Lula critica no Brics negacionismo climático e unilateralismo
O governo brasileiro tem usado o encontro de líderes do Brics para reforçar a agenda da COP30

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
O presidente Lula (PT) criticou o negacionismo e o unilateralismo e afirmou que os dois barram avanços do passado em áreas como combate à crise climática e saúde, durante declaração na abertura da reunião de líderes no segundo dia da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (7).
"Hoje o negacionismo e o unilateralismo estão corroendo o avanço do passado e sabotando o nosso futuro", disse o presidente.
"O Sul Global tem condições de liderar novo paradigma de desenvolvimento, sem repetir os erros do passado. Não seremos simples fornecedores de matérias-primas. Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor", afirmou Lula.
O governo brasileiro tem usado o encontro de líderes do Brics para reforçar a agenda da COP30, o principal evento internacional sediado no país neste ano, em Belém, em novembro. Em comunicados sobre reuniões bilaterais, o Planalto reforça que os países confirmam presença ao evento climático e entendimentos comuns sobre o tema.
A presidência brasileira do Brics também tem se mobilizado para colocar em discussão compromissos de recursos para o combate à crise climática. A declaração conjunta de líderes, divulgada neste sábado (6), faz referência ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), proposta do governo brasileiro para mobilizar financiamentos de longo prazo.
De acordo com um interlocutor do governo, as discussões no Rio de Janeiro fortaleceram a percepção de que os países do Brics podem ter papel decisivo para impulsionar o mecanismo e viabilizar um anúncio conclusivo na COP30.
Em mensagem que pode ser interpretada como recado à União Europeia e sua lei antidesmatamento, a declaração final afirmou que medidas voltadas para questões ambientais não devem ser usadas para disfarçar restrições ao comércio internacional.
"Enfatizamos que medidas adotadas para combater a mudança do clima, incluindo as unilaterais, não devem constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustificável ou restrição velada ao comércio internacional", diz trecho do documento.
Os membros do bloco expressaram grande preocupação com o tema e manifestaram oposição ao uso crescente de medidas comerciais unilaterais introduzidas sob a roupagem de preocupação ambiental.
O presidente brasileiro criticou ainda retrocessos na saúde, área que tem sido alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tirou o país da OMS (Organização Mundial da Saúde) e desmantelou a Usaid, agência de ajuda externa americana que financiava uma série de ações de saúde pelo mundo.
"Apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também é profundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo. Recuperar o protagonismo da Organização Mundial da Saúde como foro legítimo para o enfrentamento às pandemias e na defesa da saúde dos povos é urgente", afirmou Lula.