Greve Geral na França: Meio milhão de manifestantes e incidentes em Paris
Sindicatos afirmam que mais de 510 mil pessoas participaram das manifestações

Foto: Reprodução / IG
A Greve geral na França reuniu nesta quinta-feira (5), mais de 510 mil manifestantes em Paris e em quase 70 cidades francesas. Os protestos são contra as novas medidas do sistema de reformas proposta pelo Presidente francês, Emmanuel Macron. Houve registro de incidentes na capital.
Os confrontos na capital começaram por volta das 16h nas avenidas do leste da cidade, onde foi formado um grupo com pelo menos 500 pessoas consideradas radicais. Manifestantes encapuzados provocaram confrontos com a polícia, durante a manifestação.
A Prefeitura da Polícia de Paris indicou, na sua conta da rede social Twitter, que até às 15:30 as forças de ordem já tinham detido 71 pessoas e realizado 9350 controlos para tentar evitar os conflitos.
Fontes sindicais informaram que foram realizadas assembleias gerais de trabalhadores do setor dos transportes que votaram, por esmagadora maioria, a continuação da greve nos transportes na capital francesa "até segunda-feira".
A greve geral que começou nesta quarta-feira (4), atinge todos os setores essenciais tornando difícil chegar aos locais de trabalho, deixar as crianças na escola, ter acesso às urgências ou chamar os bombeiros.
Convocada pelas grandes associações sindicais, a intersindical e interprofissional, previa-se que a greve teria mais impacto nos transportes, o setor mais mobilizado e o primeiro a opor-se com veemência à introdução do novo sistema de reformas que quer acabar com os 42 subsistemas de pensões atualmente existentes em França.
A SNCF, empresa ferroviária, assegura apenas um em cada 10 TGV e um em cada 10 comboios regionais, incluindo na parisiense, e intercidades. Quanto ao Eurostar, apenas um em cada dois vão fazer viagens e não haverá qualquer ligação a Itália, Espanha e Alemanha.
Quanto aos transportes dentro da capital, a RATP prevê que a maior parte das linhas do metrô estejam fechadas, exceto as linhas 1 e 14, que são automáticas, mas que também serão fechadas caso tenha muitos passageiros.
Protesto só acaba quando governo recuar
Segundo os sindicalistas, o protesto só acaba quando o Governo recuar no projeto de reforma do sistema de pensões, ideia reforçada pelo fato de a greve ter generalizado a todos os setores da sociedade francesa, com cortejos em pontos, perturbados por black blocs [grupos que se reúnem, mascarados e vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua].
"Em 1995 partimos dos mesmos princípios, mas não tivemos o tempo de preparação que tivemos agora. Nessa altura era muito mais os regimes especiais e esta quinta-feira está toda a gente na rua. Estamos muito mais num modelo 1968 do que em 1995", afirmou Bertrand Hammache, secretário-geral da CGT-RATP, que já trabalhava na empresa de transportes de Paris em 1995 quando houve uma greve que durou três semanas também devido a uma proposta do Governo para mudar o sistema de pensões.
Durante os protestos houveram incidentes entre a polícia e black blocs, que não permitiram o avanço dos tradicionais carros com os símbolos dos sindicatos que assinalam a presença das diferentes classes profissionais.
A prefeitura de Paris reforçou a segurança da capital com seis mil polícias, mas isso não impediu desacatos, incluindo alguns pequenos incêndios na Praça Republique.
Do outro lado, os estudantes também não estão satisfeitos. "Este sistema de pontos que o Governo quer introduzir diz-nos respeito diretamente porque com o novo sistema, todo o tipo de trabalhos que temos enquanto jovens e estudantes, vão contar para a nossa carreira contributiva, enquanto agora contam os melhores 25 anos", indicou Helno Eyriey, vice-presidente da União Nacional de Estudantes de França (UNEF), lembrando uma exigência antiga desta associação para que os anos de universidade ou formação contem para a idade da reforma já que atualmente a idade média de entrada no mercado de trabalho em França se situa nos 28 anos.
"As pensões das mulheres vão diminuir porque com o novo projeto vai ser considerada toda a carreira e até agora tinha-se em conta os melhores 25 anos. Assim, como são as mulheres que trabalham mais a meio tempo e têm contratos mais precários, são as que mais vão perder neste sistema de pontos", afirmou Ana Azaria, presidente da Organização de Mulheres Igualdade.
Segundo Ana Azaria, as mulheres reformadas estão entre as classes mais afetadas pela pobreza em França, com uma disparidade média face aos homens na pensão mensal de quase 700 euros.
Torre Eiffel e museus foram fechados
A Torre Eiffel, um dos monumentos mais visitados de Paris, e vários museus da capital francesa ficaram fechados nesta quinta-feira (5) por conta das manifestações nas ruas. Na Torre, que completou 130 anos em 2019, a visitação não foi permitida porque muitos funcionários aderiram aos protestos enquanto outros não conseguiram ir ao trabalho por falta de transportes.
O mesmo ocorreu no Arco del Triunfo e na Santa Capela, dois monumentos que estão entre os mais populares da Cidade Luz.
Os turistas que queriam visitar os museus de Orsay, Cluny, Picasso ou Guimet também encontraram esses locais fechados.
O Louvre, o museu mais visitado do mundo, permaneceu aberto, mas não completamente. As principais salas estavam fechadas. A exposição d "Leonardo da Vinci" foi aberta, mas apenas para visitantes que compraram seus ingressos com antecedência.
No Centro Pompidou, os visitantes só podiam visitar as exposições de Bacon e Boltanski. Os outros estavam fechados. No Grand Palais, a exposição sobre El Greco recebeu visitantes, mas não a consagrada a Toulouse-Lautrec.
Outro destino popular para turistas de todo o mundo, o Palácio de Versalhes, a 30 km de Paris, não abriu suas portas nesta quinta-feira. Quem foi ao local só podia visitar seus jardins.