Indígenas reduzem delegação da COP30 a metade por limitações de hospedagem
Limitações de infraestrutura e financiamento reduzem presença indígena na principal conferência climática da ONU em Belém

Foto: Frame TV Brasil
A participação dos povos originários na COP30, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), será menor do que o esperado pela Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).
Segundo a entidade, a expectativa era reunir em Belém cerca de 6.000 indígenas das cinco regiões do Brasil e de outros países. Contudo, o governo federal anunciou, nesta semana, que a área destinada para abrigá-los, chamada de Aldeia COP, tem a capacidade de receber aproximadamente 3.000 pessoas.
O alojamento, conforme o comunicado, será na Escola de Aplicação da UFPA (Universidade Federal do Pará), a cerca de 5,7 km do Parque da Cidade, que vai abrigar as zonas azul e verde, principais espaços de discussão do evento.
"Não era o local que estávamos esperando. Nós tentamos organizar um local mais próximo de onde vai ser o ponto principal da COP30, por uma questão da mobilidade das lideranças indígenas, mas não conseguimos", diz à Folha de S.Paulo Toya Manchineri, coordenador da Coiab.
No ano passado, o governo do Pará afirmou que a Aldeia COP seria construída no Parque Estadual do Utinga, próximo do polígono onde devem se concentrar as atividades da conferência. Contudo, o projeto foi abandonado.
Para Manchineri, outra preocupação é com os custos para deslocamento de grupos de outros estados até o Pará, além de alimentação e transporte na cidade durante o período da conferência, que será realizada ao longo de mais de 20 dias (de 10 a 21 de novembro).
"A questão é que temos pouco financiamento para custear a chegada de lideranças para que possam permanecer, pelo menos, uma semana na COP. O movimento indígena não está conseguindo captar os recursos necessários para que a gente possa fazer essa cobertura de custos", conta.
De acordo com o Censo de 2022, mais da metade da população indígena está localizada na Amazônia Legal. A região abriga cerca de 867,9 mil indígenas, o equivalente a 51,2% do total no país (quase 1,7 milhão). Só no Pará, são 80.974.
Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, diz que busca alternativas de hospedagens para caso o número de representantes supere a faixa esperada de 3.000 na Aldeia COP. A pasta destaca que visita aldeias dos estados para levantar o número aproximado de participantes que estarão em Belém.
De acordo com a ministra, esta edição da COP deve ser a maior da história em participação de povos indígenas. Ela afirma que busca credenciar cerca de 1.000 representantes no espaço voltado para as decisões dos chefes de Estado e de governo.
"A gente está trabalhando para ter 500 indígenas do Brasil e mais 500 de outros países credenciados na zona azul, que é o local oficial das negociações da ONU. Além de milhares indígenas que participarão dos outros espaços", afirma a ministra.
Sônia destaca ainda a realização da Cúpula dos Povos, também em novembro, na UFPA, com programação paralela à conferência da ONU. A iniciativa buscará alinhar as demandas dos indígenas em relação ao enfrentamento na crise climática.
Em relação ao financiamento, o ministério informou que apoia o movimento indígena na articulação parcerias para garantir passagens, alimentação, transportes e demais custos. Ainda não há uma meta de orçamento para a programação.
Em Cáli (Colômbia), durante a COP16 da biodiversidade, organizações indígenas dos nove países da bacia amazônica criaram o G9, grupo de coalização para pressionar os chefes de Estado para solucionar questões ambientais.
Com uma de suas primeiras pautas, o grupo propôs uma copresidência indígena para a COP30, para assegurar direitos, sob o mote "A Resposta Somos Nós". A presidência brasileira da conferência do clima negou a proposta.
O pedido, diz o MPI, foi adaptado para mecanismos para garantir mais voz aos indígenas, como a criação do Círculo dos Povos.