Exclusivo: Novo normal é achar o próprio ponto de equilíbrio

O Farol da Bahia conversou com o psicanalista Gregor Osipoff, pós-graduado em Neurociência, para explicar o conceito de ‘novo normal’ e como as pessoas devem lidar com eminentes formas de se relacionar, definitivamente, com o "novo" mundo. Para o profissional, cada indivíduo será autor da própria normalidade, por meio de planejamentos e ajustes diários de pontos em abertos ou questionados durante o período de pandemia. Leia a entrevista:

Como a neurociência entende e explica o conceito de novo normal?

A questão de normal e ou normalidade é um conceito estabelecido pela sociedade como uma forma de normatizar em padrões as relações humanas. E o novo normal é uma forma simplista de dizer que haverá um novo normal, já que derrubamos todos os antigos paradigmas de convivência social. E para agora, só nos resta achar uma nova forma de estabelecer este possível novo convívio. Para a neurociência, não muda nada na estrutura da pessoa, somente faz com que ela seja obrigada e buscar novas formas de recompensa para obter satisfação pessoal, já que houve, neste período, o encolhimento das expectativas das realizações pessoais com diversão, viagens e qualquer possibilidade de satisfação que seriam normalmente utilizadas para se ter abstrações como forma de compensação.

Existem percalços neste movimento?

Sim, por isso, devemos prestar atenção que houve um aumento muito grande no consumo de bebidas alcoólicas. As pessoas estão em busca desta recomposição emocional. Temos as questões biológicas e psicológicas que, em conjunto, podem fazer um grande estrago. Então, o novo normal seria achar um ponto de equilíbrio em tudo isso para melhorar a vida e criar um sentimento de realização maior que o período que a pessoa sobreviveu a esta intempérie da pandemia. O novo normal seria olhar novamente para dentro de si, se respeitar, observar os desejos e, como isso junto, poder fazer um mundo melhor para se viver.

A pandemia certamente vai perdurar por mais bons meses, mas as pessoas criam expectativas de um retorno à vida antes de tudo isso. O quão perigoso à saúde – física e mental – é esta ansiedade?

A pandemia mudou totalmente a vida das pessoas e deixou todos um pouco sem chão. Este é um ponto interessante que a pandemia gerou, pois não sabemos como está realmente e nem quanto tempo vai demorar esta situação social. Temos a expectativa baseada na possível vacina, mas as notícias são desencontradas e a falta de visão de futuro deixa a todos nós com uma certa ansiedade que este martírio social acabe. 

Gera dentro de cada um, o sentido de impotência e, ao mesmo tempo, de falta de futuro, medo da morte, culpa de pegar a doença e transmitir a seus familiares. São sentimentos que foram alimentados ao longo deste período que, como uma bola de neve, só cresce. Podendo potencializar velhos problemas, trazendo à tona algumas antigas questões que, muitas vezes, são necessárias serem levadas para o consultório de forma urgente.

As pessoas estão sendo bombardeadas com múltiplas informações sobre o fim da pandemia - que nunca chega - e isso tem criado um grande martírio, ampliando as preocupações com o retorno das escolas, trabalho presencial (para quem precisa) e possibilidade de ter uma vida social novamente. Este fato é muito prejudicial a saúde mental, pois a expectativa não se concretiza, a vida não melhora e as pessoas não conseguem se divertir, criando uma tensão constante que obrigará cada um de nós a rever nossos conceitos de diversão para tentar aliviar tudo isso que aconteceu ao longo deste ano.

Como as pessoas podem se preparar para este suposto retorno à normalidade?

Para se preparar ao retorno a normalidade devemos primeiro fazer uma leitura de como esperamos que seja a nossa normalidade. Cada um será autor da sua normalidade, fazendo um planejamento e acertando todos os pontos que ficaram em aberto.