Ministro do Meio Ambiente afirma ter encontrado indícios de que verba do Fundo da Amazônia foi desembolsada para órgãos do estado da Bahia em 2014

PT diz que as declarações de Ricardo Salles são ilações e desconhece envolvimento do partido; Governo do Estado não quis se pronunciar sobre o assunto

[Ministro do Meio Ambiente afirma ter encontrado indícios de que verba do Fundo da Amazônia foi desembolsada para órgãos do estado da Bahia em 2014]

FOTO: Antonio Cruz/Agência Brasil

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles insinuou que ONGs ambientais foram utilizadas para financiar campanhas políticas de esquerda e apresentou como indício o fato de verba do Fundo da Amazônia ter sido desembolsada para órgãos do estado da Bahia, em 2014, e do Ceará, em 2016, estados administrados pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e que não fazem parte da região Amazônica. A informação foi divulgada pela revista Veja.

A declaração foi dada pelo titular do Ministério do Meio Ambiente (MMA) na última sexta-feira (17) durante uma coletiva em que divulgou irregularidades em cerca de 30% de um total de 103 contratos firmados nos últimos dez anos do Fundo Amazônia, iniciativa que recebe doações para inibir o desmatamento da região amazônica.

Na ocasião, Salles afirmou que quer melhorar os critérios de contratações e escolha dos projetos do Fundo. Os contratos auditados totalizam cerca de R$ 1,5 bilhão no período, sendo R$ 800 milhões para Organizações Não Governamentais (ONGs).

"Há relatórios de desempenho sem informação, ausência de visitas in loco, prestação de contas sem o respectivo documento e que não corresponde aos relatórios de atividade", relatou o ministro.

A assessoria do PT diz que desconhece qualquer trâmite ou envolvimento do partido sobre o qual o ministro declarou e que as insinuações de Salles não apresentam nada de concreto, já que não citam os contratos, órgãos e pessoas que receberam salários, o que caracterizaria para o partido “ilações de um gestor, que tem procurado narrativas para justificar o combate à agenda da política de preservação ao meio ambiente”. O partido informou também que vai avaliar ainda com sua assessoria jurídica se tomará alguma medida judicial contra o ministro. Já a assessoria do governo da Bahia disse que não vai se pronunciar sobre o assunto.

O Farol da Bahia procurou o Ministério do Meio Ambiente para saber quais órgãos teriam recebido o recurso na Bahia e também a quantia recebida por eles, mas o MMA não se posicionou até o fechamento da reportagem sobre esses questionamentos. O MMA, que é membro do comitê orientador do Fundo Amazônia, disse que encaminhará o documento ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), gestor dos contratos, à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao TCU para a adoção das medidas que entenderem pertinentes.

O que diz o BNDES- Em nota, o BNDES disse que proporcionou amplo acesso a todo material relacionado às atividades do Fundo e encara como natural a decisão da diretoria de Governo e Infraestrutura de afastar a chefe do Departamento de Meio Ambiente da função comissionada que exercia até que se esclareçam as questões levantadas, e frisou que isso “não representa qualquer suspeita específica sobre a conduta dos funcionários do banco”.

O Banco afirmou também que quando for notificado formalmente pelo MMA, vai abrir uma comissão de averiguação interna. E acrescentou que “tem promovido o fortalecimento no controle e acompanhamento do Fundo Amazônia” e deu como exemplo, o compromisso de colocar em serviço “novos sistemas de informação e digitalização, que permitirão maior acesso ao material de suporte aos relatórios relativos ao Fundo”. A Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) ainda não avaliaram a “auditoria” do MMA.

O que dizem os doadores - A Embaixada da Noruega, que é a principal doadora para o Fundo Amazônia (US$ 1,2 bilhão), disse em nota que não foi informada pelo MMA sobre mudanças no programa e nem sobre quais métodos e padrões técnicos utilizou para a avaliação. Segundo a embaixada, o Fundo é “uma das melhores práticas globais de financiamento com fins de conservação e uso sustentável de florestas” e o uso adequado do recurso foi atestado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O Observatório do Clima, que reúne organizações da sociedade civil, afirmou em nota que a fala de Salles é um conjunto de ilações e “alimenta a desconfiança” dos doadores.  Disse ainda que o fundo tem “regras rígidas” e que os financiadores das ações estão satisfeitos com os resultados obtidos.


Comentários