/

Home

/

Notícias

/

Editorial

/

Ídolos e idolatria

Notícias
Editorial

Ídolos e idolatria

Por Erick Tedesco
Ídolos e idolatria
Foto: Jonne Roriz/COB

De Ayrton Senna a Neymar, o brasileiro adora apontar ídolos no esporte. Tem a ver com o que historiadores chamam de “comunidade de sentido”, quando um indivíduo se reconhece em ações ou na personalidade de outro. 

É, em amplitude, sair do anonimato e se reconhecer sob holofotes, devidamente registrado pela mídia. Afinal, sem o serviço – ou desserviço, na maioria dos casos – dos meios de comunicação, o impacto da idolatria seria pífio, basta revisar o passado e tentar elencar quantos esportivas foram perpetuados nos anais dos heróis nacionais. Poucos, sem dúvida, e nem todos eles icônicos ou exageradamente laureados para servir de exemplo à formação de caráter.
 
Pelé, por exemplo, numa época em que a imprensa já tinha grande poder de influência na formação de opinião popular, há décadas perambula por aí com o “rei na barriga”. Coroado Rei do Futebol, o mineiro e eterno ex-jogador do Santos elevou seu nome pelos feitos em campos, mas também sempre se mostrou ávido aos regalos de celebridades. Namorou a Xuxa, fez comerciais, cantou e fez pinta de galã no cinema nacional.

Também alimentou, e alimenta até hoje, a desnecessária rivalidade com o Hermano Maradona pelo título real. Agora, quer que o povo engula esse tal de Neymar, o popstar do meio futebolístico que cada vez mais atua para as câmaras do que faz com os pés e com a mente, para confabular o que fazer com a bola e fazer valer o alto salário que recebe para trabalhar corretamente num campo. 

Pelé e Neymar, ambos com cadeira cativa no esporte brasileiro, um mesmo tipo de ídolo que desgraça a tal da comunidade de sentido para o povo, apesar de ainda seduzir muito desmiolados. Diferente de Senna, o saudoso corredor da elitista Fórmula 1 que morreu num trágico acidente, em pleno trabalho, na até então melhor corrida do ano dirigindo um carro da Willians, isso em 1994. Em um documentário sobre o ex-piloto, cujo nome da produção me falha à mente, um repórter pergunta a uma mulher por que ela idolatrava Senna, e a humildade e perseverança nas pistas foram apontadas. 

Senna também teve a intimidade exposta, mas não aceitou a coroa e deu alegria ao torcedor brasileiro até o último minuto da vida, como um esportista, um trabalhador que suou pelo reconhecimento.

Em tempos de Pan-Americano, o 27º da história e que acontece em Lima, a capital do Peru recheada de monumentos a ídolos dos antepassados Incas, a reflexão é pertinente diante dos quase 50 pódios já conquistados por esportivas brasileiros – quase todos eles desconhecidos ao público.

Mesmo os poucos cujos nomes não são totalmente estranhos, sem qualquer tipo de idolatria ou o status de ídolo na mídia, são simplesmente profissionais qualificados em seus respectivos esportes que mereceram os louros (ou, neste caso, medalhas). E esta é a melhor e mais digna conexão possível: ser aplaudido e servir de exemplo pelo feito esportivo, que nasce e morre na sua execução, sem exposição de intimidades. 

Próxima notícia
Fim do recesso branco

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br

Faça seu comentário
Eu li e aceito osPolítica de Privacidade.
© 2018 NVGO
redacao@fbcomunicacao.com.br
(71) 3042-8626/9908-5073
Rua Doutor José Peroba, 251, Civil Empresarial, 11º andar, Sala 1.102