Homens que foram pais após os 50 se beneficiam de mais tempo com os filhos
sses pais de primeira viagem relatam ter mais maturidade e também mais tempo para dedicar à criação dos filhos

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Com os avanços da medicina, o aumento da longevidade e a melhora na qualidade de vida dos idosos, a paternidade tardia vai se tornando mais comum, com homens tendo seus primeiros filhos após os 50 anos de idade.
Esses pais de primeira viagem relatam ter mais maturidade e também mais tempo para dedicar à criação dos filhos. Dizem não se incomodar com quem os confunde com avôs e afirmam construir uma relação de proximidade com os filhos.
Assim acontece com Wilson Mazzola, 70, pai do influenciador Matheus Mazzola, 20. Ele e a esposa resolveram adiar a chegada do primeiro filho para priorizar os estudos dela, que fez três graduações. Funcionário do serviço público, ele se aposentou quando o filho tinha 10 anos.
"Meu pai sempre podia me levar para meus treinos e meus jogos de basquete. Se ele ficasse trabalhando, não teria tanto tempo. Então, fez diferença", diz Matheus.
Pai e filho fazem sucesso no Tiktok, onde Matheus tem mais 5 milhões de seguidores e publica vídeos de humor. "A galera fica bem surpresa. Muita gente achava que ele era meu avô."
Além da diferença de idade, a divergência de opinião entre os dois é outro atrativo. Matheus diz que, embora entre na onda dos vídeos, o pai tem certa dificuldade de encarar a produção de conteúdo na internet como um trabalho. "Ele acha que é bobagem, porque ele conseguiu tudo estudando. Como não faço faculdade atualmente, ele insiste muito nessa questão do estudo."
"Acho que estudar também faz parte. Acho que é o começo de tudo, é a prioridade", reforça Wilson.
Para o filho, o pai também é diferente por saber cozinhar, carpintar, jardinar e reparar qualquer coisa da casa, habilidades que ele não aprendeu. "A galera respeita e admira muito ele. Ele está roubando os meus seguidores", brinca.
Valmari Cristina Aranha, psicóloga e membro da Comissão de Formação Gerontológica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), diz que recebe em seu consultório idosos que vão ser pais com diversas preocupações, como o medo de ter um filho com deficiência, de não conseguir ou de não ter saúde para cuidar de uma criança, de não ter condições financeiras e de estar desatualizado.
Aranha diz que tenta mostrar que, quanto mais avançada a idade, mais o pai tem experiência e maturidade para cuidar do filho. "Você tem mais capacidade de fazer escolhas e mais tempo e disponibilidade para cuidar dessa criança", afirma.
A psicóloga destaca também que a paternidade pode ser uma oportunidade de rejuvenescer social, física e psiquicamente. "A criança vai te fazer ter novos propósitos. Você vai entrar em outro universo, vai conhecer os pais dos amigos dela. É como se o mundo te fosse apresentado novamente, por novos olhos."
As crianças, da mesma forma, não serão prejudicadas por terem pais mais velhos. "O que vai fazer diferença, de verdade, é a postura desse pai. Ele pode ter cabelos brancos, mas ser uma pessoa jovial, ativa e descolada. Assim como há pais jovens que podem ter comportamentos conservadores", completa a psicóloga.
Ari Bastos Barroso, 83, conta que se tornou pai pela primeira vez aos 56 anos. Ele se casou aos 40, e Débora Barroso nasceu 16 anos após o casamento.
A filha única nasceu quando Lúcia Helena Barroso, esposa de Ari, então com 40 anos, havia acabado e receber uma promoção no trabalho. Coube a ele, que já podia se aposentar, deixar o lado profissional para se dedicar à filha. "A família é tudo, né?", afirma Ari.
"É um excelente pai. Ele se aposentou em definitivo e ficou cuidando da Débora para eu voltar a trabalhar. O Ari exerceu a paternidade e a maternidade", diz Lúcia. "Isso me surpreendeu porque ele já era mais velho e teve uma criação preconceituosa em relação a homem cuidar da casa."
O casal diz que criou a filha de forma próxima, com muito diálogo. Hoje com 27 anos, Débora é mestranda em psicologia e mora em outra cidade, mas os os pais dizem falar com ela todos os dias.
Ari conta que ele e Lúcia enfrentaram dificuldades para engravidar, e ela se submeteu a tratamentos de fertilização por vários anos.
Segundo ele, médicos alertaram o casal sobre os riscos e os desafios de uma gestação tardia, em que a idade do homem também importa.
Medidas e cuidados
O urologista Marcelo Horta Furtado, membro da Sociedade Brasileira de Urologia e especialista em infertilidade masculina, diz que, com o passar da idade, a produção de testosterona pelo corpo diminui, assim como a produção de espermatozoides. Ele diz ainda que comorbidades como hipertensão arterial e diabetes também podem afetar a fertilidade e dificultar a gravidez.
O médico afirma que hoje já se sabe que o homem pode apresentar fragmentações do DNA espermático, uma condição caracterizada pela quebra ou ruptura das cadeias de DNA dentro dos espermatozoides. Isso reduz as chances de gravidez, e o risco de aborto aumenta, já que a fecundação depende da qualidade dos gametas masculinos e femininos.
A fragmentação do DNA paterno também pode elevar, em pequena escala, o risco de alterações como baixo peso ao nascer, prematuridade, alterações neuropsíquicas como autismo, hiperatividade, TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e esquizofrenia, bem como o risco de câncer na infância.
Furtado afirma que não há motivo para alarde nem para desistência da paternidade tardia, mas ressalta a necessidade de cuidar da saúde. Segundo ele, o principal é manter hábitos saudáveis ao longo da vida, com uma boa alimentação e prática de atividade física.
Técnicas de reprodução assistida também são opção. Maria do Carmos Borges de Souza, ginecologista especialista em reprodução humana e diretora médica da clínica Fertipraxis, no Rio de Janeiro, diz que o congelamento de espermatozoides, assim como de óvulos, já é uma realidade. Segundo a médica, contudo, não há consenso sobre a idade ideal para que homens recorram ao procedimento --para mulheres, a recomendação dos médicos é que iniciem aos 35 anos.