Idosa é resgatada após passar 72 anos trabalhando em situação análoga à escravidão no Rio de Janeiro

Vítima trabalhou para a mesma família desde os 12 anos de idade, sem estudo, férias ou salário, segundo o MP

[Idosa é resgatada após passar 72 anos trabalhando em situação análoga à escravidão no Rio de Janeiro]

FOTO: Reprodução

Uma idosa de 84 anos foi resgatada de condições análogas ao trabalho escravo no Rio de Janeiro, depois de passar 72 anos trabalhando como empregada doméstica para três gerações de uma mesma família. Nesse período, ela cuidou da casa e de seus moradores, todos os dias, sem receber salário, segundo a fiscalização.

O Ministério do Trabalho e Previdência informou que o caso foi considerado a exploração mais longa de uma pessoa em situação de escravidão contemporânea no país, desde que o Brasil criou um sistema de fiscalização para enfrentar esse tipo de crime, em maio de 1995. De acordo com o órgão, nos últimos 27 anos, 58.166 pessoas foram resgatadas pelo poder público.

O resgate da idosa, que não teve identidade revelada, foi iniciado no dia 21 de setembro de 2021 e foi concluído no dia 5 de maio. No entanto, o processo ainda não terminou, uma vez que ainda está em negociação o pagamento dos salários e direitos atrasados da vítima.

A Superintendência Regional do Trabalho do Rio e o Ministério Público do Trabalho foram responsáveis pela ação de resgate, que ainda foi acompanhado pelo programa Ação Integrada.

A idosa foi resgatada no dia 15 de maio e está recebendo atendimento psicossocial em um abrigo da prefeitura do Rio de Janeiro. Essa foi a primeira vez que ela saiu da casa onde trabalhava.

“Precisamos entender o que houve. Hoje a força produtiva não é tão intensa, mas ela cuida da senhora empregadora que tem problemas de saúde. No depoimento ela alegou que teria que voltar para casa para dar banho, comida e remédios para a senhora que ela cuidava, que ela tinha uma dívida de gratidão. Ela não tem amigos, não estudou, não tem rédea da própria vida. Faz o que o empregador determina, é natural querer voltar para o ambiente, ainda que não seja digno”, afirmou Alexandre Lyra, auditor do Trabalho.

Lyra ainda afirmou que pessoas da casa afirmaram que a idosa era “como se fosse da família”, não sendo considerada por eles como uma empregada.  “Disseram que os serviços domésticos não eram trabalho, mas uma colaboração voluntária no âmbito familiar. Dizem que não tinham por que pagar salário se ela era da família, usaram a expressão ‘mãe preta’, ela comia, dormia no local, não tinha por que receber salário”, relatou.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Previdência 495 trabalhadores foram resgatados no país em 2022. Das 1.930 pessoas em situação de escravidão resgatadas no país em 2021, 27 vítimas estavam no serviço doméstico. Em 2020, haviam sido apenas três.


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