Opinião: MP é benéfica para o Flamengo mas péssima para o povo e equipes menores

Rubro-Negro escolhe agir por conta própria e ignora impacto das ações

[Opinião: MP é benéfica para o Flamengo mas péssima para o povo e equipes menores]

FOTO: Alexandre Vidal/Flamengo

Recentemente, o Flamengo virou notícia no meio virtual, desta vez, não pelo vistoso futebol jogado já algum tempo, mas por bater um recorde na transmissão da partida contra o Boavista ao chegar a mais de 2,2 milhões de espectadores durante a disputa do jogo e posteriormente, totalizando 11 milhões de rubro-negros em frente as telas dos computadores. 

O time da Gávea se apoiou, principalmente na MP 984, que ocasionou em modificações na Lei Pelé, e altera os direitos de transmissão no futebol brasileiro. De acordo com o texto, a negociação dos direitos fica restrita, para cada jogo, aos clubes mandantes. Em outras palavras, uma emissora ou empresa de streaming, para transmitir uma partida, não precisa mais ter vínculo com as duas equipes participantes, negocia diretamente com o mandante do jogo.

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

A medida, aparentemente, pode encher os olhos dos torcedores, por ofertar uma maneira mais acessível e até atrativa para ver o jogo, mas nem tudo é uma maravilha como se imagina. 

O Flamengo faturou R$ 900 mil com a partida contra o Boavista. A arrecadação foi fruto da venda dos "ingressos virtuais" tão comum entre os clubes durante a quarentena, ação pontual com uma cervejaria, exibição de marcas pequenas ao longo do jogo e uma cota pequena das plataformas Youtube e Facebook. No ano passado, o Rubro-Negro faturou pela Rede Globo, detentora da maioria de jogos da equipe aproximadamente R$ 244 milhões. Pelo faturamento em 2019 (R$ 1 bilhão), não teria um impacto tão grave nas finanças do clube, mas e os rivais cariocas e equipes menores?

A richa individual com a Globo, fez a emissora decidir rescindir o contrato que previa direitos de transmissão durante o Campeonato Carioca, mesmo assim, a emissora decidiu seguir com o pagamento prévio dos valores acordados antes em contrato. Porém, caso a rede de televisão decida seguir sem contrato para o ano que vem no Campeonato Carioca, equipes de menor investimento sofrerão para prosseguir as atividades e até disputar a competição, tendo em vista que os canais oficiais não possuem tanto engajamento quanto dos clubes maiores.

Outro fator importante e negativo para boa parte dos torcedores é a falta de acesso à internet. De acordo com a última pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 25% (ou um em cada quatro) dos brasileiros não tem acesso a internet. O Rubro-Negro acertou um contrato com uma plataforma para transmitir a semifinal do Campeonato Carioca neste domingo (5), contra o Volta Redonda, e cobrará R$ 10 para cada torcedor que desejar acompanhar a partida. Obviamente, houve reclamação.

Foto: Reprodução

O torcedor mais humilde, o pobre, o que não tem condições nem de frequentar as novas arenas, que abusam dos valores nos ingressos, não poderá nem saber o tal golaço que o vizinho gritou ao lado, e o pênalti não marcado só poderá ser realmente confirmado pelas próprias vistas depois de um longo tempo. O Flamengo conseguiu transformar até uma simples transmissão de uma partida de um campeonato fraco e nada empolgante em uma questão elitizada.

Como ocorre na Europa a venda dos direitos de transmissão?

No Brasil o direito de transmissão é pertencente ao time de futebol, com mandante e visitante precisando entrar em um consenso. A regra é válida para emissoras que compram os respectivos direitos. Algo oposto se comparado as cinco principais ligas europeias, assim como no mercado português. Nessas ocasiões, os direitos são pertencentes dos mandantes.

Há ainda situações, em que os direitos também são pertencentes a outras entidades. Por exemplo, na La Liga (Espanha) e Série A (Itália), as equipes são obrigadas por lei a ceder os direitos para ligas compostas por eles mesmos. Já na Ligue 1 (França), os direitos são cedidos de forma legal a federação nacional, e posteriormente, ela repassa as equipes.

Foto: Getty Images

Pegamos como exemplo a Premier League, liga de maior arrecadação do mundo do futebol com mídia, e se tornou um produto consumido em todo o mundo e até exemplo de forma de distribuição dos valores pagos.

No Campeonato Inglês, após a venda dos pacotes para emissoras, todo o valor é repartido para os clubes da competição de acordo com regras estabelecidas previamente. Um verdadeiro modelo a ser seguido.

Os direitos de transmissão domésticos são assim divididos:

50% iguais para os clubes da primeira divisão
25% de acordo com a posição na tabela
25% conforme número de partidas transmitidas

Nos direitos de transmissão internacionais:

100% iguais para os clubes da primeira divisão

Será que seria tão complicado se espelhar nesse modelo e, adotá-lo aqui para oferecer um suporte mais adequado para as equipes em más situações financeiras ou aquelas consideradas pequenas no cenário nacional? A arrecadação para os menores seria muito maior do que atualmente, possibilitando-os investir em melhorias (construção de estádio, contratações, reformas estruturais, etc).

Uma modificação poderia ser benéfica até para equipes da segunda divisão. Pegamos como exemplo o Cruzeiro, que já chegou a faturar cifras superiores a R$ 50 milhões na primeira divisão e após a queda para Série B, viu as cotas televisivas caírem para R$ 6 milhões. Isso tudo com o clube afundado em dívidas astronômicas que beiram os R$ 900 milhões.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Não acredito ser benéfica a MP, ao menos não da maneira que foi editada, talvez possa ser boa para equipes com faturamento alto, vide Flamengo, Palmeiras e Grêmio, mas equipes que mal conseguem ter os salários em dia e dependem de mais de 60% das receitas das emissoras para sobreviver, pode ser problemática. É certo que caso não tenham essas receitas, há clubes que precisarão decretar falência e só poderão recomeçar as atividades após reorganizar as finanças.

Podendo se unir aos clubes, tentar entrar em um acordo, e posteriormente conversar com a emissora detentora dos direitos, o Flamengo age de maneira egoísta e só pensa nos próprios resultados financeiros, adotando o tradicional "contra tudo e contra todos". Resta aguardar de que forma se sucederão os novos capítulos do embate entre clube e emissora, e como a torcida, um dos principais responsáveis pelo espetáculo será impactado.

A Ferj conseguiu uma liminar obrigando a Globo a transmitir neste domingo (5) o duelo entre Fluminense e Botafogo, pela semifinal do Campeonato Carioca, porém, ainda é incerto afirmar se uma eventual final também será divulgada.

*Esse texto não reflete a opinião do Farol da Bahia*


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