Lula afirma que Brasil pretende negociar, cobra respeito às leis brasileiras e nega que críticas aos EUA tenham motivado tarifas de Trump
Presidente especificou pontos sobre relação com Donald Trump em entrevista à TV Globo, na quinta-feira (10)

Foto: Reprodução/Marcelo Camargo/Agência Brasil | Reprodução/X
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) explicou, em uma entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na quinta-feira (10), detalhes sobre as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos (EUA) para produtos brasileiros de exportação. Durante a entrevista, o presidente alegou que pretende negociar, cobrou respeito às leis brasileiras e negou que críticas aos EUA tenham motivado as tarifas impostas por Trump.
Diante da ameaça de Donald Trump de implementar mais taxações contra a Lei da Reciprocidade, o presidente brasileiro alegou que a premissa estadunidense de aplicar taxas sobre o Brasil é equivocada. Lula explicou que a aplicação do tarifaço para equilibrar as negociações comerciais não se aplica no contexto de comércio entre Brasil e Estados Unidos.
"O presidente Trump deve estar muito mal informado, porque nos últimos 15 anos o déficit para o Brasil é de R$ 410 bilhões entre comércio e tarifas. Portanto, não existe explicação a não ser uma falta de informação e depois tentando atrapalhar uma relação muito virtuosa que o Brasil tem com os Estados Unidos há 200 anos", frisou Lula.
O presidente brasileiro contou que utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e o Brasil vai tentar, junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros países, assumir uma posição para saber como prosseguirá as negociações.
"O Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil. Ele tem o direito de tomar decisão em defesa do país dele, mas com base na verdade. Se alguém orientou ele com uma mentira de que os Estados Unidos é deficitário com o país, mentiu. Porque os Estados Unidos é superavitário na relação comercial com o Brasil", reforçou o presidente.
Falas do presidente teriam motivado taxações de Trump?
Lula negou que as declarações feitas durante encontro do bloco econômico Brics tenha motivado o governo estadunidense a tomar as medidas estabelecidas. O petista ainda alegou que os países integrantes do bloco estão cansados de "ser subordinados ao norte" e buscam independência política e chegou a citar a possibilidade de criação de uma nova moeda.
"Achar que os Brics é a razão para o Trump ficou nervoso, o Brasil nunca ficou nervoso com a participação do G7, o Brasil nunca ficou nervoso com as coisas que os Estados Unidos faz. Cada país tem a soberania de fazer aquilo que quer. Então, eu penso que o presidente Trump precisa se cercar de pessoas que o informem corretamente sobre como é virtuosa a relação Brasil-Estados Unidos", defendeu Lula.
Visita a ex-presidente da argentina e opiniões de Trump sobre o judiciário brasileiro
O presidente brasileiro ainda rebateu as críticas que recebe por visitar a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, condenada por corrupção, e tê-la defendido com um cartaz a liberdade dela, mesmo ao defender o discurso que Donald Trump não deve interferir nas temáticas sobre a independência das instituições brasileiras.
Lula afirmou que visitou Cristina com autorização e por determinação da própria Justiça argentina, e que a visita se difere a atitude de Trump de palpitar na decisão de Justiça brasileira. O petista ainda afirmou que o presidente estadunidense deveria saber que caso ele tivesse feito no Brasil, o que fez nos Estados Unidos com as eleições, fazendo referência às acusações de Trump sobre fraude eleitoral, ele estaria sendo processado e julgado, assim como Jair Bolsonaro (PL), e se fosse considerado culpado, seria preso.
Reação de empresários brasileiros às taxações estadunidenses
O presidente brasileiro afirmou que pretende reunir todos os empresários que exportam mercadorias aos Estados Unidos para conversar sobre a situação pós-taxação. Ele afirma que tentará negociar, defende que o Brasil não é um país de disputa, e que usará a Lei da Reciprocidade como último recurso.
Relação com Trump
Ao ser questionado sobre o motivo da falta de um encontro direto entre os dois presidentes durante os sete meses de Trump na Casa Branca, Lula afirmou que representantes nacionais só realizam ligações e encontros quando realmente há necessidade, e destacou que Trump deveria ter considerado realizar uma ligação ou enviar uma carta oficial ao Brasil para negociar sobre a decisão de taxação, ao invés de publicar no próprio site, categorizando a atitude do presidente estadunidense como "falta de respeito".
"Não sou obrigado a aceitar esse comportamento desrespeitoso entre relações de chefe de Estado, entre relações humanas. Educação é bom e a gente gosta de receber e gosta de dar. E o Brasil quer ser bem tratado. Quando eu tiver um assunto sério para tratar com os Estados Unidos, eu não terei nenhum problema de pegar o telefone e ligar para a Casa Branca pedindo para conversar com o presidente Trump", comentou o presidente.
Lula ainda revelou que o próximo passo é buscar identificar quem serão os principais afetados pela decisão de Trump, e buscar novos mercados para os produtos brasileiros.
O petista concluiu a entrevista ao dizer que caberá ao Itamaraty as demais comunicações com a embaixada dos EUA, e mais uma vez reafirmou a indignação com as declarações do presidente estadunidense, que alegou o "fim da caça às bruxas" ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que supostamente teria arquitetado um plano que envolvia a morte de Lula, o ex-presidente Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.