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Haitianos deixam Brasil em direção aos EUA atraídos por fake news de fronteira aberta por Joe Biden

Detenção de haitianos na fronteira americana triplicou em janeiro de 2021

Por Da Redação
Ás

Haitianos deixam Brasil em direção aos EUA atraídos por fake news de fronteira aberta por Joe Biden

Foto: Arquivo pessoal/Via BBC

Haitianos resolvem deixar o Brasil em direção aos Estados Unidos atraídos por uma fake news de fronteira aberta pelo presidente dos EUA, Joe Biden. Movidos por uma insatisfação com a crise econômica brasileira e mobilizados por um boato de que, sob a gestão de Biden, as fronteiras dos EUA estariam abertas para eles, especialmente para mulheres grávidas ou com bebês de colo, os haitianos se lançam em uma longa e perigosa jornada de partida do Brasil. Atualmente, a detenção de haitianos na fronteira americana triplicou em janeiro de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020.

Aos 33 anos, a haitiana Manite "Carol" Dorlean,  grávida de oito meses de gêmeos, viu nas  águas do Rio Grande, na fronteira entre Estados Unidos e México, a mais curta distância de realizar um sonho. Em entrevista à BBC News Brasil, Gordia "Hector" Pierre, ex-marido de Carol, que vive na República Dominicana,  disse que a  ponte da Integração foi liberada depois de passar mais de 20 dias ocupada por imigrantes haitianos e africanos. "Ela cruzou porque sempre teve em mente que os EUA são a terra de onde jorra leite e mel. Todo mundo quer chegar ali", contou à BBC News Brasil.

Depois de passar dois anos no Brasil perseguindo, sem sucesso, uma vida melhor, Carol entrou no leito do Rio Grande acreditando que nos EUA encontraria o que buscava. Contudo, segundo as autoridades americanas, ela jamais chegou à margem americana com vida. O corpo dela foi resgatado pela guarda fronteiriça dos EUA no dia 8 de janeiro. Ela se tornou a 18ª pessoa morta por afogamento e hipotermia desde outubro de 2020.

A trajetória de Carol, da partida do Brasil até sua chegada aos EUA, é um exemplo de um movimento que cada vez mais haitianos têm tentado fazer. Onze anos depois do terremoto que devastou o Haiti e acelerou a vinda de imigrantes ao Brasil, segundo informações da  Polícia Federal (PF), estimados 130 mil haitianos teriam entrado no país entre 2010 e 2018. De acordo com os dados entregues à BBC News Brasil pela Alfândega e Proteção de Fronteira dos EUA, o número de detenções de haitianos que cruzaram sem visto a divisa com o México em janeiro de 2021, em plena pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus,  mais que triplicou em relação ao mesmo mês de 2020.

Enquanto nos primeiros 31 dias do ano passado foram localizados 470 haitianos tentando entrar nos EUA via México sem visto, no mesmo período deste ano foram 1,7 mil. Na última segunda-feira (8), um grupo de cem imigrantes, a maior parte deles haitiana, decidiu deixar a ponte onde estava acampado há quase um mês, na fronteira entre Peru e Brasil, em Assis Brasil, no Acre. Entre o grupo, havia de 15 a 20 crianças e cinco mulheres grávidas, uma delas já no oitavo mês de gestação. No município de apenas 7,5 mil habitantes, ao menos mais três centenas de haitianos recém-chegados tentavam acolhimento em abrigos precários e improvisados.

Todos eles tinham a intenção de sair do Brasil e passar pelo Peru. A agentes sociais, admitiram que o território peruano não é seu destino final, a maioria tentaria chegar aos EUA. No caso dos haitianos e outros migrantes que partem por rota terrestre do Brasil, a jornada inclui saída pelo Acre e passagens pelo Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Nicarágua, Costa Rica, Honduras e Guatemala, até chegar ao México.

Mas há pouco mais de um mês, o governo peruano fechou sua fronteira terrestre por conta da pandemia de Covid-19 e interrompeu o fluxo, o que criou tensão e impasse na área. Em tentativas de forçar a passagem, haitianos e alguns africanos foram reprimidos com bombas de efeito moral e golpes de cassetete. 

 Sonho americano

Ao se eleger, Biden prometeu acabar com o que chamou de política migratória "cruel e desumana" do ex-presidente Donald Trump e readmitir refugiados e migrantes em território americano. Prometeu ainda construir com o Congresso americano um caminho de cidadania para 11 milhões de imigrantes indocumentados que vivem hoje no país. Todas as promessas chegaram aos ouvidos da comunidade haitiana como uma certeza de asilo se chegarem ao território americano, um sonho histórico dos migrantes do país. Os EUA hoje concentram a maior comunidade haitiana fora do Haiti, com estimadas 700 mil pessoas, segundo dados de 2018 do Migration Policy Institute.

Ainda em entrevista, Pierre, ex-marido de Carol, conta que esse tipo de discurso animou não só a ex-companheira, mas muitos na comunidade. "Agora nos EUA está Biden, eles dizem que Biden está suave. Mas Biden não conversou com eles, não sei em que idioma Biden e os haitianos conversaram, mas eles dizem que Biden é o pai do migrante, que vai deixar cruzar, e se matam, deixam trabalho bom pra partir pros EUA", disse Pierre

Em janeiro de 2021, os EUA registraram a detenção de mais de 78 mil pessoas que tentaram cruzar a fronteira com o México irregularmente, o maior número para o período em mais de uma década. Segundo reportagem do jornal americano New York Times, nas últimas duas semanas, o número de menores de idade desacompanhados na região da fronteira triplicou, ultrapassando mais de 3 mil. A Defensoria Pública da União tem feito circular informes em que tenta rebater essas fake news e conter o fluxo, ou ao menos oferecer informações mais confiáveis para uma decisão consciente sobre a partida do Brasil.

Em entrevista recente à BBC News Brasil, a porta-voz do Departamento de Estados dos EUA Kristina Rosales afirmou que " os Estados Unidos estão trabalhando numa política para restauração do processo de migração, que vai ser organizado e justo, que não vai ser aquele processo que vai todo mundo pra fronteira e entra quem ganhar no '1,2,3 e já'". Na fronteira americana, sem condições de fazer frente à onda migratória, o governo Biden tem sido criticado por usar um expediente criado pelo antecessor, Trump, durante a pandemia, para expulsar sumariamente migrantes.

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