Mais da metade dos universitários brasileiros já estuda a distância, aponta Inep; entenda vantagens e desafios
Em 2024, Matrículas no EAD tiveram um aumento de 5,6% em relação ao ano anterior, segundo o Censo da Educação Superior

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A substituição em massa das salas de aula presenciais por telas de computador deixou de ser um reflexo temporário da pandemia e passou a representar a nova realidade do ensino superior no Brasil. Em 2024, as matrículas em educação a distância (EAD) representaram mais da metade (50,7%) do total de inscritos na graduação e tiveram um aumento de 5,6% em relação ao ano de 2023, segundo o Censo da Educação Superior 2024, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O crescimento da modalidade tem revelado uma tendência entre os discentes, que buscam cada vez mais flexibilidade para conciliar os estudos com outros compromissos. Liz Queiroz, estudante de jornalismo em um curso a distância, destaca a vantagem de conseguir agregar as rotinas da faculdade e do trabalho de modo “menos impactante” no seu dia a dia.
“O presencial, muitas vezes, acaba se tornando uma rotina maçante, pois exige um compromisso fixo e presencial em horários determinados, o que pode ser um pouco limitante, principalmente para quem já tem outros compromissos. Eu posso estudar de qualquer lugar e conciliar a vida acadêmica com minha rotina de trabalho, o que torna o processo muito mais eficiente”, diz.
Já o estudante de marketing João Pedro Neves optou por migrar de um curso presencial para o ensino a distância, a fim de evitar a fadiga causada pelo deslocamento diário em transporte público. No entanto, embora reconheça a flexibilidade da EAD como algo positivo, João fez uma extensa pesquisa no mercado para encontrar algo que continuasse o desafiando na vida acadêmica.
“Eu vi que muitos cursos a distância de graduação oferecem aulas gravadas para você assistir na hora que você quiser e são poucas entregas ao longo do curso. E aí, eu realmente acho que não faz sentido dessa forma porque, embora seja por um lado positivo, porque cada aluno tem uma realidade de trabalho, de demandas, se flexibiliza demais, a gente acaba até esquecendo que está fazendo faculdade”, opinou.
Antes e depois da pandemia
Cecília Queiroz, reitora da UNINASSAU Salvador e especialista em Gestão de Instituição de Ensino Superior, destaca que, embora o crescimento da EAD fosse algo esperado - uma tendência natural de um mercado cada vez mais digitalizado e de uma sociedade cada vez mais veloz - a pandemia de covid-19 foi a grande virada de chave para o “boom” da modalidade. Segundo ela, o confinamento “forçou” muitas pessoas que temiam o ensino a distância a vivenciá-lo.
“Existia medo, resistência, pessoas que de fato nunca tinham experimentado nenhum tipo de aprendizagem remoto e a distância, que nem se permitiam. A pandemia nos obrigou a viver a educação a distância e nos mostrou que é possível, sim, com algumas diferenças, necessidades e, principalmente, habilidades”, afirmou.
Vantagens e desafios
Para especialistas em educação, a modalidade de ensino a distância foi decisiva para a democratização do acesso ao ensino superior, rompendo barreiras geográficas para milhões de brasileiros que vivem longe de grandes centros. Apesar disso, a desconfiança em relação à qualidade do modelo persiste. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), Prof. Dr. João Mattar, a crítica generalizada de que a EaD é inferior não se sustenta.
“É importante reconhecer que existem experiências de excelência e outras de menor qualidade tanto na EaD quanto no ensino presencial. Pesquisas nacionais e internacionais demonstram que, quando bem planejados e estruturados, os cursos a distância podem alcançar resultados equivalentes ou até superiores aos presenciais”, afirma.
Mattar defende o fortalecimento de mecanismos de avaliação e transparência para fortalecer o ensino a distância. “Nesse sentido, instrumentos como os Referenciais de Qualidade da ABED e o recém-lançado Selo ABED de Qualidade para EaD são fundamentais para diferenciar boas práticas de ofertas insatisfatórias, dando mais segurança para estudantes, instituições e sociedade em geral”.
Apostar na regulação da modalidade, a fim de garantir parâmetros claros de qualidade e mecanismos de acompanhamento, e na inovação pedagógica e tecnológica também são caminhos para o aperfeiçoamento da EAD. O especialista chama atenção ainda para a importância de combinar momentos presenciais com o on-line - uma determinação do Ministério da Educação. A nova medida, regulamentada em maio deste ano, proíbe cursos 100% EAD e cria a modalidade semipresencial de ensino. Além disso, proíbe a oferta dos cursos de Direito, Medicina, Odontologia, Enfermagem e Psicologia no formato on-line.
De acordo com a pasta, a nova norma busca garantir a interação acadêmica, a vivência universitária e a qualidade mínima dos cursos, especialmente em áreas que demandam práticas presenciais. As mudanças serão graduais, e os estudantes já matriculados no EAD poderão concluí-los no mesmo formato.