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Lavagem do Bonfim reúne religiosidade e cultura em Salvador

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Lavagem do Bonfim reúne religiosidade e cultura em Salvador

Após dois anos suspensa, festa acontece nesta quinta-feira (12)

Por Ane Catarine Lima
Lavagem do Bonfim reúne religiosidade e cultura em Salvador
Foto: Farol da Bahia

Suspensa por dois anos devido à pandemia, a Lavagem do Bonfim volta a ser realizada na capital baiana nesta quinta-feira (12). Tradicionalmente, a celebração secular ocorre na segunda quinta-feira de janeiro, antecedendo o segundo domingo após o Dia de Reis. Considerada a maior festa popular religiosa de Salvador, a Lavagem do Senhor do Bonfim é marcada pela forte presença do sincretismo, reforçando características marcantes do povo baiano como a alegria e a devoção.  

Há 277 anos, milhares de fiéis percorrem a pé, juntos em cortejo, os oito quilômetros que separam a Igreja da Conceição da Praia, onde a festa tem início, e a Colina Sagrada, onde está localizada a Igreja do Senhor do Bonfim. Neste ano, a programação dos festejos iniciou com o novenário, no último dia 5.

História

Em entrevista ao Farol da Bahia, o reitor da Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, padre Edson Menezes, afirmou que existem várias versões a respeito da origem da celebração. Acredita-se, por exemplo, que o costume de lavar a igreja tenha surgido no início do século XIX, dando continuidade a uma tradição de purificação trazida pelos portugueses. 

Além disso, segundo ele, existe a versão de que a festa é oriunda de “um ato penitencial realizado por devotas e devotas da imagem do Senhor do Bonfim''. O padre explicou ainda que nem sempre a lavagem ocorreu nas escadarias, forma que conhecemos atualmente.

“A lavagem ocorria dentro da igreja, mas alguns exageros aconteceram como, por exemplo, bebedeiras e atitudes consideradas indevidas para serem realizadas dentro de um templo. Por conta disso, vários arcebispos proibiram que a lavagem fosse realizada dentro da igreja. Em 1899, Dom Luís Antônio dos Santos proibiu que a lavagem fosse realizada dentro do templo. Depois, Dom Avelar Brandão Vilela permitiu que a lavagem acontecesse no átrio da basílica e que a igreja fosse protegida com grades”, disse o religioso. 

“O ato da lavagem foi passando por modificações ao decorrer do tempo e hoje se tornou essa festa gigantesca que atrai turistas e pessoas de diversas religiões. É um acontecimento muito importante e, sobretudo, significativo porque marca a cidade de Salvador. Do ponto de vista religioso, cultural e profano, a lavagem é uma grande festa popular”, completou.

Durante o evento, os católicos celebram o Senhor do Bonfim, que corresponde a Oxalá no sincretismo religioso afro-católico. Ainda durante a entrevista, padre Edson reforçou a importância da imagem do santo para os baianos. 

“A imagem do Senhor do Bonfim é a de Jesus crucificado que veio de Portugal, em 1745, trazida por um capitão de mar e guerra. Essa imagem se tornou a motivação maior de uma devoção que vem crescendo e se perpetuando ao decorrer da história. A igreja do Bonfim é na cidade de Salvador uma referência de fé. Bonfim quer dizer ressurreição", afirmou. 

100 anos do hino do Senhor do Bonfim

Padre Edson espera que a festa do Bonfim tenha uma grande participação popular neste ano, principalmente devido à retomada após uma suspensão de dois anos. Ele lembrou ainda que outro motivo deixará a celebração mais especial: o tradicional hino ao Senhor do Bonfim completa 100 anos em 2023. 

“Estamos preparando a festa no contexto dos 200 anos de independência da Bahia e dos 100 anos da composição do hino 'Glória a Ti neste dia de glória’. A nossa expectativa é de que será uma grande festa, com a participação expressiva da população”, concluiu o religioso.

Devoção e paixão

Voluntária do Santuário do Bonfim e assistente social, Joceli Reis, de 53 anos, contou ao Farol da Bahia que sua história de devoção ao santo começou ainda na infância. Natural da cidade de Valença, no baixo sul da Bahia, ela afirmou que seus familiares costumavam acompanhar os festejos na capital baiana. 

“Sou do interior da Bahia e meus antepassados sempre cultivaram a tradição de vir à capital para participar da Festa do Bonfim, esperavam o ano todo. Passado os festejos do ano novo, os olhares e programações eram para participar da maior festa religiosa da Bahia, que ainda hoje atrai multidão. Sendo assim, eu ainda pequena e já residindo na capital também acompanhava a movimentação”, explicou a devota.

Emocionada, Joceli disse que, para ela, nenhuma outra festa realizada em Salvador se iguala a do Senhor do Bonfim. “Temos três celebrações na colina: começa com São Gonçalo, segue com Nossa Senhora da Guia e encerra com o Senhor do Bonfim. Nenhuma festa nesta capital se iguala a Festa do Bonfim. Muitos acreditam ser a Lavagem do Bonfim o dia da Festa, é uma festa, mas não a solene, que acontece no domingo seguinte.  A lavagem tem uma importância histórica, pois ela servia para lavar o templo, deixá-lo arrumado para o grande dia”, afirmou.

“O tempo passou e  hoje a lavagem ganhou uma outra característica, mas não perdeu sua importância. Eu a vejo como um grande acontecimento, onde uma multidão segue alegremente em um ritual, com sua roupa branca e do seu jeito singular vai saudar o Senhor do Bonfim. É fé, é tradição, é belo, é uma mistura de baianos e do mundo num só desejo em busca da paz, do agradecer e demonstrar o que sente”, completou Joceli.

Foto: Arquivo Pessoal/ Joceli Reis

O mesmo sentimento é reforçado pela engenheira Mirella Nobre, de 25 anos. Para ela, a Lavagem do Bonfim é uma das festas populares mais belas realizadas na capital baiana. “É muito lindo ver pessoas de diferentes religiões em um só lugar. Tem católico, tem candomblecista e gente de todo lugar em comunhão. O cortejo é sensacional, é muito bonito… As baianas passam com aquela água perfumada, as vassouras e as flores. Além disso, a subida da colina é de arrepiar”, afirmou.

Foto: Aquivo Pessoal/Mirella Nobre

“O Bonfim é um símbolo muito importante para nossa cidade e a lavagem evidencia isso. Não vou todos os anos, mas todas as vezes que participo me emociono igual. É muito bonito mesmo. É sentir a energia das pessoas, fortalecer a fé e agradecer pelo ano que está começando. Salvador é encantadora”, concluiu Mirella. 

 

 


 

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