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Instituto Cultural Steve Biko: conheça a organização que recebeu prêmio Luiz Gama 2025

A organização é responsável pela preparação e formação política de jovens negros e negras com o objetivo de que eles possam ingressar em universidades

Por Giovanna Amorim
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Atualizado
Instituto Cultural Steve Biko: conheça a organização que recebeu prêmio Luiz Gama 2025

Foto: Reprodução/TJBA

O Instituto Cultural Steve Biko recebeu nesta terça-feira (16), o prêmio Luiz Gama 2025 que destaca a luta da organização pela defesa dos Direitos Humanos, da igualdade racial e justiça social. A entidade localizada no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, é responsável pela preparação e formação política de jovens negros e negras com o objetivo de que eles possam ingressar em universidades. 

Steve Biko foi um líder sul-africano conhecido pela luta contra o Apartheid, um sistema de segregação racial institucionalizado na África do Sul, entre os anos de 1948 e 1994, para separar rigidamente brancos e não brancos - negros, indianos e mestiços. Esse regime controlava onde pessoas negras podiam - ou não podiam - morar, estudar e até com quem casar, sendo proibido casamentos interraciais. 

Inspirados na trajetória dessa personalidade, um grupo de jovens militantes negros e negras teve a iniciativa de criar o primeiro curso no Brasil, que destina-se a formação política e preparação para que estudantes negros possam ter acesso a universidades, posteriormente sendo considerado o primeiro Quilombo Educacional do Brasil. 

As atividades do instituto já resultaram em políticas públicas para o combate às desigualdades raciais. A Steve Biko recebeu o reconhecimento das principais instituições e movimentos sociais do país, inclusive também já recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em 1999, concedido pelo Ministério da Justiça e o XXIII Prêmio Nacional Jovem Cientista. 

A organização segue o princípio africano filosófico chamado Ubuntu: “ eu sou porque nós somos”, que prioriza as conexões humanas à coletividade, o comprometimento, o respeito à generosidade, a solidariedade e a empatia. Na premiação, o vereador e organizador da instituição Steve Biko, Silvio Humberto, agradeceu e afirmou que isso significa um grande reconhecimento

“Esse prêmio significa para a gente um grande reconhecimento desses 33 anos promovendo ações afirmativas. O reconhecimento do TJ parabeniza essa atitude do nosso desembargador Lidivaldo Britto, porque eu acho assim: tem as instituições e tem as pessoas que provocam as instituições, que dá aquele toque de dominó e vai, isso é fundamental”, disse ele em entrevista ao Farol da Bahia. 

Silvio também disse que esse reconhecimento aumenta ainda mais a responsabilidade para a construção de um país mais justo e igualitário para as pessoas negras. 

“Então, nós agradecemos demais esse reconhecimento e aumenta ainda mais a nossa responsabilidade, porque eu aprendi que, o que estufa o peito enverga as costas. Então, essa responsabilidade é coletiva de seguirmos contribuindo para que de fato nós tenhamos um país mais justo, onde a cor da pele seja um marcador de diferença e não de desigualdades. Essa luta é minha, é sua, é de todos nós que acreditamos que esse país é sim possível”. 

A instituição se compromete em promover a ascensão político social da população negra por meio da educação e, principalmente, pela valorização da sua ancestralidade. No discurso pós-premiação, Silvio afirma que a organização cumpriu a missão Oguniana, referenciando-se a Ogum, Orixá guerreiro, para abrir os caminhos para a liberdade e não permitir a desistência.  

“Já que estamos em uma terça-feira e cumprimos essa missão ‘oguniana’ de abrir os caminhos da liberdade para outros e outras para não deixar a gente desistir. Toda vez que pensamos em desistir, nós olhamos para trás e vemos aqueles que, com os grilhões nas mãos e nas pernas, na cabeça, por que nós vamos desistir”. 

O vereador usa a música do rapper BK para explicar que a Steve Biko é a “continuação de um sonho: do meu pai, da minha mãe, do meu avô, da minha avó, de todos aqueles que vieram antes, que sangraram para que a gente pudesse sorrir, e estar aqui podendo dizer que Biko está vivo, que a educação é um caminho, é esse instrumento poderoso que faz com que as pessoas sejam mais do que as coisas”.  

“A gente quando se junta, quando a gente se aquilomba em prol de um objetivo ou propósito, as possibilidades são infinitas, e isso é a Biko. É uma energia de tornar as coisas que parecem impossíveis, em coisas possíveis. Lembrando de Mandela né: tudo é sempre impossível até que alguém venha e faça. Então, eu acho que a gente vêm fazendo, mas de forma muito coletiva. Nós não podemos perder, eu acho que o nosso maior desafio é ser, pensar e agir coletivamente”, completou. 

Ele ainda completou que a Biko também é a convocação do próprio líder sul-africano que dá força para que não desistam.

“Nós não somos só  o que enxergamos, a Biko é uma energia. Não somos só isso aqui [corpo], a gente tem muitas boas energias que nos acompanham, inclusive o próprio Steve Biko quando nós o convidamos. A energia atravessou o Atlântico e ele se colocou ao nosso lado para que nos momentos difíceis que nós passamos, quando pensássemos que não ia dar certo, nos mostrasse que é pra seguir”. 

“Sozinhos nós somos fortes, juntos nós somos inquebrantáveis”, finalizou Silvio com o lema da Steve Biko. 

Importância do prêmio para a luta antirracista 

A premiação destacou a importância da educação antirracista para que mais ações como esta sejam reconhecidas e para que os estudantes possam se inspirar na trajetória dessas lideranças. A deputada federal, Olívia Santana, ressaltou o papel da educação para tratar o racismo como uma perspectiva punitiva. 

“A educação antirracista muda a consciência da sociedade, por isso ela é estratégica de ser desenvolvida. Sem ela, não temos a condição de transformar e vamos continuar enxugando gelo. Nós vamos continuar tratando o racismo dentro de uma perspectiva punitivista, de quem o pratica, inclusive mal feita porque nem todas as pessoas que praticam o racismo são punidas”. 

Olívia apontou que a premiação foi muito importante para instituição que além de formar pessoas negras, deu a elas uma nova perspectiva “uma autoestima, consciência que sim, nós podemos chegar nos espaços onde a gente quer estar, onde a gente sonha estar, mas nós temos que enfrentar o sistema pra tomar aquilo que é nosso”. 

O titular da Delegacia Especializada de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa (Decrin), Ricardo Amorim, também afirmou o quanto o prêmio é importante para a luta contra o racismo e valorização das iniciativas afirmativas. 

“O Prêmio Luiz Gama do Tribunal de Justiça é uma importante ferramenta de valorização das iniciativas que visam buscar a igualdade do povo negro aqui em Salvador, na nossa Bahia. Hoje é uma dia muito especial que foi conferido para o Instituto Steve Biko, essa medalha mostrando o quão importante é essa luta, esse trabalho para melhora do povo negro aqui no nosso estado”, disse ele. 

Prêmio Luiz Gama 

O Prêmio Luiz Gama foi criado pelo Pleno do Conselho Federal da OAB em 2020, para homenagear pessoas e entidades que se destacam no combate ao racismo nas situações e atividades na defesa e promoção da igualdade, justiça social e dignidade da pessoa humana. Neste ano, o desembargador e organizador do prêmio, Lidivaldo Brito disse que a Steve Biko foi escolhida entre outras 49 instituições por unanimidade. 

“Quando o tribunal, à unanimidade, dentre 49 instituições, optou pelo Steve Biko foi um reconhecimento a toda dedicação de uma entidade não-governamental que, com muitas dificuldades, consegue alcançar o seu objetivo, porque centenas de pessoas estão hoje graduadas, pós graduadas, inclusive sendo docentes em universidades”, disse Lidivaldo. 

Quem foi Luiz Gama 

Nascido em Salvador, filho de um homem branco português e Luiza Mahim, escrava liberta considerada heroína negra em XIX, Luiz Gama foi um ativista político, poeta e jornalista, declarado como patrono da abolição da escravidão no Brasil. Ele chegou a ser vendido pelo próprio pai quando tinha 10 anos, e alforriado somente sete anos mais tarde. Ele estudou direito como autodidata e passou a defender os escravizados. 

Luiz Gama era um defensor da república e um abolicionista radical que libertou mais de 500 escravos no Brasil. Isso fez com que ele acumulasse muitos inimigos e merecesse inúmeras ameaças de defensores dessa instituição. Ele morreu aos 52 anos por complicações causadas pela diabetes. 

Lidivaldo afirmou que esse prêmio, juntamente com outro projeto chamado ‘Luiz Gama nas Escolas’, carrega o nome deste líder para que os estudantes possam se inspirar nessa trajetória. 
 

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