Maior festa de rua do mundo, carnaval de Salvador está de volta
Em entrevista, historiador contou mais sobre a história da folia baiana

Foto: Jefferson Peixoto/Secom
O momento mais esperado pelos amantes da maior festa de rua do mundo chegou: o retorno oficial do carnaval de Salvador nesta quinta-feira (16). Após a suspensão da festa por dois anos devido à pandemia, é hora de baianos e turistas se envolverem na alegria, encanto e magia que move a folia na capital baiana. Apesar de toda notoriedade, a origem do carnaval de Salvador ainda é desconhecida por muitos.
Em entrevista ao Farol da Bahia, o historiador Ricardo Carvalho afirma que, embora a criação do trio elétrico pelos músicos Dodô e Osmar tenha consolidado a festa no molde que conhecemos hoje em dia, há relatos de festejos desde o século XVI. Segundo ele, os jesuítas foram as primeiras pessoas que trouxeram a cultura do carnaval para a Bahia.
“É muito difícil estabelecer uma origem precisa do carnaval de Salvador, principalmente da forma como a gente conhece a festa hoje. No entanto, existem relatos que desde o século XVI já se via manifestações naquela semana que antecede a quaresma. Essas manifestações, inclusive, foram trazidas pelos jesuítas que chegaram ao Brasil. Além disso, na época da invasão Holandesa existem relatos históricos de eventos que se assemelhavam ao carnaval europeu”, explica o especialista.
Segundo Carvalho, somente entre os séculos XVIII e XIX o carnaval passou a se tornar mais popular e tomar as ruas de Salvador. “É a partir do século XIX que o carnaval começa a ganhar uma dimensão de festa de rua mesmo, com os entrudos. O entrudo era uma tradicional festa não higiênica que se praticava na europa. Nesse evento, as pessoas lançavam, por exemplo, água suja umas nas outras. Depois a civilização foi se estabelecendo nessas festividades”, disse o historiador.
"Existiam dois tipos de carnavais: o que acontecia dentro dos salões fechados, mais reservados para elite, e as festividades de rua que já envolviam a população egressa da escravidão. Somente com a chegada do trio elétrico e dos carros alegóricos, em 1950, que a festa ganha mais ou menos a dimensão do nosso atual carnaval de rua”, acrescenta.
Circuitos da folia
O carnaval da capital baiana tem sete circuitos oficiais: Dodô, Osmar, Batatinha, Orlando Tapajós, Sérgio Bezerra, Mestre Bimba e Riachão. Questionado sobre a consolidação dos lugares da folia ao decorrer dos anos, Ricardo Carvalho afirmou que, apesar de atualmente o circuito Barra-Ondina (Dodô) receber mais atenção, todos os trajetos nasceram conforme a vontade popular, sendo que os principais estavam situados no Centro Histórico de Salvador.
“O circuito Campo Grande-Avenida [Osmar] é importante porque era a única parte da cidade viável para o carnaval. Por isso, a festa começa ali. Salvador não tinha um outro local para que uma festa de grande dimensão pudesse acontecer, mesmo que os bairros, por exemplo, fizessem seus próprios carnavais. O Centro Histórico de Salvador era de fato o centro da festa, depois passou a ser Barra e Ondina”, explica Carvalho.
“Hoje já se fala de outros locais, mas não há possibilidade da festa seguir para o bairro da Boca do Rio, por exemplo, se isso não for da vontade popular. Não se escreve história por decreto. Os circuitos vão nascendo do encaixe da vontade do povo de Salvador. O circuito Barra-Ondina funcionou porque foi adotado pela população da cidade e isso pode acontecer com outras regiões também”, completa.
Centenário de Osmar Macedo
Neste ano, além do retorno do carnaval, os foliões celebram o centenário de Osmar Macedo. Nascido na capital baiana em 22 de março de 1923, o artista tem um papel crucial na história do carnaval da cidade.
Em 1950, usando um velho Ford T, Osmar e seu amigo Adolfo Antônio de Nascimento, mais conhecido como Dodô, criaram o trio elétrico. Atualmente, o nome dos dois está eternizado nos circuitos do festejo.
“O carnaval que nós temos hoje é a soma de vários talentos e genialidades. Dodô e Osmar, sem dúvida nenhuma, tiveram esse papel que foi trazer a guitarra baiana. Dificilmente o carnaval da Bahia teria o significado e a dimensão que tem se não tivesse sido o papel que Dodô e Osmar tiveram. Osmar Macedo, particularmente, virou o grande embaixador da musicalidade baiana. Salve, Osmar!”, conclui Carvalho.