Mais de 450 mil alunos do ensino fundamental correm o risco de abandonar os estudos após a pandemia

Esses estudantes passaram mais de um ano sem nenhuma atividade remota durante o fechamento das escolas no país

[Mais de 450 mil alunos do ensino fundamental correm o risco de abandonar os estudos após a pandemia]

FOTO: Reprodução/UNICEF

Um levantamento feito por técnicos de 29 Tribunais de Contas do país, em parceria com o Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) e o CTE-IRB (Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa) identificou que mais de 450 mil alunos, nas turmas de 5º e 9º anos, correm o risco de abandonar os estudos depois da pandemia. 

Esse quantitativo representa quase 15% do total de matriculados em 2020 e neste ano.  São estudantes que passaram mais de um ano sem nenhuma atividade remota durante o fechamento das escolas no país.

A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira, foi realizada diretamente com as instituições de ensino das redes municipais e estaduais de ensino de todo o país. O processo de coleta dos dados indica que o número de alunos em risco pode ser ainda maior, visto que a maioria das localidades teve que apresentar um diagnóstico do acompanhamento das atividades escolares durante o fechamento de escolas.

De acordo com o levantamento, a média de participação dos alunos do 5º ano do ensino fundamental nas escolas municipais foi de 92,5%, o que significa 144 mil crianças sem nenhum acompanhamento das atividades escolares. Já no 9º ano, 90,1% participação alguma participação, deixando 94 mil alunos de fora.

Não é possível, por meio desse levantamento, identificar se esses alunos já abandonaram os estudos, somente que eles estão em alto risco de não retornar à escola depois de mais de um ano sem acompanhamento. A saída desses estudantes pode levar o país a um retrocesso de anos, já que o acesso educacional de crianças e adolescentes nessa fase, dos 6 aos 14 anos, estava praticamente universalizado antes da pandemia —era de 99%.

"Corremos o risco de um enorme retrocesso caso esses alunos não voltem para a escola. Por isso, precisamos de uma ação coordenada em todo o país para melhorar as ferramentas de acompanhamento, identificar quem ainda está fora e fazer ações de busca ativa", diz Cezar Miola, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul e presidente do CTE-IRB.

O levantamento mostra ainda como desigualdades regionais do risco de abandono escolar. Enquanto na região Sul a média de participação dos alunos de 5º ano foi de 96,2%, no Nordeste, o índice foi de 88%. O mesmo ocorre com a média do 9º ano.

"A pandemia reforçou ainda mais as desigualdades que já existiam, ela atuou mais forte contra quem estava mais vulnerável e isso vale também para as redes de ensino. As redes com menos recursos tiveram mais dificuldade de adaptação tecnológica, de ter professores para a ativa ", diz Ernesto Faria, diretor-fundador do Iede.

Mesmo com a reabertura das instituições de ensino da rede pública no país, uma pesquisa do Datafolha, divulgada em outubro, indicou que a retomada tem ocorrido de forma desigual no país. São exatamente as regiões com maior risco de evasão que têm demorado mais para retornar às aulas presenciais.

Enquanto na região Sul, 90% dos estudantes já puderam voltar a frequentar a escola, no Nordeste só 40% tiveram essa opção. A demora também tem prejudicado mais os estudantes negros e pobres. Em setembro, 65% dos alunos do país tiveram suas escolas reabertas, ainda que parcialmente. Entre os estudantes brancos, o índice chegou a 72%, mas ficou em 61% para os negros.

Entre as três faixas de maior nível socioeconômico, a retomada das aulas presenciais alcançou 73% dos alunos. Mas era de apenas 41% para aqueles que estão nas três menores faixas de renda. "Quanto mais demoramos para identificar quem está fora da escola, mais difícil será trazê-los para dentro depois", diz Faria.

Procurado, o MEC não respondeu se pretende adotar alguma medida para evitar o aumento do abandono escolar no país.


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