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Geração Z e o uso de remédios: entenda os motivos e riscos do uso recreativo de fármacos

Tendência é denominada de “fármaco-recreativo”

Por Uéditon Teixeira , Beatriz Nonato
Às

Geração Z e o uso de remédios: entenda os motivos e riscos do uso recreativo de fármacos

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A automedicação não é algo novo no Brasil: de acordo com pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), 9 em cada 10 brasileiros utilizam medicações sem prescrição médica. Nos últimos anos, houve um aumento significativo nesse comportamento, principalmente na forma do uso recreativo, que ocorre quando uma pessoa utiliza medicamentos com a intenção de obter efeitos como euforia, relaxamento ou aumento de energia.

O Farol da Bahia conversou com a psicóloga Thércia Vila Nova sobre o tema. A profissional alerta que o uso indevido de fármacos tem caminhado a passos largos para se tornar um problema de saúde pública. Além disso, a especialista destaca que, em torno do tema, existe um mercado e, com as redes sociais e publicidades, a sociedade vai criando ideais de corpo e de comportamento.

O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) revela que mais de 14% dos brasileiros usaram calmantes com ou sem prescrição médica. Nos adolescentes, cerca de 5% já tinham usado calmantes (benzodiazepínicos) sem indicação profissional.

Na geração Z, dos nascidos entre 1997 e 2012, este problema se intensifica com o uso abusivo das redes sociais. Ao acessar plataformas como Instagram e TikTok, jovens se deparam com influenciadores que indicam sintomas e soluções para cada um de seus problemas de saúde mental ou física, junto à publicidade de medicações.

O fácil acesso à informação, nem sempre de qualidade, favorece o autodiagnóstico. Ao se identificar com os sintomas, o jovem espectador procura uma solução prática e imediata: a automedicação. E, de repente, já está tomando gomas de melatonina para ajudar no sono, aquele até então desconhecido anticoncepcional que só ouviu falar pela tal influenciadora, entre outros fármacos. Além do fácil acesso à informação, o modelo de vida pautado pela produtividade pode ser um dos fatores contribuintes para o aumento da tendência.

“Esse modelo de vida pautado pela produtividade, com a carga horária extensa de trabalho e de estudo, vai desenvolvendo algumas questões psíquicas. Temos um aumento expressivo de transtornos como ansiedade, depressão, e de alguma forma, a medicação que vai maquiando esses sintomas”, diz a especialista.

“Para me manter produtiva, eu tomo a medicação para concentração e consigo dar conta. Se eu estou há noites sem dormir, com sono, tomo algo que vai me deixar estimulada para continuar nesse modo de produção”, completa a profissional ao exemplificar situações em que o uso de medicação sem prescrição é socialmente comum.

“A diferença é que, quando o uso é organizado por um profissional, tem um processo de avaliação. Quais são os indicadores que fazem aquele profissional pensar o uso dessa medicação? Ela é pensada dentro de uma dosagem específica para aquele indivíduo e, além disso, o intuito é que o sujeito vá desenvolvendo estratégias de enfrentamento para conseguir sair do uso da medicação, que é diferente desse uso sem prescrição baseado apenas no apaziguamento momentâneo do sintoma”, afirma Thércia.

Riscos vão de aumento de sintomas como ansiedade até dependência química

A psiquiatra Jéssica Sampaio também alerta para os perigos do uso de medicações sem acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. “As reações adversas, como sonolência excessiva, queda de pressão, confusão mental ou arritmias, acabam agravando com o uso dos neuroestimulantes. Muitos pacientes acabam trazendo prejuízo, intensificando o quadro, como também a tolerância levando à dependência química e, além disso, risco de overdose, principalmente com ansiolíticos e sedativos", explica ao Farol da Bahia.

A automedicação também pode agravar quadros psiquiátricos, afirma Jéssica. “Os neuroestimulantes trazem e intensificam a ansiedade do paciente. O aumento da irritabilidade, estresse e insônia pode retardar o diagnóstico e reforçar o comportamento de fuga, agravando quadros psiquiátricos”, detalha.

De acordo com Thércia Vila Nova, os riscos são muitos. As substâncias psicoativas têm efeitos colaterais, tanto físicos quanto psíquicos. Para a especialista, é preciso desenvolver estratégias que estejam além de somente o uso de remédios. “O acompanhamento psicológico vai auxiliar o sujeito exatamente a desenvolver outros recursos para que não seja necessário o uso da medicação”, explica.

A terapia ajuda o sujeito na regulação emocional, a construir estratégias de enfrentamento para lidar com as situações que geram frustração, medo e raiva, na adesão de uma rotina saudável, indica a psicóloga. “Com autocuidado, o indivíduo irá se comprometer com aquilo que é importante para ele, com o bem-estar”, afirma.

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