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Motoristas de aplicativos destacam condições degradantes de trabalho e pedem regulação à profissão

Nesta quarta, deputados federais se reúnem com Maia para pedir pauta do projeto de Lei que trata do assunto

Por Juliana Dias
Ás

Motoristas de aplicativos destacam condições degradantes de trabalho e pedem regulação à profissão

Foto: Reprodução

Deputados federais de partidos de oposição ao governo e representantes de trabalhadores de entrega por aplicativo se reuniram nesta terça-feira (15) para pedir que seja pautado o projeto de Lei (PL 1665/2020) que teve o regime de urgência aprovado no dia 5 de agosto, mas ainda não tem previsão para votação no Plenário da Câmara dos Deputados. A líder do Psol na Casa, Sâmia Bomfim, informou ter conseguido uma reunião com o presidente Rodrigo Maia nesta quarta (15), às 10h, para tratar do assunto.

"Estamos pedindo aqui apenas o essencial para poder trabalhar tranquilamente. Poder sair e voltar para casa, saber que se acontecer algo, teremos o mínimo de amparo", disse o entregador Jean, da Bahia. Para ele, é inadmissível a condição as quais eles estão expostos. "Estou cansado de ver os aplicativos iludindo os entregadores, colocando metas impossíveis de serem alcançadas", afirmou. O baiano ainda destacou que o contato deles com as empresas é dificultado, muitas vezes, feito apenas através de máquinas.

Motoristas participantes do encontro destacaram que a condição do trabalho está precarizada e que, cada vez mais, os profissionais têm que trabalhar mais para ganhar menos - o relato foi de que os ganhos desde março caíram entre 40 e 50%. Outro lembrou que é uma profissão de alto risco, em que eles estão expostos a acidentes diariamente sem contar com respaldo das empresas.

Um motorista que se identificou como Ferreira explicou que precisa trabalhar 12 horas por dia para tirar o ganho de um salário mínimo, descontando os gastos que tem. "Nós vamos parar quando melhorias reais forem dadas à nossa classe, do jeito que está, não dá para trabalhar", desabafou.

Renato Fernandes se acidentou fazendo entrega e ressaltou que a empresa o tratou como "um parceiro autônomo" e que, portanto, ele ficou com o ônus do tratamento. Fernandes ponderou que os caminhoneiros, quando fizeram a paralisação, receberam apoio da população, mas que o mesmo não acontece com eles, apesar deles também serem transportadores de pequenas cargas e responsáveis por ajudar quem precisa ficar em casa, especialmente, durante a pandemia. "Dêem o valor que o motoboy merece", pediu.

Outro profissional que responde pelo apelido "sem zueira" lembrou que o desemprego alto no Brasil levou mais gente a procurar esse tipo de emprego, o que deixa as empresas "confortáveis" e faz com que os profissionais tenham que estar ao mesmo tempo conectados em 3 ou 4 aplicativos ao mesmo tempo para conseguir entregas suficientes para fazer valer o dia de trabalho. Ele ainda destacou o custo de manutenção dos veículos, que fica 100% a cargo dos entregadores.
O motorista que se identifica como "véio do Paraná" classificou como "escravidão online" o regime de trabalho a que são submetidos. Ele falou que as plataformas só oferecem seguros para casos extremos e que muitos entregadores sequer sabem desse direito. "O motoboy precisa de um seguro pessoal, ele é assaltado ou sofre um acidente e não recebe nada por isso", registrou.

Os entregadores ainda lembraram do caso do entregador Matheus Pires, vítima de racismo, que teve o crime filmado e por isso conseguiu reverter a situação. Sem o registro, ele teria sido bloqueado pela empresa, por conta da reclamação, e ainda teria sido humilhado pelo cliente. De acordo com os profissionais, situações como essa são comuns e os profissionais é que são penalizados.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) sugeriu que seja criada uma Comissão Especial para discutir os projetos de Lei que tratam a regulação dos trabalhos de entrega por aplicativo. Para ele, é necessário promover um diálogo com os trabalhadores e escolher um relator para o texto que consiga reunir o conjunto de direitos e proteção para a categoria, que, para ele, faz um "trabalho digno e necessário". O deputado destacou que as empresas têm um ganho "abusivo" em cima dos trabalhadores.

Ivan Valente (Psol-SP) definiu como "essenciais" os profissionais de entrega e afirmou que as empresas estão lucrando mais com o momento, sem repassar os ganhos aos profissionais. "A jornada de trabalho aumentou muito, vai de 9 a 16 horas por dia", citou o parlamentar com base em estudos. Para ele, isso se caracteriza como um regime de "superexploração".

Erika Kokay (PT-DF) criticou a publicidade de empresas de entrega que se colocam como "parceiras" da população na pandemia, ocultando que oferecem o serviço ao custo de condições degradantes de seus profissionais. "Amanhã, com o presidente Rodrigo Maia, temos um único assunto: que se paute o PL 1665", destacou. "Contra a precarização do trabalho, da dominação das vidas dos entregadores e reconhecendo a função relevante que eles têm para a sociedade, é que pedimos a aprovação do projeto", finalizou.

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