Governo Lula pede cautela a ministros para evitar vitimização de Bolsonaro

Planalto orienta ministros a evitar manifestações sobre tornozeleira de Bolsonaro para não reforçar discurso de perseguição política

Por FolhaPress
Ás

Governo Lula pede cautela a ministros para evitar vitimização de Bolsonaro

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Palácio do Planalto tem recomendado cautela a seus ministros ao tratar da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de pôr uma tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A orientação do governo Lula (PT) é para que não se dê margem a um discurso de perseguição política, comum entre bolsonaristas.

Os ministros Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação) têm sido porta-vozes da recomendação. Sidônio, que conversou com o presidente Lula na manhã desta sexta-feira (18), tem orientado para que não se leve o debate para dentro do governo nem se toque no assunto.

Pela manhã, o ministro da Secom não tinha tomado a iniciativa de procurar os colegas de Esplanada, mas feito a recomendação quando consultado sobre o assunto. À tarde, a Secom passou a orientar os ministros para que evitem manifestações, especialmente nas redes.

Apesar disso, a conta oficial do governo federal publicou um vídeo com a legenda "sextou com S de soberania", horas após a operação da PF. O vídeo faz um enaltecimento do Brasil e reforça o discurso de patriotismo intensificado pelo governo desde o anúncio do tarifaço de Donald Trump.

Gleisi, por sua vez, chegou a determinar a exclusão de um post publicado por sua assessoria com alusões à PF e à sexta-feira. "Bom dia PF! Sextou com busca e apreensão na casa do golpista. Grande dia!". A ministra disse que não tinha conhecimento da postagem e que não se deve brincar com coisa séria. "O governo está adotando uma postura de sobriedade em relação à situação. É um assunto da justiça, que tem conduzido respeitando o devido processo legal", afirmou. "Sobre post que modifiquei: A postagem foi feita sem meu conhecimento. Pedi para alterarem. Lamento que tenha sido feito ironia com assunto tão sério", acrescentou.

Mais tarde, Gleisi voltou a mencionar o tema em publicação nas redes sociais, mas sem comemorar a operação. A ministra respondeu ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que mais cedo havia defendido Bolsonaro e dito que "não haverá pacificação enquanto não encontrarmos o caminho do equilíbrio". "Quem interferiu ilegalmente no processo eleitoral brasileiro e comandou um golpe contra o resultado de eleições livres e justas foi Jair Bolsonaro. É ele que intenta sacrificar a honra e a soberania do país", escreveu Gleisi.

Sem tomar conhecimento da orientação, o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) publicou a notícia nas redes sociais e fez um gracejo, sugerindo que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se cuide na volta ao Brasil. "O bananinha @BolsonaroSP que se cuide porque ao voltar para o Brasil pode ter uma tornozeleira eletrônica esperando por ele aqui", ironizou.

Minutos depois, Teixeira listou o que, na sua opinião, são indícios de um plano de fuga de Bolsonaro. "1) Dormiu uma noite na embaixada da Hungria em Brasília; 2) o governador @tarcisiogdf foi ao STF pedir a liberação do passaporte de @jairbolsonaro; 3) seu filho @BolsonaroSP foi aos EUA pedir para @realDonaldTrump pressionar o judiciário brasileiro para absolver @jairbolsonaro", publicou. À tarde, após receber a recomendação do Palácio do Planalto, decidiu excluir a publicação.

O ministro Luiz Marinho também fez uma postagem sobre a operação. "TOC, TOC, TOC! Agora, um possível plano de fuga ficou mais difícil. O @STF determinou uso de tornozeleira eletrônica no ex-presidente golpista, e a @policiafederal já cumpriu a decisão da Justiça. Como não é uma joia das 'Arábias', não poderá ser desviada nem vendida. #AnistiaNão", escreveu.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, chamou a operação de vitória contra o golpismo. O deputado afirmou que a operação decorre de um inquérito que teve origem em uma representação criminal protocolada por ele em maio contra Eduardo Bolsonaro. "E, em 11/7/25, ao denunciar a tentativa de Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] de facilitar a fuga de Jair, reforçamos a urgência da medida cautelar de monitoramento eletrônico com tornozeleira. É uma vitória do Estado de Direito contra o golpismo transnacional", diz na publicação.

Liderança do governo Lula na Câmara, José Guimarães também se manifestou. "Atacar as instituições, conspirar contra a Constituição e desrespeitar a vontade do povo são crimes graves que não podem ficar impunes".

Outros integrantes do PT têm comemorado nas redes sociais a ação contra Bolsonaro, mas dirigentes do partido têm desestimulado um foco sobre o assunto. "Bolsonaro é problema do Ministério Público e do Judiciário", disse o presidente eleito do PT, Edinho Silva. A ideia da cúpula petista é manter o foco do debate público em discussões sobre justiça tributária e soberania nacional.

Essas duas pautas unificaram os discursos do partido e do governo nas últimas semanas e são apontadas como responsáveis pela oscilação positiva na popularidade de Lula detectada em pesquisas de opinião.

Uma semana após o tarifaço do presidente dos Estados Unidos contra o Brasil e de uma série de declarações da família Bolsonaro e do próprio americano explorando a medida para fazer pressão contra a ação penal da trama golpista em que Bolsonaro é réu, o ex-presidente foi alvo, nesta sexta-feira, de operação da PF e terá que usar tornozeleira eletrônica.

As medidas, autorizadas por Alexandre de Moraes, se deram em um procedimento que tramita sob sigilo na corte e que foi autuado e distribuído para o gabinete do ministro em 11 de julho, dois dias depois que Trump anunciou a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros citando o processo contra Bolsonaro. Em sua decisão, Moraes afirma que as falas de Bolsonaro e a atuação de Eduardo nos EUA são atentados à soberania nacional.

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