Inflação fica em 0,26% em julho e vem abaixo das projeções
A alta foi de 0,26% no mês passado, após variação de 0,24% em junho

Foto: Marcello Casal JR/Agência Brasil
A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou menos do que o previsto por economistas em julho.
A alta foi de 0,26% no mês passado, após variação de 0,24% em junho, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou abaixo do piso das projeções do mercado financeiro. A mediana das expectativas era de 0,36%, com intervalo de 0,30% a 0,39%.
A taxa de 0,26% é a menor para julho desde 2023 (0,12%). Analistas apontam surpresas em diferentes componentes do IPCA, como alimentos e bens industriais, que registraram números inferiores ao cenário esperado.
O grupo alimentação e bebidas voltou a aliviar o IPCA, mostrando a segunda queda consecutiva.
A redução dos preços do segmento em julho (-0,27%) foi mais intensa do que a verificada em junho (-0,18%). De maneira geral, o IBGE associou a baixa à ampliação da oferta de produtos com novas safras.
A conta de luz, por outro lado, aumentou 3,04% no mês passado. Assim, exerceu a principal pressão individual sobre o índice (0,12 ponto percentual).
IPCA DESACELERA EM 12 MESES
Com os dados de julho, o IPCA desacelerou a 5,23% no acumulado de 12 meses. A taxa era de 5,35% até junho, quando o indicador confirmou o primeiro estouro da meta contínua de inflação desde que o modelo entrou em vigor no país, em janeiro.
Nesse sistema, perseguido pelo BC (Banco Central), o alvo é desobedecido quando o IPCA acumulado permanece por seis meses consecutivos de divulgação fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro é de 3%.
LUZ E PASSAGEM AÉREA PRESSIONAM
A carestia da energia elétrica, que pressionou o IPCA de julho, refletiu o reajuste de tarifas de concessionárias em locais como a região metropolitana de São Paulo, onde o avanço foi de 10,56%, segundo o IBGE.
O instituto também destacou a vigência da bandeira vermelha patamar 1, que adiciona sobretaxa para o consumidor.
De janeiro a julho, a energia elétrica acumulou alta de 10,18% no IPCA. A variação é a maior para esse período de sete meses desde 2018 (13,78%).
Outra pressão sobre o IPCA de julho veio da passagem aérea (0,10 p.p.). O bilhete de avião subiu 19,92% no mês passado. A demanda maior no período de férias está por trás da alta, afirmou o IBGE.
CAFÉ CAI APÓS 18 MESES EM ALTA
A queda do grupo alimentação e bebidas em julho (-0,27%) foi impulsionada pela redução dos preços da alimentação no domicílio (-0,69%). Houve baixa em produtos como batata-inglesa (-20,27%), cebola (-13,26%) e arroz (-2,89%).
O café moído também recuou (-1,01%). Foi a primeira queda depois de 18 meses consecutivos de avanço.
Segundo o IBGE, o café quase dobrou de preço nesse período de um ano e meio em alta. A inflação acumulada foi de 99,46%.
A queda em julho, após a sequência de 18 avanços, já havia aparecido no índice prévio de inflação do instituto, o IPCA-15.
"Pode ser um efeito da maior oferta que já está chegando à prateleira", afirmou Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IPCA.
É PREMATURO FALAR EM IMPACTO DO TARIFAÇO, DIZ IBGE
De acordo com Gonçalves, é "prematuro" relacionar a redução dos preços ao tarifaço dos Estados Unidos.
O técnico do IBGE disse que isso vale para o café e outros produtos brasileiros afetados pela sobretaxa de Donald Trump, como as carnes, que mostraram variação de -0,30% no IPCA de julho.
Ao justificar sua avaliação, o pesquisador ressaltou que o tarifaço só entrou em vigor na última quarta-feira (6), ou seja, no início de agosto.
Em um primeiro momento, a sobretaxa pode direcionar um volume maior de produtos para o mercado interno. Essa situação traz perspectiva de baixa nos preços no Brasil, segundo economistas.
"Tem de esperar para ver como o mercado vai responder, se vai conseguir escoar a produção para outro mercado externo", afirmou Gonçalves.
"Se ficar no mercado interno, a tendência é de que tenha oferta maior, principalmente de perecíveis [...]. A tendência [assim] é de que o preço caia", completou.
Há, contudo, temor de que a guerra comercial se intensifique, elevando incertezas e pressionando a cotação do dólar. Uma eventual valorização da moeda americana seria um risco para o IPCA mais à frente.
A ameaça existe porque o câmbio impacta os custos de empresas. O conflito comercial também pode resultar em demissões.
PROJEÇÕES SÃO REVISADAS PARA BAIXO
O IPCA de julho reforçou a tendência de queda nas projeções de instituições financeiras para a inflação.
O Asa, por exemplo, revisou sua previsão para o índice em 2025 (de 4,9% para 4,7%) e 2026 (de 5% para 4,8%).
A gestora Kínitro Capital disse que os dados divulgados pelo IBGE colocam um viés para baixo em sua estimativa para a inflação em 2025 (5%).
A mediana das projeções do mercado para o IPCA deste ano caiu a 5,05%, conforme o boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda (11).
A expectativa recuou pela 11ª semana consecutiva, mas ainda segue distante do teto da meta (4,5%).