Industria brasileira de alta tecnologia é a que mais sofre na crise, diz Iedi
Setor apresenta sucessivos recuos nos indicadores desde 2019

Foto: Reprodução/USP
O choque provocado pela pandemia do coronavírus gerou perdas mais fortes em 2020 nos ramos industriais mais intensivos em tecnologia, que fabricam itens como equipamentos de informática, eletroeletrônicos, farmacêuticos e aviões. O dado faz parte de um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), obtido com exclusividade pelo Estado de São Paulo (Estadão).
A indústria de maior intensidade tecnológica, que investe mais em pesquisa e desenvolvimento, já vinha de perdas mesmo antes da crise sanitária. Depois de uma queda de 3,3% em 2019, o segmento teve uma retração de 3,4% na produção no ano passado.
"O resultado de 2020 só não foi pior porque tem ali o ramo de medicamentos, que não teve crise, e o de eletroeletrônicos, devido a um desdobramento da pandemia. As pessoas ficaram mais em casa e investiram nesse tipo de bem", disse Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi, responsável pelo estudo.
Nos setores industriais de média-alta tecnologia, que possuí uma importante relação com outros ramos industriais, a produção caiu 12,6% em 2020, embora tenha subido 0,7% em 2019. No ano passado, a perda foi puxada pela menor fabricação de veículos (-28,1%), mas também houve recuos na produção de instrumentos de uso médico, odontológico e artigos óticos (-22,2%), máquinas e equipamentos (-4,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,6%).
“Como são segmentos relacionados à maior produtividade do trabalho, a perda de produção puxa para baixo a produtividade do setor industrial. Há uma perda de competitividade que acaba se refletindo na produtividade, com impacto negativo no desempenho da indústria como um todo, que já vinha com perda de relevância na composição do PIB”, diz Claudia Perdigão, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Dentro da indústria de alta tecnologia, a produção farmacêutica registrou avanço de 2,0% em 2020, após queda de 3,7% em 2019. Entretanto, a indústria de aviação despencou 50,8% em 2020, depois de um tombo de 14,9% no ano anterior. No estudo, o Iedi usa os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PMI) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a classificação de intensidade tecnológica das atividades adotada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A expectativa para os próximos meses é de uma nova onda de dificuldade em função do recrudescimento da pandemia. Sob impacto já do agravamento no número de mortos e infectados pela Covid-19 , assim como pela retirada do pagamento do auxílio emergencial aos mais vulneráveis, a confiança dos empresários industriais recuou em janeiro e fevereiro, interrompendo uma sequência de oito meses de melhora, apurou a FGV.


