Indígenas cobram espaço nas negociações climáticas às vésperas da COP30
A conferência sobre mudanças climáticas da ONU começa na segunda-feira (10). Tradicionalmente, organizações da sociedade civil participam do evento apenas como observadoras

Foto: Ângela Amanakwa Kaxuyana via Wikipédia
JORGE ABREU - Os povos indígenas do Brasil exigem que suas vozes sejam ouvidas com poder de decisão nas negociações oficiais na COP30, disseram lideranças durante entrevista coletiva nesta quarta-feira (5). O encontro foi promovido pela ONG Greenpeace, que atracou o seu veleiro Rainbow Warrior (guerreiro do arco-íris), no porto da UFPA (Universidade Federal do Pará), em Belém.
"A COP30 deve ser espaço de escuta da voz dos povos indígenas, porque as decisões e as prioridades nós já temos bem definidas. Há muitos anos estamos alertando a humanidade sobre os riscos da crise climática", disse Angela Kaxuyana, representante da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) na bacia amazônica.
A conferência sobre mudanças climáticas da ONU começa na segunda-feira (10). Tradicionalmente, organizações da sociedade civil participam do evento apenas como observadoras. As decisões debatidas ao longo da programação são competências dos chefes de Estado e demais líderes globais.
Kaxuyana pede uma mudança nesse formato. Ela afirma que os povos indígenas deveriam ter autoridade para falar, trazendo sistemas de conhecimento ancestral como parte da solução climática. "A nossa principal expectativa é que nós tenhamos, primeiro, a dignidade de poder participar de tomadas de decisões", disse.
Ela apontou o que chamou de contradição de países que dizem se comprometer com ações de enfrentamento da crise climática, mas escolhem permanecer explorando combustíveis fósseis. "Essas mesmas autoridades se reúnem na zona azul, que exclui a participação dos povos indígenas. Nesse espaço somos meramente ouvintes, não somos negociadores", acrescentou.
Dinamam Tuxá, coordenador da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), contou que, em abril, a organização apresentou ao governo federal uma proposta de anexo à meta climática do governo brasileiro, conhecida como NDC (contribuição nacionalmente determinada, na sigla em inglês).
Entre as 36 propostas a principal é a demarcação de terras indígenas como medida para preservação dos biomas do Brasil. Segundo Tuxá, o papel dos povos indígenas na preservação da natureza é reconhecido em estudos de comunidades acadêmicas.
"As COPs, até a presente data, e o Acordo de Paris trouxeram metas que não foram aplicadas. Nós estamos próximos do ponto de não retorno na amazônia, e isso se dá pela intervenção humana, pelo modo predatório e a economia global", disse.
Para Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace Brasil, os líderes globais devem assumir "compromissos corajosos" para conter o avanço da crise climática. Ela reforça como medida a taxação dos países mais ricos e poluidores para aumentar o orçamento da transição energética justa e de planos de mitigação e adaptação.
"Até quando os grandes poluidores e as grandes empresas de combustíveis fósseis seguirão registrando lucros líquidos gigantescos, bilionários, enquanto a gente discute que não tem dinheiro para pagar planos de adaptação, por exemplo, ou custos da transição energética?", questionou.


