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No Dia Mundial da Saúde Mental, pesquisador revela como as emoções do brasileiro impactam a violência no trânsito!

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Por Michel Telles
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Atualizado
No Dia Mundial da Saúde Mental, pesquisador revela como as emoções do brasileiro impactam a violência no trânsito!

Foto: Divulgação

No Dia Mundial da Saúde Mental, 10 de outubro, o Brasil ainda se mantém entre os países com o trânsito mais violento e letal do continente e enfrenta um desafio que vai além dos números. Um estudo conduzido por Rodrigo Ramalho, pesquisador e observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), aponta um fator crucial por trás da violência: a saúde mental dos brasileiros.

Rodrigo Ramalho inicia o artigo com dados alarmantes: o Brasil lidera o ranking mundial de ansiedade (9,3% da população, segundo a OMS) e ocupa a última posição no índice de bem-estar mental global. Essa combinação explosiva se reflete diretamente no trânsito, onde, segundo a pesquisa “World Mental Health Day 2024” da Ipsos, o Brasil figura como o quarto país mais estressado do mundo. “Quando analisamos os acidentes causados por fatores humanos, encontramos sempre uma emoção negativa como ponto de partida”, argumenta o pesquisador.

O artigo científico "Violência no trânsito: emoções negativas dos condutores impactam a segurança viária, causam conflitos e afetam a saúde física e mental de toda a sociedade", publicado pelo Observatório, mostra que o trânsito brasileiro se tornou um espelho da nossa saúde mental coletiva, e demonstra que a violência nas ruas não é apenas uma questão de infraestrutura ou fiscalização; é um reflexo direto de como as emoções negativas como ansiedade, raiva e estresse se manifestam em comportamentos de risco, produzindo uma cadeia que vai de infrações a acidentes, passando por conflitos violentos e culminando em sérios impactos na saúde física e mental de todos os envolvidos.

Emoções em rota de colisão com a segurança viária

Sejam emoções básicas (medo e raiva) ou emoções complexas, como ansiedade, depressão e agressividade, todas interferem decisivamente no comportamento dos condutores. A pesquisa detalha como essas emoções negativas impulsionam uma perigosa "cadeia de risco". Um simples congestionamento, ou o medo de se atrasar, geram gatilhos que potencializam sentimentos como raiva, frustração e impaciência, culminando em comportamentos de risco que geram infrações e acidentes.

O estudo explica o porquê, mesmo conhecendo as regras de trânsito e as consequências dos acidentes, flagramos condutores cometendo um festival de imprudências no trânsito brasileiro. “Apesar de os condutores estarem utilizando o ‘cérebro operacional’ para guiar o veículo, nos momentos de tensão, quem conduz é a emoção”, afirma Ramalho.

Brigas de trânsito, uma epidemia no trânsito do Brasil

As consequências do "analfabetismo emocional no trânsito" vão além dos acidentes. O estudo aponta dados alarmantes sobre a violência entre os condutores. Embora faltem estatísticas oficiais no Brasil, uma simples busca no Google revela 353 mil menções a "briga de trânsito". Pesquisas com condutores brasileiros, como a da Real Big Data, mostram que 43% dos entrevistados já tiveram um ataque de fúria no trânsito e 45% presenciaram uma briga, com muitas delas envolvendo armas de fogo. Este desafio não é exclusivo do Brasil: nos Estados Unidos, onde o fenômeno é conhecido como "road rage" (raiva no trânsito), uma pessoa é baleada a cada 18 horas em conflitos no trânsito, segundo o Every Town Gun Safety. Este estudo converge para um apelo contundente para que a sociedade e as autoridades enfrentem as "brigas de trânsito" não apenas como casos isolados, mas como um problema de saúde pública e segurança viária que exige atenção imediata e aprofundada.

Homicídios no trânsito

As brigas de trânsito, que começam com pequenas discussões, têm desfechos fatais. Embora os homicídios resultantes desses conflitos careçam de estatísticas oficiais, Rodrigo Ramalho destaca que o aumento de cerca de um milhão de armas vendidas legalmente nos últimos cinco anos, segundo o Exército Brasileiro, "pode aumentar significativamente a letalidade das brigas de trânsito".

O pesquisador vem colecionando diversos episódios de violência e cita o caso emblemático do motociclista Luan Henrique Bonifácio, assassinado em 5 de março de 2024, após uma discussão no trânsito em São Paulo. O autor do crime foi posteriormente atropelado e morto por vingança, o que, segundo o inquérito policial, foi cometido pelo irmão da vítima. Esta história é uma prova de que a teoria do estudo se confirma na prática, demonstrando que a raiva no trânsito promove um ciclo de destruição: primeiro motivou o homicídio de Luan Bonifácio e depois continuou a ressoar nos familiares com revolta, inconformismo e vingança, culminando em um segundo homicídio.

Emoções em rota de colisão com a saúde física e mental.                            

Rodrigo Ramalho, pesquisador e observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária (Acervo pessoal)

O estudo detalha como o tempo excessivo no trânsito e a exposição constante a emoções negativas impactam profundamente a saúde. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 2023, que entrevistou 2.019 pessoas da população economicamente ativa, aponta que 55% dos entrevistados têm sua qualidade de vida afetada pelo tempo gasto no transporte e 51% afirmam que o trânsito impacta sua produtividade.

Os efeitos negativos são ainda mais devastadores para profissionais do volante: algumas pesquisas mostram que motoristas de ônibus com depressão e ansiedade têm um risco três vezes maior de se envolver em acidentes. Para a saúde física, outros estudos demonstram que 37% deles sofrem de hipertensão; 24% têm síndrome metabólica; e 27,5% vivem em estado de estresse clínico. O cortisol crônico, resultado de horas no trânsito caótico, "literalmente encolhe áreas do cérebro responsáveis pela memória e controle emocional", explica Ramalho.

O resultado do estudo aponta que o excesso de cortisol contribui efetivamente para obesidade, osteoporose, fraqueza muscular, hipertensão arterial, resistência à insulina e diabetes. O cortisol não só redistribui o tecido adiposo para a região abdominal, mas também aumenta o apetite por alimentos calóricos, levando ao ganho de peso. Adicionalmente, altos níveis de cortisol no organismo podem favorecer a Síndrome de Cushing, um distúrbio decorrente da exposição contínua e prolongada a altos níveis de estresse.

Um novo horizonte na educação de trânsito do Brasil

Diante desse cenário, o Observatório e o pesquisador Rodrigo Ramalho propõem uma revolução na forma como encaramos a violência no trânsito. A Educação Emocional no Trânsito (EET) surge como uma metodologia inovadora para quebrar essa cadeia destrutiva. “Não adianta apenas ensinar leis e regras se não ajudamos as pessoas a lidarem com saúde mental no trânsito”, defende Ramalho. 

A EET é um processo de desenvolvimento de habilidades emocionais para todos os usuários das vias, sejam condutores, motociclistas, motoristas profissionais, ciclistas e pedestres. Sua finalidade é clara: contribuir para a prevenção de infrações, sinistros, conflitos violentos e os severos impactos na saúde física e mental. A lacuna na formação de condutores no Brasil é notável. Enquanto aprendemos a dirigir e a respeitar as regras, raramente somos preparados para lidar com nossas emoções negativas, como a raiva, a ansiedade e a impaciência, que se manifestam no trânsito. A metodologia está empenhada em se tornar parte integrante da formação de todos os usuários das vias.

Para saber mais sobre a Educação Emocional no Trânsito, acesse: www.peetransito.com

SOBRE RODRIGO RAMALHO

 

Rodrigo Ramalho é educador, especialista em comportamento humano no trânsito e segurança. Observador do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), autor do livro e conceito de Educação Emocional no Trânsito. Sua pesquisa e trabalho são dedicados a integrar a compreensão do comportamento humano com a segurança e a harmonia no ambiente viário.

SOBRE O OBSERVATÓRIO

 O Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) é uma instituição social sem fins lucrativos, dedicada a desenvolver ações que contribuam efetivamente para a redução dos elevados índices de acidentes e vítimas. O ONSV é responsável por instituir o Movimento Maio Amarelo, com ações no Brasil e no exterior. Acesse: www.onsv.org.br

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