Fiocruz: campanha alerta para impactos do tabaco no meio ambiente
OMS estima que 1,5 bilhão de hectares de florestas já tenham sido perdidos devido ao cultivo do tabaco

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O Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab) da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) lança, nesta terça-feira (31), uma campanha que expõe os impactos ambientais do cultivo e uso do tabaco. Intitulada de "Tabaco: uma ameaça ao ambiente e à saúde das pessoas", a campanha traz uma série de conteúdos informativos para divulgação nas redes sociais. O lançamento faz parte das atividades do Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado anualmente no dia 31 de maio e que, em 2022, tem como tema os malefícios do tabaco para o ambiente.
De acordo com a pesquisa, o cultivo do fumo está ligado ao desmatamento, tanto para a abertura de novas áreas de plantio como para obtenção de lenha para alimentar estufas onde ocorre a secagem das folhas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 1,5 bilhão de hectares de florestas já tenham sido perdidos devido ao cultivo do tabaco desde a década de 1970; hoje, 200 mil hectares de terra são desmatados todos os anos para este fim.
O órgão explicou que, em muitos países, é a mata nativa que segue sendo destruída. Ao mesmo tempo, solo, ar e água são poluídos, especialmente devido ao uso de agrotóxicos.
O descarte pós-consumo foi outro fator apontado como grave problema ambiental. a cada ano, 766,5 mil toneladas de bitucas são despejadas no ambiente, e os filtros de cigarros são um dos tipos de lixo plástico mais comuns nos oceanos.
Além de prejudicar o ambiente, o tabaco ameaça a saúde das pessoas que trabalham na cadeia produtiva. Na fumicultura, agricultores são prejudicados não apenas pela exposição a agrotóxicos como também pela doença da folha verde do tabaco, causada pela absorção dérmica da nicotina presente nas folhas verdes.
"No Brasil, entre 2010 e 2019 foram notificados no Sinan [Sistema Nacional de Agravos de Notificação] apenas 760 casos de intoxicação pela planta do tabaco em decorrência do trabalho. É um número muito baixo e que indica forte subnotificação, já que há cerca de 160 mil famílias produzindo tabaco no país, e o contato dos trabalhadores e trabalhadoras com as folhas verdes úmidas, especialmente durante o verão, é muito frequente”, nota Marcelo Moreno, coordenador do Centro de Conhecimento e pesquisador do Cetab/Ensp/Fiocruz.
Entre os 16.221 casos registrados de intoxicação por agrotóxicos agrícolas decorrentes do trabalho ou ocupação no Brasil, a fumicultura foi a atividade com o maior número de registros (11,2% do total), seguida pelas culturas de soja (8,5%), café (7,6%) e milho (5,8%).
O pesquisador ressalta que a indústria do tabaco deveria ser responsabilizada tanto pelos seus impactos ambientais como pelos danos à saúde dos trabalhadores, mas isso dificilmente ocorre: “Ao contrário, os contratos firmados entre empresas e agricultores geralmente atribuem a estes últimos toda a responsabilidade pelas questões ambientais e pela sua própria saúde”.