Fiocruz desenvolve primeiro teste molecular do Brasil para detectar hanseníase
Doença atinge em torno de 27 mil pessoas por ano no país

Foto: Erasmo Salomão/MS
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveu o Kit NAT Hanseníase, primeiro teste molecular para a doença crônica, após décadas de pesquisas. O novo teste já obteve registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, segundo os pesquisadores, foi desenvolvido baseado na metodologia de PCR (sigla em inglês para a reação em cadeia da polimerase). Nesse caso, o exame detecta o DNA do bacilo Mycobacterium leprae, causador da doença, e pode facilitar a detecção precoce da hanseníase.
Segundo o líder do projeto e chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC, Milton Ozório Moraes, a aplicação de uma metodologia de ponta contra uma doença negligenciada é de grande importância para o Brasil. “Até então, não havia testes diagnósticos de hanseníase considerados padrão ouro. É um marco colocar esse exame à disposição de populações vulneráveis, que são as que mais desenvolvem a doença e carecem de avanços tecnológicos”, disse Moraes.
Para o pesquisador da Fiocruz-PR, Alexandre Costa, que coordenou o desenvolvimento do exame no IBMP, doenças tropicais negligenciadas não costumam atrair o interesse da indústria. “Com o Kit NAT Hanseníase, temos um teste nacional, com qualidade de primeiro mundo, que pode contribuir para a saúde da nossa população”, afirmou.
A hanseníase constitui um grave problema de saúde pública no Brasil, que detém o segundo maior número de casos do mundo, depois da Índia. Atualmente, a doença atinge em torno de 27 mil pessoas por ano no país. De acordo com os especialistas, essa é uma das doenças mais antigas da humanidade, com relatos de casos desde 600 a.C. Entre as pessoas acometidas a cada ano, mais de duas mil têm diagnóstico tardio, o que acarreta lesões neurológicas que provocam deformidades visíveis e prejudicam a visão ou o movimento das mãos ou dos pés.
De acordo com informação da Fiocruz, o Kit NAT Hanseníase é o primeiro teste molecular comercial para a doença desenvolvido no Brasil e o segundo exame desse tipo a obter o registro da Anvisa. O desenvolvimento do Kit NAT Hanseníase vai contribuir para o Sistema Único de Saúde (SUS). Centro de referência nacional junto ao Ministério da Saúde, o Laboratório de Hanseníase do IOC atua na pesquisa, no ensino e no atendimento a pacientes, que é realizado por meio do Ambulatório Souza Araújo.
O registro na Anvisa permite a comercialização do teste e é uma exigência para que o exame possa ser oferecido no SUS. A adoção da metodologia depende da avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que envia a recomendação ao Ministério da Saúde, a quem cabe a decisão final. “Se o kit for aprovado, temos capacidade de produção em larga escala para atender a população brasileira”, disse Milton Ozório Moraes.


