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'Lula 3' pode ter a menor inflação acumulada desde FHC, mas governo ainda vê desafio para 2026

Mesmo com a perspectiva de queda na inflação acumulada, o sentimento do brasileiro ainda é de peso no orçamento

Por FolhaPress
Às

'Lula 3' pode ter a menor inflação acumulada desde FHC, mas governo ainda vê desafio para 2026

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ao término do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a inflação acumulada no período de quatro anos pode ser a menor vista no país desde 1999, quando foi implementado o regime de metas – sistema que orienta a política de juros do Banco Central para manter a estabilidade de preços.

Segundo cálculo do economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), feito a pedido da reportagem, a inflação pode chegar ao final do governo Lula 3 acumulada em 19,11%. Se as projeções para este e para o próximo ano se concretizarem, será o menor índice observado em um mandato em mais de 25 anos.

Desde que o regime de metas para inflação entrou em vigor, o menor resultado ocorreu no segundo mandato de Lula. No acumulado de 2006 a 2010, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) totalizou 22,21%.

Mesmo com a perspectiva de queda na inflação acumulada, o sentimento do brasileiro ainda é de peso no orçamento. De acordo com Braz, isso pode ser explicado porque esse indicador se difere de outros, como o IPCA, podendo gerar diferenças entre os números realizados e a percepção pública com relação aos preços. Para o economista, é necessário avaliar quais itens subiram acima da média durante o governo.

Pesquisa Datafolha de abril deste ano mostrou que, para 54% dos brasileiros, o governo Lula seria o principal responsável pelo aumento dos preços dos alimentos nos meses anteriores.

Para integrantes da equipe de comunicação do governo, ouvidos pela reportagem sob reserva, essa disparidade entre os números realizados e a percepção popular ainda pode demonstrar um desafio a ser enfrentado para a campanha eleitoral de 2026.

Mas, na avaliação desses interlocutores, isso deve ser atenuado com pautas voltadas à renda, emplacadas pela gestão petista ao longo dos quatro anos —como o Auxílio Gás e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês (ainda em tramitação no Congresso).

Eles apontam, ainda, que os efeitos de indicativos como a queda da inflação demoram mais a serem sentidos na ponta. Isso porque a queda dos preços não significa que os itens estejam tão baratos quanto a população gostaria.

Na última campanha eleitoral, Lula teve como mote a promessa de que as famílias poderiam voltar a comer picanha e tomar uma "cervejinha" nos fins de semana. Em 2023, os preços das carnes registraram queda de janeiro a agosto, mas voltaram a subir a partir de setembro daquele ano. A promessa pela queda dos preços é pauta cara ao governo desde a campanha de 2022.

Em dezembro de 2024, a inflação da picanha estava em 8,74%, acima do IPCA cheio, que havia fechado o ano em 4,83%. Já o cenário em 2022 ia na direção oposta. Enquanto o índice oficial fechou o ano em 5,79%, a inflação da picanha estava em 0,49%.

"Os salários dos trabalhadores são corrigidos pela inflação, então, se a picanha sobe igual ao IPCA, por exemplo, isso não é um problema, porque o seu salário vai acompanhar", afirma Braz.

"Só que o que acontece é que às vezes a carne sobe 20% e o seu salário sobe 4%. Então, um item de primeira necessidade subir 20% significa que você vai comer menos carne, você vai substituir carne por ovo, vai comer menos vezes na semana, vai comprar uma quantidade de quilo menor. Então você vai perder qualidade de vida", complementa o economista.

A perspectiva de que a gestão petista crave em 2026, ano eleitoral, um novo recorde de menor inflação acumulada tem sido motivo de celebração no governo petista. Um dos membros do primeiro escalão que tem incorporado esse discurso é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"O senhor [Lula] vai terminar o terceiro mandato com a menor inflação acumulada da história do Brasil. O mais importante é que o senhor está batendo esse próprio recorde. Porque antes desse mandato, o senhor já tinha batido esse recorde no segundo mandato", disse Haddad no evento de lançamento do programa Reforma Casa Brasil.

No Brasil, o sistema de metas para inflação foi adotado em 1999. Naquela época, o alvo foi inicialmente fixado em 8% ao ano. Com o passar do tempo, o objetivo a ser perseguido pelo BC foi sendo reduzido gradualmente.

Desde o início do ano, está em vigor o regime de avaliação contínua. O alvo central é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

A estrategista de inflação da Warren Investimentos Andréa Angelo afirma que a alta de preços é o aspecto de maior impacto para a população. "É você chegar no mercado com R$ 100 e não conseguir comprar o que a sua cesta de consumo precisa", diz.

"Quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai pesquisar todos os meses os preços na economia, em todas essas capitais e nos lugares que ele pesquisa, ele vê uma média. Então, uma variação de preço mais contida, mas com sinal positivo, ainda é uma inflação. Os preços estão crescendo, mas crescendo em ritmo de um pouco mais devagar", completa.

HISTÓRICO DA INFLAÇÃO ACUMULADA NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 30 ANOS
Em %

1998 – FHC 1: 43,46%
2002 – FHC 2: 39,88%
2006 – Lula 1: 28,2%
2010 – Lula 2: 22,21%
2014 – Dilma 1: 27,03%
2018 – Dilma 2/Temer: 25,64%
2022 – Bolsonaro: 26,93%
2025 – Lula 3 (até setembro): 13,67%
2026 – Lula 3:* 19,11%

*Projeção com base no boletim Focus de 27out

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e cálculo do economista André Braz

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