Mesmo com liberação de trafego, Brasil ainda pode sofrer com "efeito dominó" do canal de Suez
Setor de transporte marítimo de cargas tenta manter o controle em meio a pandemia

Foto: Reprodução/Jornal Todo Dia
A reabertura do Canal de Suez ao tráfego de navios após seis dias de paralisação deve provocar um efeito dominó com impactos nas cadeias globais de suprimento e efeitos na produção da indústria global, de acordo com especialistas no setor. O navio Ever Given foi desencalhado nesta segunda-feira (29), reabrindo uma das principais rotas do comércio internacional.
Porém, a expectativa é que os fluxos de cargas levem algum tempo para retornar à normalidade. Com 400 metros de comprimento, a embarcação ficou presa na diagonal na última terça-feira (23), em um dos pontos do canal que não têm via auxiliar, interrompendo a rota que liga a Ásia e a Europa e provocando uma enorme fila de navios nas duas pontas do canal.
"Apesar de falarmos de região geográfica longe do Brasil, que não é parte de nossas principais rotas comerciais, esperamos impactos indiretos para o país", diz Lucas Leite Marques, sócio do escritório especializado em direito marítimo Kincaid Mendes Vianna Advogados. A interrupção do canal de Suez ampliou os efeitos da pandemia no transporte marítimo em todo o mundo, num momento em que a crise dava sinais de melhora.
Desde o segundo semestre de 2020 o setor tenta resolver problemas gerados pela ruptura nos fluxos de comércio no início da pandemia. Com economias fechadas e rotas marítimas suspensas no primeiro semestre, contêineres e navios ficaram espalhados pelo mundo. O rearranjo foi prejudicado pelo crescimento do comércio de mercadorias e pela elevada demanda por produtos farmacêuticos a partir do segundo semestre.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, diz que ainda não ouviu relatos de impactos da crise sobre empresas brasileiras que dependem do comércio marítimo de cargas. Mas avalia que pode haver atrasos em entregas e prejuízos financeiros decorrentes da paralisação.
"E, num primeiro momento, elevação dos preços do petróleo e dos fretes", diz, esperando que os impactos sejam pontuais. "Quando o fluxo for regularizado, reajusta-se novamente. Para o Brasil (devem ocorrer) apenas atrasos nas estatísticas.", reforça.