiros.
Simulação
Os pesquisadores fizeram outra simulação que é o corte no pagamento do auxílio pela metade - inclusive para as mães que chefiam a casa, que passariam a receber R$ 600 em vez dos atuais R$ 1,2 mil. A perda de renda em relação ao ganho antes da pandemia ocorrerá em escala menor. Nesse cenário, cabeleireiros e manicures, por exemplo, perdem 7% da renda, enquanto taxistas e motoristas de aplicativo têm queda de 5%.
O estudo ainda atualizou os números sobre o impacto do pagamento do auxílio emergencial na renda do brasileiro. Para fazer o cálculo usaram os dados da pesquisa Pnad-Covid, do IBGE, e compararam com o que ganhava o trabalhador antes da pandemia. Em julho, a renda média cresceu 34%. No mês anterior, junho, o ganho foi de 29%.
Isso se deve principalmente ao fim da quarentena nas cidades: “provavelmente, isso decorre do maior nível de abertura e funcionamento das atividades econômicas após uma contenção mais forte, visando achatar a curva da pandemia”, indica o estudo.
O levantamento simula ainda, a perda na renda em relação à renda antes da pandemia sem o pagamento do auxílio - média de 14% em julho. Em algumas categorias, como dos profissionais liberais, esse índice passaria dos 30%.
Estados
O estudo aponta os estados que mais ganharam com o pagamento do benefício.
A pesquisa diz que “quando se considera a distribuição geográfica dos efeitos do Auxílio Emergencial ao longo do tempo, os maiores efeitos de renda são nos estados do Norte e Nordeste. Alagoas, Sergipe e Maranhão tiveram aumentos de mais de 120% na renda".
O coordenador do estudo, Lauro Gonzalez, do centro de Estudos e Microfinanças e inclusão financeira da FGV, diz que “o pagamento do auxílio deu uma turbinada grande na renda, e mais que compensou as perdas por conta da pandemia, representando um valor significativo para a maior parte da população, principalmente nas classes mais pobres C, D e E”.
Lauro Gonzalez lembrou ainda que 30% da população brasileira, mais de 60 milhões de pessoas, tem renda per capita mensal de R$ 500, abaixo dos R$ 600 pagos pelo governo.