Gripe aviária no Brasil pode gerar impactos para além do agro; entenda

Recuo nas exportações e uso político produzem efeitos macroeconômicos, dizem especialistas

Por Inara Almeida
Ás

Atualizado
Gripe aviária no Brasil pode gerar impactos para além do agro; entenda

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

A descoberta de um foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, na última sexta-feira (16), caiu como uma bomba no setor de agronegócio brasileiro, que representa cerca de 25% do PIB nacional. O maior exportador de carne de frango do mundo observou, quase que imediatamente, o recuo da China, seu principal cliente, na compra da ave, além da União Europeia, Canadá, Japão, Argentina e outros países.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apontam que a decisão temporária dos países pode gerar prejuízos superiores a R$ 1,6 bilhão por mês. Os efeitos desse embargo, porém, podem ser ainda mais profundos e ir além do agro, indicam especialistas ouvidos pelo Farol da Bahia. Segundo João Kepler, CEO da Equity Group, o Brasil, sendo um dos maiores exportadores globais, corre o risco de enfrentar barreiras sanitárias em mercados estratégicos, o que afetaria diretamente a balança comercial e, por consequência, a confiança do investidor estrangeiro.

"Além disso, em um cenário de inflação elevada, eventuais quedas na exportação podem levar à redução dos preços internos, com efeitos mistos sobre consumo e rentabilidade do setor", explica.

Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, chama atenção ainda para as chances de que a sobrecarga no mercado interno não leve à redução dos preços, uma vez que os custos de produção "seguem elevados".

Guerra comercial

A investigação de novos focos da doença torna-se um problema ainda maior em um cenário de guerra comercial. "Países como os EUA, grandes concorrentes na exportação de proteína animal, podem explorar o episódio como vantagem geopolítica em meio à crescente disputa comercial", destaca Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.

Para Pedro da Matta, CEO da Audax Capital, esse tipo de evento também pode ser usado como argumento para medidas protecionistas por parte de países que já vinham pressionando por barreiras comerciais. “O risco não está apenas na gripe aviária em si, mas no uso político do episódio. É fundamental que o Brasil reforce sua comunicação internacional com agilidade e transparência para preservar os acordos em vigor”, afirma Pedro.


 

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