Exposições resgatam histórias de personalidades negras ignoradas pela história
Mostras celebram o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Foto: Divulgação
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, é um marco internacional de luta e resistência contra o racismo e o sexismo vivido por mulheres negras. No Brasil, a data também faz alusão ao Dia Nacional de Tereza de Benguela. Importante liderança quilombola, Tereza é, assim como outras heroínas negras, um símbolo de luta. Ela era uma escrava que, após muita luta, virou rainha e liderou um quilombo de negros e índios. Histórias como essa serão lembradas em exposições que visam fomentar a importância do reconhecimento social sobre o protagonismo de mulheres negras.
Uma das ações que celebram a data é a “Iª Exposição de Personalidades Negras Brasileiras'', cujo tema é “História de Mulheres que Inspiram''. A mostra, realizada pelo Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI), fica disponível para visitação até o dia 31 de agosto, de forma alternada, nas duas unidades da Superintendência de Obras Públicas (Sucop), que ficam no Aquidabã e Morro dos Macacos.
Nesta primeira edição, a exposição traz nomes históricos e contemporâneos como Carolina Maria de Jesus, Maria Firmino dos Reis, Mãe Menininha do Gantois, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, Suely Carneiro, Tia Ciata, Tereza de Benguela, Ruth de Souza e Antonieta de Barros. Além disso, nesta edição também será sorteado um exemplar do livro ‘Pequeno Manual Antirracista’, da escritora negra Djamila Ribeiro.
O superintendente da Sucop, Orlando Castro, reafirma o compromisso do órgão em destacar a importância dessas mulheres. “Todas as ações que visem combater o racismo têm apoio irrestrito. Pessoalmente, tenho um grande exemplo de inspiração: minha avó Estelita Fernandes Castro, mulher negra que viveu por 110 anos e contribuiu de forma inestimável para meu caráter”, afirma.
A exposição “Negras Cabeças” também fomenta a importância do dia 25 de julho. A mostra, que apresenta digitalmente oito pinturas da artista visual Íldima Lima, tem o objetivo de estabelecer uma conexão visual-ancestral, partindo de referências e registros históricos de mulheres pertencentes a grupos étnicos que utilizavam penteados e adornos de cabeça como artifício de linguagem para expressar aspectos pertinentes à sua cultura. A exposição, produzida pela empresa Ops Game Studio, tem o formato de game interativo e fica disponível no site até dezembro.
Em meio aos processos de reafirmação ancestral, a mostra conversa diretamente com mulheres negras. “É um olhar para a ancestralidade. Uma reverência às linguagens e tecnologias utilizadas por esses grupos para codificar mensagens através dos penteados, dos adornos, a fim de comunicar status e situações de interesse daqueles grupos, tendo se constituído com traços culturais definidores ao longo do tempo. Não à toa a cabeça é usada como suporte dessa conexão. A materialidade resultante concentra uma intersecção entre comunicação e arte, que podem ser lidos em duas instâncias: pela forma, expressão estética, e pelo conteúdo, expressão linguística. Há um princípio nesses grupos em se fazer entender pelo que se vê e como se vê. A exposição é uma celebração dessas etnias”, relata a artista visual Illi.
A luta continua
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha nasceu em 1992 durante um encontro de mulheres negras em Santo Domingos, na República Dominicana. Elas definiram a data e criaram uma rede para pressionar a Organização das Nações Unidas (ONU) a assumir a luta contra as opressões de raça e gênero. Dados da Associação de Mulheres Afro, na América Latina e no Caribe, apontam que 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes.
Contudo, embora o número seja grande, as mulheres negras são as principais vítimas de violência. Segundo o Atlas da Violência, em 2018, 68% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras e no intervalo de uma década, os homicídios de mulheres negras aumentaram 12,4%, enquanto os homicídios entre mulheres brancas caíram 11,7%. A data se torna bastante importante e necessária porque ela reafirma a emergência de lutar contra toda a forma de racismo.